quarta-feira, 5 de outubro de 2011

RACIOCÍNIO LÓGICO


Em 1977, quando estava no ensino médio, como atividade da disciplina de Literatura, havia a leitura de livros de diversos autores. Naquela época, não bastava ler o livro. Tínhamos que nos sentar ao lado da mesa da professora e ela fazia perguntas sobre a história. Além de que preenchíamos um formulário, chamado Suplemento de Trabalho, que vinha como encarte dentro do livro. Dia desses abri Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e lá estava dentro dele o encarte, amarelado, mas todo preenchido.
Ou seja, tínhamos disciplina de Literatura, líamos livros que seriam úteis anos depois no vestibular, e a leitura de toda forma  nos auxiliava nas outras matérias, como por exemplo, Matemática. Nem todos nós da sala tínhamos total domínio das contas, mas a maioria ia bem. A leitura dos livros fazia com que pensássemos, que imaginássemos as cenas, que construíssemos nossas próprias opiniões, que exercitássemos o raciocínio, tão exigido pela ciência dos números. Na época não havia computador pessoal, não havia televisão a cabo, sequer mais de uma televisão por casa.
Por que estou lembrando isto?
Não é que sou contra a televisão, muito menos o computador. É que dias atrás o Gilberto Dimenstein comentou na CBN que uma pesquisa apontou que 57% dos alunos brasileiros do terceiro ano fundamental não conseguem ler as horas em um relógio digital. Em um relógio digital!!!!! E também não sabem fazer troco. E que se formos para a língua portuguesa, se dermos um texto para essas crianças lerem, não conseguem extrair do texto a idéia principal. Essas crianças vão chegar no ensino médio com uma deficiência que não se recupera mais. E com isso, mais lá na frente,  a cidadania estará definitivamente comprometida. Serão esses adultos que votarão, que decidirão os rumos de uma família, de uma empresa, de um país.
Pode reparar como em quase todos os lares brasileiros há mais de uma televisão.  Informação rápida e mastigada.
Pode reparar que a partir dos chats e MSN os jovens de hoje já não sabem mais escrever direito o português. E com as redes sociais, então, com os relacionamentos se desdobrando apenas no plano virtual, o relacionamento real com o outro está ficando altamente prejudicado. Daqui a pouco vamos dizer que fulano é altamente sociável, mas vamos ter que identificar onde: se é no plano virtual ou no real, ou em ambos?
Pode reparar que hoje uma das maiores preocupações dos professores não é ler os trabalhos dos alunos. É pesquisar na internet para ver se os alunos fizeram o trabalho a partir do “copia” e “cola”. Alguém que não consegue ler algo de uma fonte e escrever o que entendeu, como conseguirá ter capacidade de decisão frente a uma proposta de governo, por exemplo?
Como que alguém que não está acostumado a pensar e tentar compreender  uma idéia,  tem condições de respeitar leis, respeitar o outro ou ter uma opinião acerca dos problemas da sua comunidade?
Como que alguém que não consegue ler um texto e interpretá-lo,  conseguirá usar o raciocínio lógico, e saber fazer a conta de um troco?
E mais, como saberá fazer perguntas, tão necessárias para a nossa evolução?
É preocupante.

Um comentário:

  1. Pois é, eu fico imaginando onde é que tudo isso vai dar.
    Esses dias, o filho de uma amiga precisou fazer um trabalho pro colégio sem usar o computador para formatá-lo e claro, sem o copia-cola.
    Teve muitas dúvidas e a 1ª foi: "Mãe, o que é papel almaço?"

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