terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

O PAPA É HUMANO!

zerohora.licrbs.com.br


Não sou católica, razão pela qual não escrevo movida pela crença.

Ontem ouvi vários comentários sobre a renúncia do papa, e se fosse fazer uma estatística, a maioria das pessoas se disse surpresa com a atitude do pontífice.

Confesso que eu também fiquei, de um ponto de vista: nunca imaginei que um papa fosse agir como um mortal, que tem vontade de mandar parar o bonde pra descer, e não ficar só na vontade.

Bento XVI foi vencido pelo homem Joseph Alois Ratzinger. Que bacana!

Falta muito para a igreja católica trazer o seu papa, os seus cardeais, bispos, e até mesmo os padres, para o plano terreno, onde nós, fiéis seguidores ou não, cumprimos nossa jornada evolutiva. Tudo bem que depois da morte, cada religião acredita numa destinação diferente para a alma, mas uma coisa é certa, neste momento, o que importa é que a alma está aqui, bem pregada no chão. E o rebanho de Pedro também quer olhar para o lado e ver que o guardador é tão humano, tão falível, tão cheio de desejos, de culpas, de alegrias, de tristezas, de dúvidas, de certezas, de dores, tão cheio de tudo que é humano e transitório.

Bento XVI assumiu a sua falibilidade; assumiu sua incapacidade; foi sincero consigo mesmo. Outra coisa muito bacana: ser sincero consigo e abrir mão do que os outros vão pensar. Em nome de ser o que se é, e o que se pode ser.

Não importam as reais razões que levaram o pontífice a pedir as contas: o que valeu foi a coragem de enfrentar o mundo, sem perguntar “Posso?”. Nem precisava: pode sim!

Paulo Leminski, nosso amado e saudoso poeta paranaense, já havia poetado que “isso de a gente querer ser exatamente o que a gente é, ainda vai nos levar além.” E nos leva mesmo!

E ainda, como diria Martha Medeiros, se a gente quer mesmo, a gente “abre a cancela de qualquer fronteira, seja ela geográfica ou emocional”.

O papa, do alto do seu trono, poderia ter dirigido o povo católico (e o mundo, já que a igreja católica pauta muita decisão ainda), mesmo doente, mesmo sofrendo, em nome de manter um papel, manter uma tradição. Mas optou, por, sozinho com Deus, escolher e dizer: não dá mais!

Quem dera Renan Calheiros dissesse o mesmo. O Sarney também, o Hugo Chaves e os irmãos Fidel idem. Mas, para pedir demissão, de qualquer coisa, é preciso coragem. Não coragem, como oposição só à falta de medo. É preciso coragem para se mostrar, para aguentar as críticas, para mostrar o lado humano, que acerta, que erra, e que se aceita e aceita o que está à volta.

Gostei da atitude do Papa. Acredito que ela vá inspirar muita gente que vive de aparência, que vive para os outros, que tem vontade de dar um basta em tanta coisa, mas não tem coragem de se mostrar, de colocar em prática o seu desejo mais íntimo, de dizer “chega, pra mim já deu!”

Fico imaginando agora a leveza que ele deva estar sentido!

É isso aí... a vida não tem bula. 


sábado, 2 de fevereiro de 2013

UFA! QUE SEMANA!



Estou quase chegando à conclusão que somos um país surpreendentemente caridoso e indulgente.

Ontem, saindo da Leroy Merlin, sinaleiro fechado, sou abordada por um moço, no lado do meu carro. Janelas fechadas, eu o ouvia dizer que é aidético, levantou a camiseta para mostrar que não é malandro e não estava armado, que não era um assalto, e que precisava completar um dinheiro para comprar comida para a filha, que não é soropositiva. Moço, jovem, faltando dentes. Sem entrar no mérito de qual poderia ser a história de vida dele, foi  tocante e chocante. Era muito sincero o pedido do rapaz, beirava o desespero, pelo menos foi o que me pareceu. Peguei algumas moedas, nem sei qual a quantia e dei a ele, desejando-lhe sorte. Sinaleiro abriu e pelo retrovisor o vi abordar outro carro, quando o sinaleiro fechou novamente.

Logo em seguida, no supermercado Angeloni, na panificadora, comprei três bolinhos de chuva para comer ali na hora (apenas para enganar o estômago e não comprar o mercado todo), e o troco era de 66 centavos. Ao que o caixa da seção me perguntou se não queria transformá-lo em “troco solidário”, para um lar de vovózinhas. Mal tinha doado umas moedas a um moço jovem, já me vi diante de uma oferta de outra doação de moedas, agora para velhinhas. Acabei não doando, porque já faço dois trabalhos voluntários, um deles enorme, e que acaba beneficiando também o mesmo lar de vovós.

No carro, volto escutando a CBN (como de eterno hábito), e sou obrigada novamente a ouvir sobre a posse do Renan Calheiros na presidência do Senado, mesmo debaixo de denúncias gravíssimas do procurador-geral da República.

O que tem a ver alhos com bugalhos?  O que tem a ver Renan Calheiros com o que escrevi anteriormente?  

Se o que relatei acima tem a ver com caridade, a história do Renan tem a ver com indulgência, duas virtudes que têm limites e dependem de merecimento.

Fora do Brasil devem nos achar o povo mais indulgente do mundo, quando não os mais complacentes e resignados. Os senadores que elegeram o Renan Calheiros não estão nem aí pra todos nós, que votamos neles. E pior é que continuaremos, indulgentemente, votando neles. É muita indulgência sem merecimento!

Some-se a isso, o horror todo de Santa Maria. Iguais àquela casa de shows há inúmeras outras, chiques ou não, nas mesmas condições ou piores, ou sem condição alguma. Tudo em nome de ganhar dinheiro de uma forma fácil e barata. E do nosso lado, clientes, aceitamos pagar por horas de prazer e divertimento a troco de muito pouco. Não sou contra as casas de shows; a crítica é à nossa falta de crítica ao que nos oferecem!

E pode reparar: agora em tudo quanto é cidade as prefeituras apertaram o cerco com os locais públicos. Acharam até teatros famosos no Rio, com peças de elenco renomado, que estavam funcionando sem condições. E se não tivesse havido Santa Maria? Estaria tudo como dantes!

A indulgência insana é tanta que vamos levando a vida assim. Acontece uma tragédia, a gente se comove, começa a ser seletivo nas escolhas de onde se divertir, mas depois caímos no esquecimento. Ganhamos uma banana dos políticos corruptos e ainda votamos neles nas eleições futuras, pois temos memória curta. Pedem-nos dinheiro para subsidiar o atendimento de idosos, quando esses mesmos idosos, muitos deles têm aposentadoria, cujo valor defasou tanto que já não dá para mais nada (embora tenham pago a vida inteira). Um aidético precisa pedir dinheiro na rua para sustentar a família, porque coitado, as empresas ainda são preconceituosas em contratar gente assim. E se há programas do Governo que fornecem medicação para controlar a doença, falta informação a esse pessoal mais carente ou sobra ignorância (de ignorar) mesmo. Quando não, falta medicação nos postos!

E pra completar, subiu a gasolina. Sabe aquela história de querer ficar bem na fita, mas uma hora a máscara cai? Pois foi assim. Não teve jeito de o governo segurar o aumento. Há um bom tempo, a Petrobrás estava tendo prejuízo por arcar com os custos, e não os repassar, para que o governo pudesse “mostrar” que a economia vai muito bem obrigada. Não teve jeito mais, e quem tem ações da estatal ainda pagou o pato – elas caíram. E nós, vamos ver o resultado no supermercado, porque diferentemente do que o ministro Mantega afirma, vai ter reflexo sim. Praticamente 90% dos produtos do supermercado são transportados por rodovias. Haja bolinho de chuva pra não fazer compra com fome e querer levar o mercado todo!

É... já cansamos de ouvir que o Brasil é o país dos contrastes. Pode ser uma frase batida, mas é isso mesmo! O dia que a Educação (com E maiúsculo) nos fizer conscientes de nossos direitos e deveres, talvez possamos viver mesmo a indulgência e a caridade dentro de todos os seus limites e merecimentos.

Que semana!