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Não sou católica, razão pela qual não escrevo movida pela
crença.
Ontem ouvi vários comentários sobre a renúncia do papa, e se
fosse fazer uma estatística, a maioria das pessoas se disse surpresa com a
atitude do pontífice.
Confesso que eu também fiquei, de um ponto de vista: nunca imaginei
que um papa fosse agir como um mortal, que tem vontade de mandar parar o bonde pra
descer, e não ficar só na vontade.
Bento XVI foi vencido pelo homem Joseph Alois Ratzinger. Que
bacana!
Falta muito para a igreja católica trazer o seu papa, os
seus cardeais, bispos, e até mesmo os padres, para o plano terreno, onde nós,
fiéis seguidores ou não, cumprimos nossa jornada evolutiva. Tudo bem que depois
da morte, cada religião acredita numa destinação diferente para a alma, mas uma
coisa é certa, neste momento, o que importa é que a alma está aqui, bem pregada
no chão. E o rebanho de Pedro também quer olhar para o lado e ver que o
guardador é tão humano, tão falível, tão cheio de desejos, de culpas, de
alegrias, de tristezas, de dúvidas, de certezas, de dores, tão cheio de tudo que é humano
e transitório.
Bento XVI assumiu a sua falibilidade; assumiu sua
incapacidade; foi sincero consigo mesmo. Outra coisa muito bacana: ser sincero
consigo e abrir mão do que os outros vão pensar. Em nome de ser o que se é, e o
que se pode ser.
Não importam as reais razões que levaram o pontífice a pedir
as contas: o que valeu foi a coragem de enfrentar o mundo, sem perguntar “Posso?”.
Nem precisava: pode sim!
Paulo Leminski, nosso amado e saudoso poeta paranaense, já
havia poetado que “isso de a gente querer ser exatamente o que a gente é, ainda
vai nos levar além.” E nos leva mesmo!
E ainda, como diria Martha Medeiros, se a gente quer mesmo,
a gente “abre a cancela de qualquer fronteira, seja ela geográfica ou emocional”.
O papa, do alto do seu trono, poderia ter dirigido o povo
católico (e o mundo, já que a igreja católica pauta muita decisão ainda), mesmo
doente, mesmo sofrendo, em nome de manter um papel, manter uma tradição. Mas
optou, por, sozinho com Deus, escolher e dizer: não dá mais!
Quem dera Renan Calheiros dissesse o mesmo. O Sarney também,
o Hugo Chaves e os irmãos Fidel idem. Mas, para pedir demissão, de qualquer coisa, é preciso coragem. Não coragem, como oposição só à falta de medo. É preciso coragem
para se mostrar, para aguentar as críticas, para mostrar o lado humano, que
acerta, que erra, e que se aceita e aceita o que está à volta.
Gostei da atitude do Papa. Acredito que ela vá inspirar muita
gente que vive de aparência, que vive para os outros, que tem vontade de dar um
basta em tanta coisa, mas não tem coragem de se mostrar, de colocar em prática
o seu desejo mais íntimo, de dizer “chega, pra mim já deu!”
Fico imaginando agora a leveza que ele deva estar sentido!
É isso aí... a vida não tem bula.