domingo, 30 de setembro de 2012

A IMPORTÂNCIA DE UM NOVO OLHAR

Museu Histórico de Jataizinho-PR

A vida é feita de mudanças de paradigmas. Se assim não for, a gente passa pela vida sem realmente viver. Sem crescer, sem aprender, sem apreender, sem raciocinar, nem fazer diferente. E é o diferente que move o mundo.

Tantas vezes fiz receitas que usam leite condensado, tantas vezes testei várias marcas, e na maioria delas, venceu o Leite Moça. Queijadinha, então, só com Leite Moça pra ficar uma gostosura. Sei disso, porque dei o direito, às outras marcas, de me mostrarem que funcionavam igual ou melhor, mas não funcionaram. Eu poderia parar por aí, e sumarizar: só Leite Moça mesmo, de todos os leites condensados. Que nada! Por causa de uma oferta de Leite Mococa (que já usei várias vezes), acabei   substituindo o Leite Moça na receita de sorvete de côco, e para minha grata surpresa, ficou melhor que com o Leite Moça. Puxa! Como fiquei contente em ter ousado mudar, ter ousado correr o risco de não ficar tão bom!

Fiquei pensando que a gente não pode, de modo algum, ser radical.  Imaginar que um pequeno não possa ser tão eficiente quanto um grande. Claro que conta, e muito, a minha experiência de vida, os anos vividos. A passagem do tempo nos dá a liberdade de mudar, de escolher, sem muita influência dos outros. A gente vai vendo que o que importa é o que a gente pensa, o que a gente escolhe, o que a gente prova, o que a gente quer. Até porque, no final das contas, os acertos serão com a nossa consciência e não com a consciência do outro. E a mudança de paradigma entra justamente aí.  Optar por novas experiências. E não é que pode dar certo?

Nesta última semana, nas manhãs de quinta e sexta-feira, fiz dois passeios maravilhosos, a convite do Museu Histórico de Londrina (que frequento e amo de paixão), por ocasião da 6ª Primavera de Museus. Foi o 1º passeio organizado pelo Museu, nesse evento que é nacional.

Há quem diga que museu é coisa pra velho. (hehe) Eu respondo: museu é um lugar atualíssimo. Basta citarmos o Museu da Língua Portuguesa em São Paulo ou o Museu Oscar Niemeyer em Curitiba. É onde a gente encontra as nossas origens, onde nos situamos no mundo e no tempo, onde tomamos consciência de onde viemos e como estamos evoluindo. Os museus guardam as nossas raízes. E as raízes nos individualizam e nos coletivizam ao mesmo tempo.

E, voltando para os paradigmas, engana-se quem pensa que cidades muito pequenas, como Cambé,  Ibiporã e Jataizinho, não possam abrigar museus muito bonitos e com pessoas muito acolhedoras à sua frente, com cultura e conhecimento da nossa história.

Na quinta-feira fomos ao Museu da Sociedade Rural do Paraná (dentro do Parque de Exposições Ney Braga), em Londrina, e no Museu Histórico de Cambé (dentro de um conjunto cultural portentoso). Na sexta-feira fomos ao Museu de Artes de Londrina (antiga rodoviária), ao Museu do Café em Ibiporã (parte de um conjunto de edificações antigas da estação ferroviária), e ao Museu Histórico de Jataizinho (uma casa antiga, de madeira, linda!).

Particularmente, os museus de Ibiporã e Jataizinho têm muito de minha vida familiar. No de Ibiporã voltei ao tempo em que morava em vila ferroviária, pela profissão de meu pai, quando a ferrovia transportava as safras de café. Isso antes da ferrovia ser vencida pelas empreiteiras e suas estradas de rodagem. Nosso país anda na contramão da história de países desenvolvidos,  em termos de transporte. Bem... isso seria uma outra postagem. (hehe)

No museu de Jataizinho vi minha infância, no meio de tantos painéis e objetos de pioneiros. É que meus avós maternos vieram do estado de São Paulo, como várias outras famílias, atraídas pelas histórias do desbravamento de novas e férteis terras, pela Companhia de Terras Norte do Paraná (dos ingleses), e escolheram Jataizinho para se estabelecerem. Vi meus parentes em fotos no museu, e nesse momento o museu me individualizou neste mundo. (hehe) Foi uma emoção ímpar!

Onde está o paradigma? Volto a dizer: não precisamos ir a uma cidade grande para visitar um museu. Não precisamos gastar nada pra ver a nossa história, para adquirirmos conhecimento e cultura. Não imaginamos como há pessoas preparadas para nos receber nesses museus. As pessoas não imaginam o quanto os dirigentes desses museus pequeninos, em cidades pequeninas, são tão atentos, tão sedentos de nos contar e nos situar na história (na nossa história), num país, muitas vezes, se mostrando desmemoriado. Num país cuja população vai votar, daqui a uma semana, e passado nem um ano, não vai se lembrar em quem votou.

A gente precisa, sempre, mudar de paradigmas. Precisa, sempre, experimentar mudar de leite condensado.

Museu do Café - Ibiporã-PR

domingo, 9 de setembro de 2012

NOVO LIVRO DO CARPINEJAR

A capa!

Fabrício Carpinejar concedeu uma entrevista para a Tania Morales, hoje, no Revista CBN, sobre o seu novo livro: "Ai Meu Deus, Ai Meu Jesus".

O Fabrício de sempre: inteligente, bem humorado, irreverente e imperdível. 

Ouça:



quarta-feira, 5 de setembro de 2012

"HERANÇA DE MARIA"

A belíssima capa do belíssimo livro.

Ganhei de presente de meus pais o último livro do Domingos Pellegrini – “Herança de Maria”, dias atrás, quando eu retornava de Curitiba.

Se há uma coisa que agradeço a eles, nesta e nas próximas encarnações, é o fato de eles terem me incentivado à leitura, desde os primeiros dias de escola, com os livros de histórias infantis, comprados de livreiros (mascates) que vinham vender na porta de casa, e morando em uma cidade tão pequena que nem existe no mapa. No meio do mato mesmo! (hehe)

Penso que o gosto pela leitura substitui, em parte, a impossibilidade de viajar; permite-nos voltar no tempo, ao encontrarmos nossas lembranças nas obras, ainda mais se o escritor for nosso contemporâneo; abre nossa mente para o diferente, ajudando-nos a quebrar paradigmas e preconceitos; faz-nos companheiros de nós mesmos (se não nos aguentarmos lendo um livro, é melhor procurarmos um psicólogo); irmana-nos em gostos e pensamentos a milhões de pessoas que estão a ler o mesmo livro; transforma-nos em agentes de conhecimento; faz-nos privilegiados, uma vez que muita gente sequer tem disponibilidade para uma leitura, seja por doença, por dificuldade de ordem financeira, de ordem moral, de tempo, de cabeça, de entendimento, ou sei lá o que.

Pois, neste momento, encaixo-me em muitas das situações que coloquei acima, e destacadamente por estar lendo outra obra de meu conterrâneo e contemporâneo. Sim, Domingos Pellegrini é um “pé-vermelho”, como eu!

Quando li “Terra Vermelha”, dele também, fiquei na dúvida se tirava ou não do topo, outro livro que elegi como o que mais gostei até hoje – “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel García Márquez.

“Cem Anos” ocupou, por muitos anos, lugar de destaque na minha sala, como um objeto de estimação: eu o lera três vezes.  E, com ele, elegi também um dos tipos de livros que mais gosto de ler: os que falam de sagas de família. Os que contam histórias de gente que casa, que descasa, que briga, que faz as pazes, que muda de cidade, que lida com os mais variados tipos de sentimentos, que enfrenta todo e qualquer tipo de alegria e de tristeza, por gerações e gerações. É que gosto de me ver, e de ver minha família, nas outras famílias. As repetições, as lições, os porquês de sermos de um jeito e não de outro, os “espelhos”. Gosto de entrar na história e deixar que a história também tome conta da minha, com todos os “fantasmas” dos personagens passando uns dias na minha casa. (hehe)

“Terra Vermelha” levou-me aos meus avós, ao meu passado, que como os avós do Pellegrini, trilharam caminhos muito parecidos. A vinda do Estado de São Paulo, passando pelo rio Tibagi, os carregamentos de toras em carroças (tive um tio que morreu em um desses carregamentos), muita barreira (de barro mesmo!), muita luta, muito trabalho a fazer, e trabalho que deixou marcas na vida da minha família, tanto boas, quanto ruins. Falo pela minha irmã e por mim: a garra do povo do norte do Paraná fez diferença nas nossas vidas. Se crescemos profissionalmente, por exemplo, é porque tem muito das histórias que o Pellegrini conta em seus livros, na nossa vida.

No “Herança de Maria” não é diferente. O escritor conta a história de sua mãe, narrando as lembranças que tem e que agora "vê" projetadas na parede do quarto dela. Lembranças essas acompanhadas de "cobranças", ele sentado em um banco ao lado da cama onde o corpo da mãe vegeta, no leito de morte.  E essas histórias, além de me levarem à casa dos avós novamente,  levaram-me à casa de meus pais, eles, em vários aspectos, muito parecidos com os pais do autor.  Uma mãe que queria dar conta de muita coisa da nossa vida e do marido. E um pai que deixou as "rédeas" da casa por conta dessa mãe, e que depois de velho não sabe mais lidar com a "carroça desgovernada". Mas também, não sabe se quer mesmo! (hehe)

E mais: saindo do campo familiar, Domingos Pellegrini conta como eram as reuniões quando se engajou tanto na política estudantil, quanto nos “quadros revolucionários” que “lutavam” por um país “livre da opressão e da miséria”, e que nos dão a medida certa de quão utópicos, hipócritas e oportunistas são o comunismo e os partidos dele oriundos (formados pelos companheiros “da causa”). Imperdível! Uma aula de História e de Brasil!

Estou a um terço do final do livro, embora tenha começado a lê-lo há 15 dias. Também... parando pra destacar trechos, pra rir, pra chorar, pra reler e meditar sobre as falas, pra tomar um fôlego dos “fantasmas” todos na minha casa. (hehe). Mas de uma coisa já tenho certeza: vou terminar o livro e vou relê-lo. Talvez não todo, mas os trechos que destaquei justamente com essa finalidade.

Um monte de gente cabe nas histórias do Pellegrini. Um monte. Só por isso já vale a pena ler seus livros, tão cheios de vida, tão cheios de gente com vida!