quarta-feira, 5 de setembro de 2012

"HERANÇA DE MARIA"

A belíssima capa do belíssimo livro.

Ganhei de presente de meus pais o último livro do Domingos Pellegrini – “Herança de Maria”, dias atrás, quando eu retornava de Curitiba.

Se há uma coisa que agradeço a eles, nesta e nas próximas encarnações, é o fato de eles terem me incentivado à leitura, desde os primeiros dias de escola, com os livros de histórias infantis, comprados de livreiros (mascates) que vinham vender na porta de casa, e morando em uma cidade tão pequena que nem existe no mapa. No meio do mato mesmo! (hehe)

Penso que o gosto pela leitura substitui, em parte, a impossibilidade de viajar; permite-nos voltar no tempo, ao encontrarmos nossas lembranças nas obras, ainda mais se o escritor for nosso contemporâneo; abre nossa mente para o diferente, ajudando-nos a quebrar paradigmas e preconceitos; faz-nos companheiros de nós mesmos (se não nos aguentarmos lendo um livro, é melhor procurarmos um psicólogo); irmana-nos em gostos e pensamentos a milhões de pessoas que estão a ler o mesmo livro; transforma-nos em agentes de conhecimento; faz-nos privilegiados, uma vez que muita gente sequer tem disponibilidade para uma leitura, seja por doença, por dificuldade de ordem financeira, de ordem moral, de tempo, de cabeça, de entendimento, ou sei lá o que.

Pois, neste momento, encaixo-me em muitas das situações que coloquei acima, e destacadamente por estar lendo outra obra de meu conterrâneo e contemporâneo. Sim, Domingos Pellegrini é um “pé-vermelho”, como eu!

Quando li “Terra Vermelha”, dele também, fiquei na dúvida se tirava ou não do topo, outro livro que elegi como o que mais gostei até hoje – “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel García Márquez.

“Cem Anos” ocupou, por muitos anos, lugar de destaque na minha sala, como um objeto de estimação: eu o lera três vezes.  E, com ele, elegi também um dos tipos de livros que mais gosto de ler: os que falam de sagas de família. Os que contam histórias de gente que casa, que descasa, que briga, que faz as pazes, que muda de cidade, que lida com os mais variados tipos de sentimentos, que enfrenta todo e qualquer tipo de alegria e de tristeza, por gerações e gerações. É que gosto de me ver, e de ver minha família, nas outras famílias. As repetições, as lições, os porquês de sermos de um jeito e não de outro, os “espelhos”. Gosto de entrar na história e deixar que a história também tome conta da minha, com todos os “fantasmas” dos personagens passando uns dias na minha casa. (hehe)

“Terra Vermelha” levou-me aos meus avós, ao meu passado, que como os avós do Pellegrini, trilharam caminhos muito parecidos. A vinda do Estado de São Paulo, passando pelo rio Tibagi, os carregamentos de toras em carroças (tive um tio que morreu em um desses carregamentos), muita barreira (de barro mesmo!), muita luta, muito trabalho a fazer, e trabalho que deixou marcas na vida da minha família, tanto boas, quanto ruins. Falo pela minha irmã e por mim: a garra do povo do norte do Paraná fez diferença nas nossas vidas. Se crescemos profissionalmente, por exemplo, é porque tem muito das histórias que o Pellegrini conta em seus livros, na nossa vida.

No “Herança de Maria” não é diferente. O escritor conta a história de sua mãe, narrando as lembranças que tem e que agora "vê" projetadas na parede do quarto dela. Lembranças essas acompanhadas de "cobranças", ele sentado em um banco ao lado da cama onde o corpo da mãe vegeta, no leito de morte.  E essas histórias, além de me levarem à casa dos avós novamente,  levaram-me à casa de meus pais, eles, em vários aspectos, muito parecidos com os pais do autor.  Uma mãe que queria dar conta de muita coisa da nossa vida e do marido. E um pai que deixou as "rédeas" da casa por conta dessa mãe, e que depois de velho não sabe mais lidar com a "carroça desgovernada". Mas também, não sabe se quer mesmo! (hehe)

E mais: saindo do campo familiar, Domingos Pellegrini conta como eram as reuniões quando se engajou tanto na política estudantil, quanto nos “quadros revolucionários” que “lutavam” por um país “livre da opressão e da miséria”, e que nos dão a medida certa de quão utópicos, hipócritas e oportunistas são o comunismo e os partidos dele oriundos (formados pelos companheiros “da causa”). Imperdível! Uma aula de História e de Brasil!

Estou a um terço do final do livro, embora tenha começado a lê-lo há 15 dias. Também... parando pra destacar trechos, pra rir, pra chorar, pra reler e meditar sobre as falas, pra tomar um fôlego dos “fantasmas” todos na minha casa. (hehe). Mas de uma coisa já tenho certeza: vou terminar o livro e vou relê-lo. Talvez não todo, mas os trechos que destaquei justamente com essa finalidade.

Um monte de gente cabe nas histórias do Pellegrini. Um monte. Só por isso já vale a pena ler seus livros, tão cheios de vida, tão cheios de gente com vida!

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