domingo, 29 de julho de 2012

O PIOR LUTO


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Tenho uma amiga que, depois do término do relacionamento, me diz, pesarosa: “o que eu mais gostaria é de voltar a ser como eu era, antes de ter conhecido o fulano.”  De tudo, de tudo o que sobrou, esse é o tamanho, o sentido da sua dor, da sua perda, do seu luto.

Quem já não procurou por si mesmo, depois de um término de um namoro ou de um casamento, principalmente quando saiu ainda gostando do outro? Eu já, razão pela qual entendo perfeitamente minha amiga, palavra por palavra.

Como é difícil a gente catar os cacos, pra tentar ajuntar e voltar a ser o mesmo vaso de antes?  Como se a vida antes do nosso amor fosse melhor. Até poderia ser mesmo!  Mas poderia não ser! Mas é a nossa referência pra tentarmos entrar nos eixos novamente. A ruptura de um relacionamento, de um encontro  que não vingou, de um amor impossível, de uma união que desejávamos manter e não conseguimos, nos tira do centro, do prumo, nos perde de nós mesmos, quando não, ainda fica gravada ad-aeternum, encarnações a fio.

Como é difícil lidar com o  luto amoroso! Talvez mais do que o luto por morte física de um ente amado. Falo do luto pela perda de alguém que continua vivinho da silva.

Não sou a melhor pessoa pra comparar esses dois tipos de luto, pois ainda não perdi meus pais, nem irmãos, nem ninguém próximo mais próximo de mim, por morte física. Dizem que perder um filho é a pior dor que existe. É a pior saudade que dá na gente. Só que, eu como espírita, penso ser mais fácil aceitar a morte física, que afinal de contas é somente física mesmo, porque a pessoa, a sua essência, o seu espírito, só muda de lugar, de plano. Mas o luto pela perda de alguém que a gente ama, e que não pode mais ficar junto dela, pelo simples motivo de que ela não nos ama mais, é muito dolorido por demais. Mistura fracasso, raiva, amor, um monte de questionamentos a nós mesmos, ao outro, ao mundo! Mistura orgulho ferido, autoestima, desejo de revide, e até alívio, pois acontecem os momentos em que  nos pegamos aceitando a separação e nos imaginando livres, leves e soltos, para um novo amor.

Quer pior coisa que andar pela cidade sabendo que o “falecido” respira o mesmo ar nosso e levanta de manhã sem o nosso bom dia e está tudo bem (pra ele)? Que está beijando ou vai beijar outra, vai transar com outra, vai falar palavras carinhosas para outra, vai se importar com outra, vai nos esquecer ou já nos esqueceu? Quer pior luto que esse? Se estivesse morto, fisicamente, nosso desejo de posse estaria resolvido: não é nosso, mas não é de mais ninguém também! Ou vai me dizer que não tem posse no amor? No estágio em que nos achamos aqui na Terra, ainda vai demorar muito pra amarmos o outro a tal ponto de não nos importarmos se ele está com outra e não conosco. (hehe)

Já uma vez morto, estamos livres, imediatamente, pra outro relacionamento. Não tem volta mais. Vai ter o luto, vai! Mas há a certeza absoluta de que não há volta (pelo menos nesta encarnação). (hehe)

Agora, o luto por um vivo pode durar um tempão! Mente quem diz que não tem esperança da volta, esperança do fulano repensar e descobrir que também não está conseguindo ficar longe da gente. Só que isso pode durar meses, anos, pelo simples fato dele estar vivo, e nós também (e pior que isso, estarmos esperançosas). A esperança é algo que todos temos que ter, e não temos sequer o direito de tirá-la de nós, muito menos dos outros. Mas,  às vezes, ela é masoquista, pelo simples fato de imaginarmos a volta de quem não vai voltar mais! O desejo é outro vilão: faz-nos felizes, mas também empata-nos a vida, quando ele quer. Daí só mesmo o Analista pra ajudar a entendê-lo. (hehe)

Não tem como fugir do luto da perda de um vivo; nem o mortal mais analisado do planeta consegue fugir dele. Mas uma vez cumprido, uma vez passado por ele, de certa maneira voltamos mesmo a ser o que éramos antes de ter conhecido o "objeto" do nosso luto. É engraçado, mas parece que a vida deslancha, voltamos a fazer coisas que havíamos abandonado, como sair com os amigos, curtir as nossas coisas sem precisar da aprovação dele, nossa autoestima volta aos níveis normais, as coisas deslancham, os trabalhos fluem, e nos pegamos até nos perguntando “como que eu fiquei numa nuvem tão negra todo esse tempo?!”.

É... amar é assim. Um dia estamos vestidas de rosa, outro dia vestidas de preto. Penso que chegaremos um dia, na nossa evolução, a usar o preto, mas por pouco tempo. Dizem mesmo que a gente cresce como pessoa na medida em que conseguimos diminuir nossos momentos de luto. Acabar com eles será impossível, pois eles têm a sua função e que é muito digna: por vezes precisamos da dor para aprender. Mas penso que ainda vamos aprender sem precisar da dor, só do amor.




segunda-feira, 9 de julho de 2012

A (R)EVOLUÇÃO NO AMOR


claudinegomes.blogspot.com


Como fazemos mudanças na vida quando estamos amando! O outro funciona como espelho, e ocupa o que de melhor temos: a atenção. Percebemos cada gesto, cada atitude, cada opinião, cada palavra.

Queremos nos tornar não graduados, mas doutores na outra pessoa. A nossa opinião começa, quando não a ficar misturada, pelo menos parecida com a do amado. O que pensamos diferente até continuamos a pensar, mas já colocamos alguma dúvida, algum senão, alguma pimenta, algum gosto diferente, um algo mais. É que um amor nos liberta e a primeira coisa que ganha asas é a nossa mente. Mais leve, mais solta, mais receptiva, porque mais alegre. A alegria nos deixa abertos ao novo. A tristeza nos coloca um véu, nos amarra, nos aprisiona em nós mesmos.

O que o amor nos traz de bom é aceitarmos, por exemplo, mudar uma opinião enraizada, por outra vinda de quem elegemos partilhar intimamente da nossa vida. Bem... pra termos chegado a escolhê-lo, dentre todos os outros seres humanos viventes no planeta, a opinião dele acaba valendo tanto quanto a nossa. Se a opinião do seu amado não vale, ou a sua não vale um tiquinho pra ele, desculpe-me, mas não é amor!

Amor de verdade não é competitivo. No máximo, diante de uma situação de competição, fica feliz se o outro vence. É como se vencesse por ele. É que amor com “A” maiúsculo tem o sentimento de orgulho grudado nele. Não de orgulho, sentimento ruim, mas de reconhecimento do outro. A gente tem orgulho de quem a gente ama. A gente enche o peito pra falar dele. Se não o fizer, tem alguma coisa errada.

Amor é coisa séria. De repente o sujeito entra na vida da gente, conquista a nossa alma, o nosso corpo, compartilha de nossos sonhos, ideias,  problemas, ocupa  o cérebro e o coração ao mesmo tempo. Quer mais sério que isso? Mais do que uma atividade profissional.

Na empresa a gente entra em determinada hora, terminado o expediente a gente vai embora e, teoricamente, o nosso compromisso com a empresa acabou aí. E ainda somos remunerados. Com um amor não. Ele acorda com a gente, vai com a gente pra empresa, vai dormir com a gente, habita os mesmos sonhos da gente, ocupa um território permanente. E num movimento não necessariamente físico, mas necessariamente mental. Com  remuneração nenhuma,  enfrenta  todo tipo de adversidade, advinda do mundo externo, e pior ainda, do nosso mundo interno.

E  lá tem um dia que acaba. Sim, como tudo nessa vida, também tem o seu final. Tem o seu tempo de dar certo. Se no final de um amor, mantivermos no nosso cotidiano o que aprendemos de bom com ele, esse amor, sim, pode ser considerado um amor que valeu a pena. E é engraçado: tem gente que diz que quer esquecer, que nem quer ouvir falar mais do fulano ou de amor, que perdeu tempo, que não consegue enxergar o que de bom ficou, mas repete em sua vida modos adquiridos do ex-amado. (hehe)

Pode ser que não tenha ficado nada mesmo, não tenha valido a pena mesmo, mas  uma coisa é certa: a gente nunca pode menosprezar a nossa capacidade de amar, nem que tenha sido por quem não valeu a pena. Triste seria se não conseguíssemos nem  amar assim.

Sabe... de cada amor que tive, aprendi algo. Teve até o que achei que quase desaprendi, não fosse eu ter me salvo a tempo. (hehe

Brincadeiras à parte, alguma coisa de bom todos me deixaram, mesmo os que, ao final, eu tenha jurado que “igual a esse, não quero outro nunca mais!” É que a palavra “nunca” é muito forte em se tratando de amor. Quando a gente vê, já está fazendo o que jurou nunca mais fazer.

Um amor, se nada mudar na nossa vida, não pode ser considerado amor.