segunda-feira, 30 de abril de 2012

UM DECÁLOGO PARA A PAZ


Lago Igapó - Londrina - PR

Ângelo Giuseppe Roncalli foi eleito Papa João XXIII aos 77 anos e seu papado diferenciou-se por ele defender que a igreja católica se posicionasse sobre questões sociais, políticas e econômicas, e não ficasse enclausurada nos seus dogmas, dado que as pessoas buscam respostas aos seus questionamentos reais nas religiões. Diferenciou-se dos demais papas, também, por defender, por escrito, que cada um tem o direito de escolher a religião que melhor lhe aprouver. Para sua época foi uma novidade e uma evolução enormes, mas que foram bem recebidas. 

Em 1960 publicou dez princípios que ficaram conhecidos como "O Decálogo da Serenidade", e que se resumem em condutas para o homem que busca viver em paz. E, realmente, ele foi um papa ecumênico, pois a sua publicação cabe em qualquer religião baseada em princípios cristãos.

São eles:

(abre aspas)

1.  Procurarei viver pensando apenas no dia de hoje, exclusivamente neste dia, sem querer resolver todos os problemas da minha vida de uma só vez.

2.  Hoje, apenas hoje, procurarei ter o máximo cuidado na minha convivência; cortês nas minhas maneiras, a ninguém criticarei, nem pretenderei melhorar ou corrigir à força ninguém, senão a mim mesmo.

3.  Hoje, apenas hoje, serei feliz, na certeza de que fui criado para a felicidade, não só no outro Mundo, mas também já neste.

4. Hoje, apenas hoje, adaptar­-me-ei às circunstâncias, sem pretender que sejam todas as circunstâncias a se adaptarem aos meus desejos.

5.  Hoje, apenas hoje, dedicarei dez minutos do meu tempo a uma boa leitura, recordando que, assim como o alimento é necessário para a vida do corpo, assim a boa leitura é necessária para a vida da alma.

6.   Hoje, apenas hoje, farei uma boa ação e não direi a ninguém.

7.   Hoje, apenas hoje, farei ao menos uma coisa que me custe fazer, e se me sentir ofendido nos meus sentimentos, procurarei que ninguém o saiba.

8.  Hoje, apenas hoje, executarei um programa pormenorizado. Talvez não o cumpra perfeitamente, mas ao menos escrevê-lo-ei. E fugirei de dois males: a pressa e a indecisão.

9. Hoje, apenas hoje, acreditarei firmemente, embora as circunstâncias mostrem o contrário, que a Providência de Deus se ocupa de mim como se não existisse mais ninguém no Mundo.

10. Hoje, apenas hoje, não terei nenhum temor. De modo especial não terei medo de gozar o que é belo e de crer na bondade.

(fecha aspas)

Dos dez princípios acho que o que resolveria todos os outros seria se conseguíssemos vencer o de número 8. 

Se naquela época Ângelo Roncalli nos advertia da "pressa e a da indecisão", imagina hoje! Tomar decisões já é difícil; na pressa, então! Só que é justamente assim que temos vivido: em tempos de pressa e decisões tomadas muito rapidamente e em nome de um monte de coisas. Em nome da competição no trabalho, em nome da carreira, em nome da cobrança da família, em nome da nossa cobrança interna, da sociedade e principalmente da tecnologia, que quanto mais rápido melhor. Ou seja, hoje o que é lento é considerado ultrapassado, porque vai nos tomar tempo.  Qual tempo? O que gastaríamos viajando, brincando com os filhos, assistindo a um filme comendo pipocas ou indo à casa do amigo para matar a saudade? Que nada! Não é assim! Temos pressa pra poder trabalhar mais, ganhar mais dinheiro, gastar mais dinheiro, e pagar a conta dos remédios da farmácia. (hehe)

Conte pra alguém que o seu computador foi adquirido há três anos atrás; conte pra alguém que o seu celular não tem câmera; conte pra alguém que o seu aparelho de som não toca mp3; conte pra alguém que você gosta de estourar pipocas na panela e de aproveitar para fazer pipoca doce; conte pra alguém que você gosta de cozinhar; conte pra alguém que você cultiva flores; conte pra alguém que você revê fotos antigas ou que se deita no sofá, à luz de um abajur, só pra ficar no silêncio ou ouvir sua música favorita ou pra pensar na vida. Não tenha dúvida: em algumas dessas situações você parecerá uma pessoa, no mínimo, antiquada. (hehe) E pode notar que todas essas coisas nos remetem a não ter pressa!

É... na década de 60 o espírito de Ângelo Roncalli parecia já saber do que os seus contemporâneos e os futuros habitantes deste planeta precisariam meio século mais tarde. Um decálogo para tentar colocar a paz no nosso caminho. Está aí, e é atualíssimo.


domingo, 22 de abril de 2012

COBRANÇAS


Marcel Van Oosten - squiver.com

Como a gente cobra muito, mas muito, de quem a gente ama!

E cobramos mais ainda se quem a gente ama nem se dá conta do quanto lhe amamos. Da mesma forma, quando nem nós nos damos conta do quanto amamos o alvo das nossas exigências. E que, não raras vezes, estamos exigindo justamente por não conseguirmos lidar com o sentimento do amor dentro de nós.

Fora que nós, não raras vezes também, matamos um sentimento não correspondido, com as cobranças que fazemos do outro, pra no fundo, no fundo, confirmarmos que estamos “certos”: “ - Ele não serve pra mim!” Bem... não é que não serve; não nos ama, só isso! Nós é que estamos arrumando um jeitinho de matá-lo em vida, dentro de nós.

Num amor impossível, então, quando ambos se gostam, mas por qualquer motivo não podem ficar juntos, as cobranças tendem a ficarem maiores. A gente não está acostumada a amar por amar, e pronto! Só mesmo sendo muito espiritualizado ou analisado pra não cobrar retorno.

De outra forma, como a gente aceita passar, incólumes, opiniões contrárias à nossas, vindas de um outro que não o nosso companheiro! A gente até discute, mas não leva pra casa. Já com o companheiro.... Hummmmm.... Uma vez que ele sai fora do script que nós montamos na nossa cabeça, baseado no que achamos que ele deva ser ou do que o enxergamos, os questionamentos começam! Aí acontecem as famosas DRs (Discussões de Relacionamento), que, muitas vezes, seriam somente uma questão de revermos nossos pontos de vista e não de querermos mudar o do outro.

Como seria bom se a gente ouvisse algo do nosso amado, discordasse (se não pensasse mesmo como ele), mas ao invés de cobrá-lo, com um sorriso disséssemos apenas: “- Você pensa diferente nisto, e tudo bem!” O que a gente faz depois com a diferença é outra história – se é um ponto de vista crucial pra continuidade do relacionamento, aí valeria a pena gastar energia em cobrar, mas só que cobrar da gente, nos questionando o porquê de continuarmos numa situação assim. Se não, deixa pra lá, até porque o outro já sabe o nosso posicionamento, e certamente vai pensar sobre. Contudo, já reparei, a gente fica emburrada, “desmancha a casinha” dentro da gente, faz picuinha, justifica que o fulano não serve pra gente, só porque não concorda conosco. E quantas e quantas vezes nós é que estamos erradas!

É que, na realidade, repara bem... por detrás de muita bronca que possamos ter de uma pessoa, pode haver um amor, ou algo mal resolvido, com a gente mesmo ou com o nosso alvo. Os psicólogos são experts em nos perguntar por que a gente se incomoda com fulano? Ou mudando a pergunta: por que fulano lhe incomoda tanto? (hehe) Porque no fundo, se trata de desejo e dribrá-lo  é muito difícil. Só falando dele pra gente se libertar. Quando cobro demais do meu amor, estou cobrando que ele tenha os mesmos desejos meus, e isso é impossível, uma vez que somos únicos, indivíduos. No máximo nos ligamos a pessoas afins, mas daí a sermos iguais, cobrarmos igualdade de pensamentos, é eternamente impossível!

Outra situação que tenho notado, é o quanto o medo da felicidade nos faz pessoas exigentes! Será que quando cobramos quem amamos, estando ou não juntos a ele, não estamos justamente colocando barreiras para a possibilidade de dar certo? Somos campeões em nos boicotarmos, frente ao desconhecido, frente ao diverso do “normal”, frente aos nossos preconceitos, frente ao inusitado de estarmos vivendo um sentimento muito bom que é o amor, ou frente ao trabalho que dá manter a nossa conquista. E qual a forma mais eficaz, e eu diria mais fácil de boicotar o insuportável? Cobrar do outro!

A gente se esquece que a escolha foi nossa. E se o escolhemos, foi porque em muita coisa somos iguais. Podemos até ter nos enganado, mas isso a gente consegue ver depois, e acredito que se temos um pouco de amor-próprio, a gente sai fora do relacionamento logo, logo. Mas se persistimos nas exigências, no fundo, no fundo, amamos muito aquele sujeito. (hehe)

Lembrei-me de uma pergunta, que não sei a origem dela, mas que de vez em quando gosto de fazer a mim mesma: "Você quer ter razão ou ser feliz?". 

Sabe, as horas em que escrevo coisas do gênero, são as horas em que cobro a mim, e não ao outro. É muito bom pensar, mas tem horas que acho que seria melhor não pensar muito e viver mais. São as horas em que as paixões ficam de lado, as ideias preconcebidas são questionadas, e acho que acabo me despindo de qualquer prejulgamento. Quem dera fosse sempre assim! (hehe)

sexta-feira, 20 de abril de 2012

VOCÊ NÃO TEM FACE?


É impressionante como as pessoas se admiram quando digo que não tenho Facebook pessoal. E pior, sendo eu da área tecnológica, a cobrança é maior ainda.  Uns fazem chacotas, outros ficam me olhando por alguns segundos, pensativos, e acho que até  pensam: "Coitada, deve ser muito tímida ou antissocial!" (hehe)

Fico tentando imaginar o que imagina uma pessoa sobre outra que não está no Face. E eu fico imaginando o que seria de muita gente sem o Face.

Tem gente que chega em casa, não conversa com ninguém, mas vai pra frente do computador e fica horas naquele papo com muito “kkkkkkkkkkkkkk”, muita palavra pela metade, muita frase curta, tudo superficial. Às vezes nem sabe o que os pais pensam ou o que fazem os irmãos ou quem são os vizinhos. Ou melhor, podem até saber se todos eles estiverem na rede. (hehe)

Ontem terminei um curso, onde alguns colegas assistiam às aulas ao mesmo tempo em que conversavam no Face. Fico pensando que a mente de uma pessoa assim já deva estar acostumada a ver dois conteúdos diferentes, que requerem atenção, ao mesmo tempo, e assimilá-los de forma igual. Deve conseguir, não é mesmo?

Anos atrás eu dava aulas e não havia redes sociais. Já era difícil pra muita gente assimilar com o foco somente em um assunto. Fico imaginando se fosse agora, como me sentiria, como instrutora, ao estar explicando ao aluno e ele batendo papo na rede? No meu tempo (sou antiga mesmo, admito) isso seria tomado como falta de educação. Não quero voltar a dar aulas mais! (hehe)

É claro que as redes sociais têm o seu lado importante enquanto instrumento de mobilização de massa. Ditadores são derrubados, esquemas são armados, opiniões são divulgadas, empresas se relacionam com seus clientes, tudo através dessa corrente. Mas daí, ser escravo das redes é que fica complicado. Depender delas pra medir a competência em ter “amizades”, em ser sociável, em estar incluída é que fica complicado. Depender dela a ponto de não poder dispensar uma parte do tempo somente a um curso, a uma conversa, a uma reunião! Puxa! Isso deve dar uma ansiedade! (hehe)

Na revista Info deste mês, Dagomir Marquezi, no seu artigo intitulado “O insustentável desejo de ser curtido”, fala que muito usuário tem necessidade de estar nas redes sociais para se sentir aceito, reconhecido, curtido. E mais, é o lugar onde ele fala mal da sua empresa, do seu chefe, de todo mundo, coisa que ele não falaria pessoalmente. 

Bem... hoje até namoros começam pelo Face e terminam por ele. Ficou uma coisa assim meio como um comércio de serviços: “mudei de fornecedor, e por isso, rescindo o meu contrato com você.” Fora o número de amizades e seguidores. Não basta dizer que eu tenho um Face. Preciso dizer que tenho "x" amigos. Acho que se o sujeito tiver uns 10 (e dos bons!), como na vida real, esse cara deve ser visto como um cara muito antissocial. Bom mesmo, ser popular mesmo,  é ter 800 amigos. Como diz o Dagomir, na mesma matéria:

Coloque um post com o título “Descoberta a vacina contra o câncer” e você terá meia dúzia de apoios. Escolha a foto bonitinha de uma lua no horizonte e escreva “boa noite a todos vocês meus queridos” e 1.872 curtirão isso.

Só que pra quem quer fazer carreira, deve tomar cuidado com esses 1.872 curtidores. Eles podem estragar até uma ascensão profissional. Hoje as empresas, antes de entrevistarem o candidato, já entraram no Face e leram tudo sobre ele. Fazem perguntas direcionadas nas entrevistas, e o motivo de muita não contratação é justamente a contradição do sujeito que postou o que nunca deveria ter postado.

A Daniela Braun, comentarista do CBN Tecnologia da Informação, semana passada, em um de seus boletins, contou que uma candidata a um cargo de Executiva de uma grande empresa foi excluída da seleção pelas suas postagens no Face. E uma dessas postagens foi um simples “eu adoro dormir de conchinha”. (hehe)

No mesmo boletim ela disse que nos EUA, sob polêmica, algumas empresas já pedem, na entrevista, o usuário e a senha no Face. Fico imaginando o entrevistador vendo os comentários não só do entrevistado, mas dos amigos dele. Sabe aquele ditado: Dize-me com quem andas, dir-te-ei quem és? Pois no Face funciona direitinho. Da mesma forma, também não adianta o sujeito escrever só coisas decentes, mas os amigos acabarem com a reputação dele, tirando sarro. São os ossos do ofício! (hehe)

É... Mark Zuckerberg pegou o ser humano exatamente como ele foi pego: pelo orgulho ferido.  A sua rede começou por sua carência afetiva e nós, muitas vezes, na dificuldade de externá-la também pessoalmente (no real mesmo), acabamos por externá-la através de uma rede de máquinas, e com uma dimensão depois que não vamos poder dar conta mais.

E aí você me pergunta como eu sei de todas essas coisas se eu não tenho um Face pessoal? 

Recentemente criei um fictício somente pra poder comentar os poemas de um poeta londrinense, que estão na rede, e ele sabe quem eu sou. E não me recrimine se eu lhe contar que  só tenho ele de amigo no Face. (hehe)

Bem... é que prefiro os meus amigos reais, que jamais, nem em 10 encarnações, chegarão a 800. (hehe)

E a todos eles consigo e prefiro me dedicar de corpo e alma!

segunda-feira, 16 de abril de 2012

QUE BOM QUE DEU ERRADO!

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Como a gente reclama quando as coisas não saem como a gente quer! Ainda mais se fizemos um esforço hercúleo pra que desse certo. Por mais que a gente vá atrás, fale claramente, faça tudo conforme a medida que a situação exige, ainda assim acontece de não dar certo. E lá estaremos nós cobrando de Deus, olhando pros lados e dizendo que os outros têm mais sorte, e ainda iremos atrás de achar o que desandou a maionese, ou até mesmo atrás de um bode expiatório.

Contudo, passado um tempo (sempre ele!), não raras vezes a gente agradece a Deus por não ter dado certo mesmo! Lá tem um acontecimento que nos mostra que se tivesse dado, hoje a gente poderia estar em situação difícil ou até mesmo estaria arrependida. Fico pensando que se Deus fosse humano, diante das nossas cobranças, teria uma hora que ele desistiria da gente! (hehe)

Da mesma forma, muitas vezes presenciamos algumas situações ao nosso redor, e nós, como juízes que somos, acabamos arbitrando as nossas sentenças, principalmente se o acontecido for, ao nosso primeiro julgamento, deprimente. E lá estaremos nós só enxergando o “lado negro da força”. 

Hoje, na academia, chega uma das colegas e nos diz que acabara de presenciar a seguinte cena: uma senhora parou o carro, soltou o cachorro que estava levando, fechou a porta e simplesmente abandonou o bichinho na rua. Na maior calma e frieza. O bichinho até tentou correr atrás do carro, mas não conseguiu.

De dentro da academia, a instrutora vira mesmo um cachorro correndo atrás de um carro, mas não imaginou o que havia ocorrido. Não precisa dizer que fomos pra rua atrás do cachorro. Uma graça! Um vira-latinha alegre, esperto, amoroso e mesmo tendo sido abandonado (se fosse gente eu diria que ele não teria se dado conta ainda), pulava e balançava o rabinho. A instrutora chegou a dizer que eu levaria pra casa. Se eu morasse em casa, não tenha dúvida, ele estaria, neste momento, com um nome, com banho tomado, com casinha arrumada e já vacinado pelo veterinário. (hehe)

Porém, a colega que viu o cachorro sendo abandonado, já foi avisando que o queria. Foi muito emocionante, porque deu pra ver que ela gostou mesmo dele e ele dela. Bem... ele gostou de todas nós que estávamos ali, de tão alegre que é.

A colega ainda faria o seu treino e resolvemos então achar um meio de prender o cachorro. Conseguimos um barbante grosso, que a instrutora habilmente fez uma coleira, demos água pra ele (estava sedento!) e vimos que ele estava magrinho também. Pergunta se ele ficou na coleira? Não! (hehe) Conseguiu se desvencilhar e a sua futura dona falou-nos com uma calma de quem sabia que o cachorro era para ser dela: “Deixa! Ele vai ficar aqui por perto!” E ficou mesmo.

Uma hora depois, terminado o nosso treino, fomos pra rua, eu a instrutora e a colega, à procura do cão. Foi só assobiarmos que lá aparece ele, vindo correndo e  saltitando em nossa direção. Chegamos até a nos abaixar e abrir os braços para recebê-lo.

Fomos pro carro da colega, abrimos as portas de trás, e o chamamos. Não precisa dizer que ele chegava, olhava a porta, fazia que ia entrar, corria alegre pela rua e voltava. No íntimo, talvez ele “soubesse” que estava sendo adotado e não se cabia de felicidade. A gente faz assim, quando está feliz: dá uns pulos, sorri, grita, agarra quem está por perto, não é mesmo?

E lá se foram os dois, felizes: dona e cachorro.

Não precisa dizer, que quando soubemos que o cachorro fora abandonado, falamos muito mal da mulher que fizera essa barbárie. Chegamos a falar que gente assim não sabe o que é amar, que gente assim muitas vezes é depressiva, é infeliz, e ainda atribui sua infelicidade aos outros, ou ao mundo; que gente assim merecia ser presa.

Contudo, ao final, vendo emocionada o carro partir, levando o mesmo cachorro que fora abandonado por outro carro, refiz o meu julgamento em relação a sua antiga dona. Agradeci a Deus por aquela senhora tê-lo abandonado justamente na hora que nossa colega chegou na academia. Agradeci a Deus, mesmo tendo sido um fato deprimente. Sim! Aquela senhora não o queria mais, mas teve quem o quis. Se a antiga dona teve coragem de abandoná-lo, muito provavelmente devia maltratá-lo. Sequer se preocupou em dar água ao bicho, antes de deixá-lo na rua. De tão magro, muito provavelmente era privado de comida. O cachorrinho não merecia uma dona assim, viver com uma pessoa assim, ser amigo de uma pessoa assim. Que bom que ele teve outra oportunidade! O que parecia o fim do mundo, foi o começo de um novo para o cachorrinho! O que parecia que estava dando tudo errado, no fim deu tudo certo.

Bem... nada ocorre por acaso mesmo!

sábado, 14 de abril de 2012

SOMOS TODOS FILHOS DE DEUS

Logomarca da novela da Rede Globo - tvg.globo.com/novelas/aquele-beijo/

Poucas vezes me emocionei tanto com um final de novela quanto com o final de "Aquele Beijo". Não sou assídua em assistir a novelas, mas de "Aquele Beijo" fazia de tudo para não perder um capítulo. E até mesmo nestes últimos dias, por força de estar fazendo um curso, acabei me atualizando pela internet.

E hoje assisti ao capítulo final e  me emocionei muito. Não pelo último em si, mas por me dar conta da perda de um momento, no final do meu dia, no qual assistia sensibilidade. O traço da novela era esse. Pelo viés do beijo, Miguel Falabella montou várias histórias recheadas de sentimentos bons e ruins. E que no final os bons sempre venceram.

A novela mostrou, o tempo todo, que podemos mudar de ideia, de ideia preconcebida. Mostrou que a vida é feita das diferenças e de como lidamos com elas. Mostrou que a vida precisa nos mostrar o outro lado, em tudo! Senão, como faríamos as nossas escolhas? Que os diferentes com os quais convivemos fazem a nossa vida valer a pena – seja para os entendermos, seja para nos entendermos. Mostrou que a vida, diferentemente de uma moeda, é feita de inúmeras faces.

A novela tratou muito de preconceitos. Nunca compartilhamos tanta informação como hoje, nunca falamos tanto com o mundo inteiro, mas ainda somos muito preconceituosos. E o Falabella soube mostrar que se nos despirmos dos preconceitos, podemos ser muito mais felizes.  A novela mostrou, por exemplo, que uma mãe pode repensar e aceitar um filho travesti; mostrou um médico escolhendo uma cabeleireira como sua mulher, porque viu nela o essencial - a companheira maravilhosa que ele queria e merecia; mostrou que depois de uma queda a gente tem sempre chance de recomeçar se a nossa alma não é pequena, se a gente não perdeu a  esperança em dias melhores e ainda confiamos no nosso potencial, nem que seja pra começar do zero, ou começar “de baixo” como costumamos dizer; mostrou que a gente pode ser muito feliz morando num lugar simples, e que o que faz dele um lugar feliz são as pessoas que nele vivem. Mostrou o valor das amizades verdadeiras, na tristeza e principalmente na alegria.  

A novela mostrou, através das falas do Miguel Falabella, que a gente precisa ouvir palavras belas, que a gente precisa de poesia, que a gente chega em casa cansada da competitividade da vida no trabalho, na rua, na escola, e quer ouvir palavras de amor. Quer ver um casal com os olhos brilhando, quer ver um beijo gostoso, quer ouvir uma palavra de encorajamento, quer ver solidariedade. Porque tudo isso a gente desaprende, nesse mundo tão materialista.

Uma das cenas que me tocou muito foi quando a Maruschka, personagem da Marília Pera, pede “Bença Mãe!” para sua mãe, na sua partida. Lembrei-me do tempo em que íamos pra casa de meus avós maternos e dizíamos “Bença Vó!”, “Bença Vô!”, e meu avô Manoel, português de Figueira da Foz, nos dizia “Deus te abençoe, cabeça de boi!”. Puxa, fazia tempo que não ouvia essa saudação! Até chorei de saudades, de felicidade por ter dito isso também na vida! Quantos filhos hoje sequer falam “Bom dia!” pra seus pais, que dirá pedir a benção aos avós? O quadro que vem depois é igualmente emocionante, por envolver um pedido de perdão e um aceite, entre a mesma Maruschka e sua “filha” outrora por ela rejeitada. Foi ímpar mostrar que a qualquer tempo cabe um arrependimento sincero, cabe um pedido de perdão. A qualquer tempo cabe o perdão!

Vou sentir saudades de uma novela que a cada capítulo crescíamos um pouco mais, no mínimo em cultura, quanto mais como gente. Que divulgava Fernando Pessoa, Clarice Lispector, Machado de Assis, Casimiro de Abreu, fora os poetas anônimos que estão entre nós.

Vou sentir saudades do amor da Cláudia e do Vicente. Eita casal que deu certo, que deu química. O casal traduziu todos os nossos comportamentos quando estamos juntos de quem a gente ama. Vou sentir saudades dos trechos citados pelo Falabella justamente nas cenas desse casal, e até marquei um deles, do último capítulo:

E foram felizes porque entenderam que felicidade é uma coisa boa e não devemos mandá-la embora só porque não estamos acostumados a ela.”

Simplesmente verdadeiro, simplesmente lindo!

E pra terminar, foi tocante ver um  personagem que apareceu apenas neste último capítulo (e que tinha a sua finalidade) dizer:  “Somos todos filhos de Deus”, depois de ouvir uma confissão que, normalmente a sociedade condenaria. Vou sentir falta de uma novela que nos lembre que Deus ama a todos nós, indistintamente!


terça-feira, 10 de abril de 2012

O QUE GOSTO EM VOCÊ


picasaweb.google.com

Há algumas coisas que valorizo em um homem, principalmente se ele estiver querendo me conquistar. Uma delas é o cavalheirismo, por vezes deixado de lado pelo homem, depois que a mulher foi ao mercado de trabalho e tenta ser igual a ele. Eu já vou dizendo de antemão: nunca serei ou terei a pretensão de tentar me igualar a um homem.  Acho até que nós mulheres nos masculinizamos com esse negócio das feministas, e acabamos com certos papéis que cabiam (e ainda cabem!) ao masculino. 

Tempos atrás o poeta e escritor Fabrício Carpinejar postou no seu blog uma lista do que, na visão dele, as mulheres detestam nos homens, com o título O que é insuportável no homem?

Em contraponto, ouso dizer o que nós mulheres (ou pelo menos eu) valorizamos em um homem, e que balizam as nossas escolhas, em meio a tantos critérios (subjetivos, admito), que realmente temos. Bem... os homens também têm os deles em relação a nós. (hehe

Gosto de homem que se preocupa com os problemas no meu carro, e em querer dar uma solução. De, no mínimo, se oferecer pra levar pra oficina. Gosto de homem que se oferece para colocar um quadro na parede do meu apartamento, principalmente quando necessita de uma furadeira. É o fim uma mulher ter que manejar uma. 

Gosto de homem que faz questão de me buscar no aeroporto, quando de retorno de viagem. Que se oferece pra me levar pra qualquer lugar, tendo ele disponibilidade. Gosto de homem que me faça companhia quando estou gripada. E eu aceito quietinha que ele assista, ao mesmo tempo, à partida do seu time. (hehe)

Gosto de homem que gosta de me ver dormir, e ainda me diz que estava me admirando. Já ouvi isso, e é muito bom! Gosto de homem que, no restaurante, prefere sentar-se na minha frente pra nos olharmos olhos nos olhos.

Gosto de homem que me ajude a arrumar a casa, a fazer um jantar, e que goste de assistir filme abraçadinho. Gosto de homem que se preocupa em saber se está faltando alguma coisa para o lanche e se propõe a ir buscar. Que indo buscar, traga algo inesperado, uma surpresa. Que sente vontade de ligar para me desejar um bom dia no trabalho. Que quando quer ter opinião sobre determinado assunto, lembre-se primeiramente de mim.

Gosto de homem que prefere chamar a sua mulher de “mulher” e não “esposa”, até porque prefiro “marido” a “esposo”. “Minha mulher” diz exatamente quem a gente é na vida do marido.

Gosto de homem que se arrisca primeiro, para ver se não é perigoso pra mim. Homem que se preocupa em proteger a sua companheira. É isso mesmo: gosto de ser cuidada, protegida. Gosto de homem que me coloca do lado de dentro da calçada, quando em um passeio. Que quando está com a mãe dele no carro e eu também, ele queira que eu fique no banco da frente. Que saiba a diferença entre sua mulher e sua mãe.

Gosto de homem que me diga que estou bonita, que me admire por ter me arrumado pra ele, até porque me arrumo para um homem e não para uma mulher, como a maioria das mulheres fazem, infelizmente. Que se preocupe com momentos e surpresas românticos, como colher uma rosa, de algum lugar, e trazer para mim.

Gosto de homem que se preocupa em se arrumar pra me encontrar. Que goste de um bom banho, e que não tenha vergonha ou receio de  me surpreender com um grande beijo, quando me encontre fora de casa e no meio de muita gente. Que não tenha medo de se expor.

Gosto de homem que traduz em atos o que verbaliza; que acredita que tudo o que temos na vida tem sentido e que o nosso encontro também; que se preocupa em ser honesto primeiro para consigo, para conseguir ser honesto e leal para comigo; que ainda acredite no amor, caso tenha passado por desilusões. Gosto de homem que diga a que veio, porque de "perdido" o mundo está cheio.

Gosto de homem que me valorize, e que valorize o que eu tenho para lhe oferecer em retribuição: um tapete vermelho no meu coração por ele me tratar como a rainha do seu reino. (hehe)


quarta-feira, 4 de abril de 2012

FELIZ ANIVERSÁRIO!

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Se estivesse vivo, Cazuza completaria hoje 54 anos de idade.

Irreverente, querido, sensível, poeta de marca maior, não fosse ter percorrido e aceitado, sem medidas, o caminho das drogas, estaria entre nós. Sua vida inconsequente (sem querer julgar o artista cujas músicas tanto amo) lhe deu de retorno a Aids, num tempo sem qualquer antídoto que pudesse lhe prolongar a vida. Se fosse hoje, além de provavelmente estar vivo, estaria compondo com seu parceiro Frejat outras tantas maravilhosas canções.

Cazuza é um dos nossos exemplos maiores de como a droga deixa a vida uma droga. 

Mas talvez tivesse que ser assim. Penso que ele veio pra ficar um tempo entre a gente, o suficiente pra produzir canções tão lindas e tão eternas, que muito artista velho de estrada, que está aqui, nem sonha em compor. Nem tem inspiração para. 

Duvido que daqui a 20 anos alguém vá se lembrar de alguma música do Michel Teló. Mas, há pelo menos 20 anos Cazuza ainda nos emociona, e emociona a muito jovem que nem projeto de gente era ainda, com músicas como "Codinome Beija-Flor".




Feliz aniversário, Cazuza! Onde quer que você esteja! 



segunda-feira, 2 de abril de 2012

DESILUSÃO AMOROSA

Christina Scarratt - pinterest.com


Adoro ouvir histórias de amor. Infelizmente as ouço mais de mulheres do que de homens. As mulheres falam mais de suas aventuras e desventuras amorosas. Elas são mais abertas e subjetivas pra contar. E nós gostamos mesmo de contar, principalmente quando temos eco. (hehe)

E ultimamente tenho ouvido várias histórias, nos vários grupos que frequento, e é impressionante como tenho notado uma coisa em comum: a desilusão amorosa. Normal seria se ela ocorresse e morresse por si só. Mas como é comum ela causar uma cratera na vida da pessoa!

Como há mulheres sozinhas (e homens também),  por conta de uma desilusão amorosa! Talvez nem se deem conta. Talvez as escolhas futuras por si só dizem dessa desilusão, como por exemplo, as escolhas por futuros parceiros impossíveis, que são escolhidos, inconscientemente, a dedo pra corroborar a amargura, o medo de um novo fracasso ou a mágoa, que sobrou da desilusão amorosa anterior. Como que para provar que se for em frente vai dar noutra desilusão. E desse jeito vai mesmo! (hehe)

Penso que ninguém, mas ninguém, tem o direito de matar a nossa esperança em encontrar um amor que dê certo, depois de um que deu errado. Se é que deu errado – prefiro dizer que deu certo o tempo que tinha que dar, ou que era possível dar. Nenhum homem vale a pena marcar a ferro e fogo a vida da gente, como uma tatuagem, a ponto de desistirmos do amor dos outros homens do planeta. Só que pensando bem, não é o outro que nos marca, nós que nos automarcamos, nos autoencarceramos.

O pior é que às vezes não é tão claro assim. Tenho ouvido mulheres de uma certa idade que há muito tempo desistiram de pensar em um homem pra suas vidas. Está certo que não é tão fácil engatar um amor após o outro, mas em boa parte das histórias que tenho ouvido, os homens não estão fazendo tanta falta assim pra essas mulheres. Não que precisemos deles para sermos felizes. Mas parece que as desilusões que essas mulheres passaram, minaram o campo pra qualquer outro novo relacionamento. Fechadas pra balanço que não tem fim. A gente se acostuma com os balanços sem fim. (hehe) Mas não pode! É tão bom ter um companheiro!

Só que essas mulheres se esquecem de que, se elas se desiludiram, elas fizeram parte do processo. Somos coautoras, corresponsáveis pelas nossas desilusões; somos responsáveis pelas nossas escolhas. Ninguém sai de um relacionamento sem uma parcela de contribuição no que deu certo e no que não deu.

E aí, as histórias que ouço são invariavelmente: tive um grande amor, que não deu certo. Depois apareceu um fulano, depois outro, depois outro, e nenhum deu certo mais. Parece até que há um gozo em dizer o porquê, os motivos pelos quais não deram certo. Acho até que poderia aparecer o Brad Pitt, o Richard Gere, na vida de cada uma dessas mulheres, que não estaria bom, porque a desilusão matou invisivelmente, paulatinamente, sorrateiramente, qualquer possibilidade de vir a dar certo com outra pessoa. Acho até que tem gente que exibe a desilusão como um troféu. Aí chega a ser até comodismo perante a vida!

E acho que com homens acontece a mesma coisa, e às vezes até com um componente a mais. Se um homem se desiludiu com sua mãe (isso mesmo!), na tenra idade, seja por rejeição, seja por ciúmes, seja por divergência de opiniões, seja por qualquer causa, é muito comum ele ter problemas no relacionamento amoroso com uma mulher. Pensando bem, da mesma forma, nós mulheres com nossos pais. Parece que fica estigmatizada a relação homem x mulher, quando a gente não tem resolvida a história com nossa mãe ou com nosso pai. Bom... mas daí é trabalho (e dos bons!) para um Analista.

Mas voltando aos homens, vejo que eles ainda lidam melhor do que as mulheres com as desilusões amorosas. É difícil ver um homem que se separou ficar muito tempo sozinho. Ele logo, logo, arruma outra companheira. Nós mulheres é que ficamos ruminando. Taí uma coisa a aprender com eles. Taí uma coisa que deve dar uma tese. 

Só que desilusão a gente encontra em tudo: no trabalho, nas amizades, nos compromissos que assumimos, que nos engajamos. Faz parte da natureza humana. O que não pode nunca é deixar que essa desilusão mexa tanto com a vida da gente, a ponto de paralisar o lado que a desilusão fez o estrago. No caso do que posto hoje: no coração.

Fui olhar no dicionário e “desilusão” significa “perda da ilusão; decepção, desapontamento”. E aí me pergunto: o amor é ilusão? O amor é ilusório? Penso que não. Amor é um sentimento real. Se foi ilusão em algum momento, por que ficar fechado para o real que pode estar a qualquer tempo na nossa frente?

É... ainda bem que no meio dessas histórias de desilusão amorosa, há aquelas em que a pessoa fez dessas desilusões apenas experiências de vida a mais, e recomeçou tudo de novo, como deveria ser. E são dessas histórias de amor, recheadas de desilusões e novas “ilusões”, que eu mais gosto!