sábado, 29 de dezembro de 2012

FELIZ 2013!



Final de ano... panetone e  lista de promessas pra ano novo.

Se tem gente que acha que ano novo é tudo a mesma coisa, eu discordo. Gosto de pegar a lista de desejos do ano corrente, fazer um balanço do que deu certo e do que não deu, e fazer uma nova lista para o ano vindouro, mesmo que contenha alguns itens repetidos do ano anterior. É a oportunidade implícita do novo, de poder fazer diferente, de poder tentar de novo, de ter uma nova chance, dada a nós por nós mesmos. 

Já passei a régua em 2012 e abri o ano contábil de 2013, com um planejamento misto de espiritual com material, sagrado com profano, pra viver mesmo! Acho que o passar dos anos nos endossa querer e poder fazer tanta coisa pela nossa própria conta e risco, diferentemente de quando se é mais jovem e ainda se olha para os lados, buscando aprovação do outro, do mundo, objetiva ou subjetivamente. (hehe)

E pra terminar o ano neste post, coloco um texto que me chegou às mãos por duas vezes. Uma delas foi em 1998, quando o comprei em um cartaz, que intencionava transformar em um pôster. Acabei guardando, só que nem me lembrava disso. É de um cara chamado Geraldo Eustáquio de Souza, da Companhia para Crescer. E a outra vez (que é agora), minha mãe trouxe de Curitiba, com algumas coisas minhas que ainda estavam no seu apartamento.

O texto é uma orientação supimpa para a execução da minha e da sua lista de intenções para 2013!

Vamos lá:

RESULTADOS

Resultados exigem esforço, paciência e constância.
Suspeito de promessas miraculosas e soluções instantâneas.
Duvido de fórmulas simples para a conquista da felicidade.

Fraqueza, fadiga e ferrugem custam a ceder depois que se instalam no corpo, na mente e no espírito.
Somente força, fôlego e flexibilidade podem produzir mudança.

Otimismo só é útil onde existe ação planejada.
Pensamento positivo só funciona à custa de muito trabalho.
Sem objetivos e prazos definidos, esperança é pura ilusão.

Acredito em fatos, não em intenções.
Acredito em atitudes, não em discursos.
Acredito em posturas éticas, não em regras de moral.
Acredito em fazer acontecer, não em esperar que aconteça.
Acredito em criatividade, não em obstáculos.

O que importa são as tentativas e não os acertos.
As vezes que a gente se levanta contam muito mais do que as que a gente cai.
O prazer de continuar buscando é infinitamente maior do que o sucesso a alcançar.

Toda transformação começa sempre caótica e desconfortável.
Os caminhos conhecidos são seguros e fáceis, mas só conduzem aos lugares onde já estamos e não desejamos ficar.

O caminho do novo é cheio de riscos, surpresas e cansaço mas sempre premia os que o escolhem com a chance de descobrirem e experimentarem a Vida que imaginaram viver. 


Que venha o novo! Que venha 2013! Viva!

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

MAIS QUE UM MINUTO DE SILÊNCIO

www.wallpaperswide.com


Dez horas da noite. Termino de passar a segunda demão de tinta no aparador do pequeno hall de entrada do apartamento. Sim, o mesmo aparador que há “centenas” de postagens atrás, eu disse que comprara para fazer uma pátina. Só agora “deu tempo”.  Melhor: só agora ele pôde ser o foco, pois tempo a gente sempre arruma, se quiser. Não fiz a pátina, apenas pintei de branco. Está ficando lindo!

Mês passado passei dias e dias pintando rodapé do apartamento. Ontem e hoje, o aparador. Amanhã ainda tem o verniz. Todo mundo deveria se arvorar em pintar alguma coisa, de preferência superfícies grandes, como paredes. Ou móveis com detalhes, como o meu aparador. Nunca pensei tanto na vida, enquanto pintava! E olha que sou uma pessoa que já pensa muito, seja pela profissão, seja por ter já feito análise mesmo. (hehe)  Os pintores deveriam ser as pessoas mais bem resolvidas do planeta. Ou com as quais a gente poderia sempre procurar desabafar, pois acredito que saibam ouvir muito bem. (hehe)

Quando estava pintando os rodapés (havia uma finalidade pra isso), contei para um amigo que nas horas que eu pegava firme no ofício, ora eu escutava música, ora eu escutava DVD, ora eu ficava um tempão em silêncio, pensando na vida (minha e de outras pessoas), (re)fazendo projetos, lembrando de alegrias e de tristezas, curtindo saudades. E fiquei surpresa com o quanto ele prestou atenção quando eu contei no que pensava nas minhas horas de silêncio. Nunca esperava que ele comentasse que sente necessidade, muitas vezes, de ficar sozinho assim, e que quando pode, curte muito, como eu curti. Ele me falou de um jeito que me pareceu ter até “invejado” e desejado estar no meu lugar. Acho que minha irmã diria que por aí pode  se começar uma análise. (hehe) Hoje, enquanto pintava o aparador, lembrei-me do amigo novamente.

Lembrei-me também de minha avó Malvina, ao sentir o perfume de alguém que pegou o elevador (estou pintando o aparador bem perto da porta de entrada do apartamento). Era um perfume gostoso, mas forte; minha avó  era vaidosa, e a vaidade que tenho vem dela. Nem tanto de perfume forte, mas de gostar de me arrumar. Lembrei-me da Dona Malvina e me deu uma saudade tão grande, que me peguei perguntando onde ela estaria uma hora dessas. Em que plano? Será que estaria me vendo pintar um móvel, resolvendo mais uma coisa por minha conta, ela que era também despachada pra resolver tanta coisa. Ela que sentada na máquina de costura, sozinha, parava algumas vezes, e olhava ao longe, os pensamentos indo mais longe do que o olhar. Pensativa, como eu, agora sentada no chão da sala, com as mãos cheias de tinta, e o pensamento distante... como num balão.

Entre uma pincelada e outra lembrei-me (novamente) da música do Chico Buarque que diz “é desconcertante rever o grande amor”.  Havia contado isso para uma amiga, na academia, hoje pela manhã. Pra mim, nenhum outro compositor traduz tão bem, em canções, os sentimentos de uma mulher, como Chico Buarque. Assim como nenhum outro escritor entende tão bem a alma feminina como o Fabrício Carpinejar. Por que lembrei-me do Chico? Porque foi desconcertante rever, ontem, um não tão “grande amor”, mas um amor importante, como todos os que passaram na minha vida. Foi um misto de uma coisa boa, com uma coisa ruim, adicionado à dúvida de como teria sido, se tivesse sido, se pudesse ter sido. Ajuntei o meu pensamento com uma das crônicas do último livro do Carpinejar, que terminei de ler. O título da crônica, por si só, já diz tanta coisa:“O Quase é Tão Cheio de Tudo”! E na qual ele termina dizendo “Como eu amo quem se importa em amar, apesar de tudo. Apesar de tudo.”

No meio da pintura resolvo entrar no Messenger, pra dizer a uma querida amiga o que eu pensei ser melhor pra ela: um blog ou um site? Fora que me deu uma vontade enorme de conversar novamente com ela, para ver se estava melhor, desde ontem quando conversamos e que  vi que ela precisava falar. E pareceu-me bem melhor! Já tinha se decidido pelo blog e até começado. Voltei para o aparador pensando: como é bom quando a gente se abre com alguém e depois vê a vida recomeçar a andar. Como é bom ter alguém para falar, e como é bom ser o alguém que ouve! Dias desses numa das palestras do Haroldo Dutra Dias (palestrante espírita), ele disse mesmo que nas aflições da vida da gente (que não são poucas), deveríamos olhar para o alto e não para baixo. E eu penso que o “alto” pode ser tanto Deus, quanto um amigo, quanto um psicólogo, quanto alguém que pode nos mostrar onde estamos errando ou não falar nada mesmo, mas que tenha misericórdia, que tenha bondade para ouvir. Quantas vezes é o suficiente!

E pra não esquecer desses momentos de introspecção artística (ou arteira, porque não sou pintora), estou decidida a pintar as paredes do apartamento, a partir de janeiro. Um cômodo por mês, calmamente. Gostei de conversar com as tintas, gostei de ver a limpeza que a gente faz, tanto material quanto espiritual. (hehe) E quem sabe, será a dois! Dividindo o silêncio, sendo cúmplices do silêncio, pra contar um para o outro no que ficamos pensando. Taí um item para a minha lista de ano novo!

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

UM COMENTÁRIO IMPECÁVEL

www.capricho.abril.com.br

Hoje, no seu comentário diário na CBN, Arnaldo Jabor foi impecável na sua análise do Brasil na era Lula e pós-Lula (se é que é “pós”).

Nunca na história deste país, alguém resumiu tão bem, em pouco mais de 3 minutos, a indignação que dá com tanta podridão exalando do que a gente fica sabendo das investigações nas Operações da Polícia Federal.  Um exemplo é essa última - a Operação Porto Seguro. Fico imaginando o que a gente não vai ficar sabendo nunca!

O comentário do Arnaldo Jabor, cujo título é "Não temos nível para progredir",  é de "lavar a alma".

Ouça:

domingo, 30 de setembro de 2012

A IMPORTÂNCIA DE UM NOVO OLHAR

Museu Histórico de Jataizinho-PR

A vida é feita de mudanças de paradigmas. Se assim não for, a gente passa pela vida sem realmente viver. Sem crescer, sem aprender, sem apreender, sem raciocinar, nem fazer diferente. E é o diferente que move o mundo.

Tantas vezes fiz receitas que usam leite condensado, tantas vezes testei várias marcas, e na maioria delas, venceu o Leite Moça. Queijadinha, então, só com Leite Moça pra ficar uma gostosura. Sei disso, porque dei o direito, às outras marcas, de me mostrarem que funcionavam igual ou melhor, mas não funcionaram. Eu poderia parar por aí, e sumarizar: só Leite Moça mesmo, de todos os leites condensados. Que nada! Por causa de uma oferta de Leite Mococa (que já usei várias vezes), acabei   substituindo o Leite Moça na receita de sorvete de côco, e para minha grata surpresa, ficou melhor que com o Leite Moça. Puxa! Como fiquei contente em ter ousado mudar, ter ousado correr o risco de não ficar tão bom!

Fiquei pensando que a gente não pode, de modo algum, ser radical.  Imaginar que um pequeno não possa ser tão eficiente quanto um grande. Claro que conta, e muito, a minha experiência de vida, os anos vividos. A passagem do tempo nos dá a liberdade de mudar, de escolher, sem muita influência dos outros. A gente vai vendo que o que importa é o que a gente pensa, o que a gente escolhe, o que a gente prova, o que a gente quer. Até porque, no final das contas, os acertos serão com a nossa consciência e não com a consciência do outro. E a mudança de paradigma entra justamente aí.  Optar por novas experiências. E não é que pode dar certo?

Nesta última semana, nas manhãs de quinta e sexta-feira, fiz dois passeios maravilhosos, a convite do Museu Histórico de Londrina (que frequento e amo de paixão), por ocasião da 6ª Primavera de Museus. Foi o 1º passeio organizado pelo Museu, nesse evento que é nacional.

Há quem diga que museu é coisa pra velho. (hehe) Eu respondo: museu é um lugar atualíssimo. Basta citarmos o Museu da Língua Portuguesa em São Paulo ou o Museu Oscar Niemeyer em Curitiba. É onde a gente encontra as nossas origens, onde nos situamos no mundo e no tempo, onde tomamos consciência de onde viemos e como estamos evoluindo. Os museus guardam as nossas raízes. E as raízes nos individualizam e nos coletivizam ao mesmo tempo.

E, voltando para os paradigmas, engana-se quem pensa que cidades muito pequenas, como Cambé,  Ibiporã e Jataizinho, não possam abrigar museus muito bonitos e com pessoas muito acolhedoras à sua frente, com cultura e conhecimento da nossa história.

Na quinta-feira fomos ao Museu da Sociedade Rural do Paraná (dentro do Parque de Exposições Ney Braga), em Londrina, e no Museu Histórico de Cambé (dentro de um conjunto cultural portentoso). Na sexta-feira fomos ao Museu de Artes de Londrina (antiga rodoviária), ao Museu do Café em Ibiporã (parte de um conjunto de edificações antigas da estação ferroviária), e ao Museu Histórico de Jataizinho (uma casa antiga, de madeira, linda!).

Particularmente, os museus de Ibiporã e Jataizinho têm muito de minha vida familiar. No de Ibiporã voltei ao tempo em que morava em vila ferroviária, pela profissão de meu pai, quando a ferrovia transportava as safras de café. Isso antes da ferrovia ser vencida pelas empreiteiras e suas estradas de rodagem. Nosso país anda na contramão da história de países desenvolvidos,  em termos de transporte. Bem... isso seria uma outra postagem. (hehe)

No museu de Jataizinho vi minha infância, no meio de tantos painéis e objetos de pioneiros. É que meus avós maternos vieram do estado de São Paulo, como várias outras famílias, atraídas pelas histórias do desbravamento de novas e férteis terras, pela Companhia de Terras Norte do Paraná (dos ingleses), e escolheram Jataizinho para se estabelecerem. Vi meus parentes em fotos no museu, e nesse momento o museu me individualizou neste mundo. (hehe) Foi uma emoção ímpar!

Onde está o paradigma? Volto a dizer: não precisamos ir a uma cidade grande para visitar um museu. Não precisamos gastar nada pra ver a nossa história, para adquirirmos conhecimento e cultura. Não imaginamos como há pessoas preparadas para nos receber nesses museus. As pessoas não imaginam o quanto os dirigentes desses museus pequeninos, em cidades pequeninas, são tão atentos, tão sedentos de nos contar e nos situar na história (na nossa história), num país, muitas vezes, se mostrando desmemoriado. Num país cuja população vai votar, daqui a uma semana, e passado nem um ano, não vai se lembrar em quem votou.

A gente precisa, sempre, mudar de paradigmas. Precisa, sempre, experimentar mudar de leite condensado.

Museu do Café - Ibiporã-PR

domingo, 9 de setembro de 2012

NOVO LIVRO DO CARPINEJAR

A capa!

Fabrício Carpinejar concedeu uma entrevista para a Tania Morales, hoje, no Revista CBN, sobre o seu novo livro: "Ai Meu Deus, Ai Meu Jesus".

O Fabrício de sempre: inteligente, bem humorado, irreverente e imperdível. 

Ouça:



quarta-feira, 5 de setembro de 2012

"HERANÇA DE MARIA"

A belíssima capa do belíssimo livro.

Ganhei de presente de meus pais o último livro do Domingos Pellegrini – “Herança de Maria”, dias atrás, quando eu retornava de Curitiba.

Se há uma coisa que agradeço a eles, nesta e nas próximas encarnações, é o fato de eles terem me incentivado à leitura, desde os primeiros dias de escola, com os livros de histórias infantis, comprados de livreiros (mascates) que vinham vender na porta de casa, e morando em uma cidade tão pequena que nem existe no mapa. No meio do mato mesmo! (hehe)

Penso que o gosto pela leitura substitui, em parte, a impossibilidade de viajar; permite-nos voltar no tempo, ao encontrarmos nossas lembranças nas obras, ainda mais se o escritor for nosso contemporâneo; abre nossa mente para o diferente, ajudando-nos a quebrar paradigmas e preconceitos; faz-nos companheiros de nós mesmos (se não nos aguentarmos lendo um livro, é melhor procurarmos um psicólogo); irmana-nos em gostos e pensamentos a milhões de pessoas que estão a ler o mesmo livro; transforma-nos em agentes de conhecimento; faz-nos privilegiados, uma vez que muita gente sequer tem disponibilidade para uma leitura, seja por doença, por dificuldade de ordem financeira, de ordem moral, de tempo, de cabeça, de entendimento, ou sei lá o que.

Pois, neste momento, encaixo-me em muitas das situações que coloquei acima, e destacadamente por estar lendo outra obra de meu conterrâneo e contemporâneo. Sim, Domingos Pellegrini é um “pé-vermelho”, como eu!

Quando li “Terra Vermelha”, dele também, fiquei na dúvida se tirava ou não do topo, outro livro que elegi como o que mais gostei até hoje – “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel García Márquez.

“Cem Anos” ocupou, por muitos anos, lugar de destaque na minha sala, como um objeto de estimação: eu o lera três vezes.  E, com ele, elegi também um dos tipos de livros que mais gosto de ler: os que falam de sagas de família. Os que contam histórias de gente que casa, que descasa, que briga, que faz as pazes, que muda de cidade, que lida com os mais variados tipos de sentimentos, que enfrenta todo e qualquer tipo de alegria e de tristeza, por gerações e gerações. É que gosto de me ver, e de ver minha família, nas outras famílias. As repetições, as lições, os porquês de sermos de um jeito e não de outro, os “espelhos”. Gosto de entrar na história e deixar que a história também tome conta da minha, com todos os “fantasmas” dos personagens passando uns dias na minha casa. (hehe)

“Terra Vermelha” levou-me aos meus avós, ao meu passado, que como os avós do Pellegrini, trilharam caminhos muito parecidos. A vinda do Estado de São Paulo, passando pelo rio Tibagi, os carregamentos de toras em carroças (tive um tio que morreu em um desses carregamentos), muita barreira (de barro mesmo!), muita luta, muito trabalho a fazer, e trabalho que deixou marcas na vida da minha família, tanto boas, quanto ruins. Falo pela minha irmã e por mim: a garra do povo do norte do Paraná fez diferença nas nossas vidas. Se crescemos profissionalmente, por exemplo, é porque tem muito das histórias que o Pellegrini conta em seus livros, na nossa vida.

No “Herança de Maria” não é diferente. O escritor conta a história de sua mãe, narrando as lembranças que tem e que agora "vê" projetadas na parede do quarto dela. Lembranças essas acompanhadas de "cobranças", ele sentado em um banco ao lado da cama onde o corpo da mãe vegeta, no leito de morte.  E essas histórias, além de me levarem à casa dos avós novamente,  levaram-me à casa de meus pais, eles, em vários aspectos, muito parecidos com os pais do autor.  Uma mãe que queria dar conta de muita coisa da nossa vida e do marido. E um pai que deixou as "rédeas" da casa por conta dessa mãe, e que depois de velho não sabe mais lidar com a "carroça desgovernada". Mas também, não sabe se quer mesmo! (hehe)

E mais: saindo do campo familiar, Domingos Pellegrini conta como eram as reuniões quando se engajou tanto na política estudantil, quanto nos “quadros revolucionários” que “lutavam” por um país “livre da opressão e da miséria”, e que nos dão a medida certa de quão utópicos, hipócritas e oportunistas são o comunismo e os partidos dele oriundos (formados pelos companheiros “da causa”). Imperdível! Uma aula de História e de Brasil!

Estou a um terço do final do livro, embora tenha começado a lê-lo há 15 dias. Também... parando pra destacar trechos, pra rir, pra chorar, pra reler e meditar sobre as falas, pra tomar um fôlego dos “fantasmas” todos na minha casa. (hehe). Mas de uma coisa já tenho certeza: vou terminar o livro e vou relê-lo. Talvez não todo, mas os trechos que destaquei justamente com essa finalidade.

Um monte de gente cabe nas histórias do Pellegrini. Um monte. Só por isso já vale a pena ler seus livros, tão cheios de vida, tão cheios de gente com vida!

domingo, 29 de julho de 2012

O PIOR LUTO


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Tenho uma amiga que, depois do término do relacionamento, me diz, pesarosa: “o que eu mais gostaria é de voltar a ser como eu era, antes de ter conhecido o fulano.”  De tudo, de tudo o que sobrou, esse é o tamanho, o sentido da sua dor, da sua perda, do seu luto.

Quem já não procurou por si mesmo, depois de um término de um namoro ou de um casamento, principalmente quando saiu ainda gostando do outro? Eu já, razão pela qual entendo perfeitamente minha amiga, palavra por palavra.

Como é difícil a gente catar os cacos, pra tentar ajuntar e voltar a ser o mesmo vaso de antes?  Como se a vida antes do nosso amor fosse melhor. Até poderia ser mesmo!  Mas poderia não ser! Mas é a nossa referência pra tentarmos entrar nos eixos novamente. A ruptura de um relacionamento, de um encontro  que não vingou, de um amor impossível, de uma união que desejávamos manter e não conseguimos, nos tira do centro, do prumo, nos perde de nós mesmos, quando não, ainda fica gravada ad-aeternum, encarnações a fio.

Como é difícil lidar com o  luto amoroso! Talvez mais do que o luto por morte física de um ente amado. Falo do luto pela perda de alguém que continua vivinho da silva.

Não sou a melhor pessoa pra comparar esses dois tipos de luto, pois ainda não perdi meus pais, nem irmãos, nem ninguém próximo mais próximo de mim, por morte física. Dizem que perder um filho é a pior dor que existe. É a pior saudade que dá na gente. Só que, eu como espírita, penso ser mais fácil aceitar a morte física, que afinal de contas é somente física mesmo, porque a pessoa, a sua essência, o seu espírito, só muda de lugar, de plano. Mas o luto pela perda de alguém que a gente ama, e que não pode mais ficar junto dela, pelo simples motivo de que ela não nos ama mais, é muito dolorido por demais. Mistura fracasso, raiva, amor, um monte de questionamentos a nós mesmos, ao outro, ao mundo! Mistura orgulho ferido, autoestima, desejo de revide, e até alívio, pois acontecem os momentos em que  nos pegamos aceitando a separação e nos imaginando livres, leves e soltos, para um novo amor.

Quer pior coisa que andar pela cidade sabendo que o “falecido” respira o mesmo ar nosso e levanta de manhã sem o nosso bom dia e está tudo bem (pra ele)? Que está beijando ou vai beijar outra, vai transar com outra, vai falar palavras carinhosas para outra, vai se importar com outra, vai nos esquecer ou já nos esqueceu? Quer pior luto que esse? Se estivesse morto, fisicamente, nosso desejo de posse estaria resolvido: não é nosso, mas não é de mais ninguém também! Ou vai me dizer que não tem posse no amor? No estágio em que nos achamos aqui na Terra, ainda vai demorar muito pra amarmos o outro a tal ponto de não nos importarmos se ele está com outra e não conosco. (hehe)

Já uma vez morto, estamos livres, imediatamente, pra outro relacionamento. Não tem volta mais. Vai ter o luto, vai! Mas há a certeza absoluta de que não há volta (pelo menos nesta encarnação). (hehe)

Agora, o luto por um vivo pode durar um tempão! Mente quem diz que não tem esperança da volta, esperança do fulano repensar e descobrir que também não está conseguindo ficar longe da gente. Só que isso pode durar meses, anos, pelo simples fato dele estar vivo, e nós também (e pior que isso, estarmos esperançosas). A esperança é algo que todos temos que ter, e não temos sequer o direito de tirá-la de nós, muito menos dos outros. Mas,  às vezes, ela é masoquista, pelo simples fato de imaginarmos a volta de quem não vai voltar mais! O desejo é outro vilão: faz-nos felizes, mas também empata-nos a vida, quando ele quer. Daí só mesmo o Analista pra ajudar a entendê-lo. (hehe)

Não tem como fugir do luto da perda de um vivo; nem o mortal mais analisado do planeta consegue fugir dele. Mas uma vez cumprido, uma vez passado por ele, de certa maneira voltamos mesmo a ser o que éramos antes de ter conhecido o "objeto" do nosso luto. É engraçado, mas parece que a vida deslancha, voltamos a fazer coisas que havíamos abandonado, como sair com os amigos, curtir as nossas coisas sem precisar da aprovação dele, nossa autoestima volta aos níveis normais, as coisas deslancham, os trabalhos fluem, e nos pegamos até nos perguntando “como que eu fiquei numa nuvem tão negra todo esse tempo?!”.

É... amar é assim. Um dia estamos vestidas de rosa, outro dia vestidas de preto. Penso que chegaremos um dia, na nossa evolução, a usar o preto, mas por pouco tempo. Dizem mesmo que a gente cresce como pessoa na medida em que conseguimos diminuir nossos momentos de luto. Acabar com eles será impossível, pois eles têm a sua função e que é muito digna: por vezes precisamos da dor para aprender. Mas penso que ainda vamos aprender sem precisar da dor, só do amor.




segunda-feira, 9 de julho de 2012

A (R)EVOLUÇÃO NO AMOR


claudinegomes.blogspot.com


Como fazemos mudanças na vida quando estamos amando! O outro funciona como espelho, e ocupa o que de melhor temos: a atenção. Percebemos cada gesto, cada atitude, cada opinião, cada palavra.

Queremos nos tornar não graduados, mas doutores na outra pessoa. A nossa opinião começa, quando não a ficar misturada, pelo menos parecida com a do amado. O que pensamos diferente até continuamos a pensar, mas já colocamos alguma dúvida, algum senão, alguma pimenta, algum gosto diferente, um algo mais. É que um amor nos liberta e a primeira coisa que ganha asas é a nossa mente. Mais leve, mais solta, mais receptiva, porque mais alegre. A alegria nos deixa abertos ao novo. A tristeza nos coloca um véu, nos amarra, nos aprisiona em nós mesmos.

O que o amor nos traz de bom é aceitarmos, por exemplo, mudar uma opinião enraizada, por outra vinda de quem elegemos partilhar intimamente da nossa vida. Bem... pra termos chegado a escolhê-lo, dentre todos os outros seres humanos viventes no planeta, a opinião dele acaba valendo tanto quanto a nossa. Se a opinião do seu amado não vale, ou a sua não vale um tiquinho pra ele, desculpe-me, mas não é amor!

Amor de verdade não é competitivo. No máximo, diante de uma situação de competição, fica feliz se o outro vence. É como se vencesse por ele. É que amor com “A” maiúsculo tem o sentimento de orgulho grudado nele. Não de orgulho, sentimento ruim, mas de reconhecimento do outro. A gente tem orgulho de quem a gente ama. A gente enche o peito pra falar dele. Se não o fizer, tem alguma coisa errada.

Amor é coisa séria. De repente o sujeito entra na vida da gente, conquista a nossa alma, o nosso corpo, compartilha de nossos sonhos, ideias,  problemas, ocupa  o cérebro e o coração ao mesmo tempo. Quer mais sério que isso? Mais do que uma atividade profissional.

Na empresa a gente entra em determinada hora, terminado o expediente a gente vai embora e, teoricamente, o nosso compromisso com a empresa acabou aí. E ainda somos remunerados. Com um amor não. Ele acorda com a gente, vai com a gente pra empresa, vai dormir com a gente, habita os mesmos sonhos da gente, ocupa um território permanente. E num movimento não necessariamente físico, mas necessariamente mental. Com  remuneração nenhuma,  enfrenta  todo tipo de adversidade, advinda do mundo externo, e pior ainda, do nosso mundo interno.

E  lá tem um dia que acaba. Sim, como tudo nessa vida, também tem o seu final. Tem o seu tempo de dar certo. Se no final de um amor, mantivermos no nosso cotidiano o que aprendemos de bom com ele, esse amor, sim, pode ser considerado um amor que valeu a pena. E é engraçado: tem gente que diz que quer esquecer, que nem quer ouvir falar mais do fulano ou de amor, que perdeu tempo, que não consegue enxergar o que de bom ficou, mas repete em sua vida modos adquiridos do ex-amado. (hehe)

Pode ser que não tenha ficado nada mesmo, não tenha valido a pena mesmo, mas  uma coisa é certa: a gente nunca pode menosprezar a nossa capacidade de amar, nem que tenha sido por quem não valeu a pena. Triste seria se não conseguíssemos nem  amar assim.

Sabe... de cada amor que tive, aprendi algo. Teve até o que achei que quase desaprendi, não fosse eu ter me salvo a tempo. (hehe

Brincadeiras à parte, alguma coisa de bom todos me deixaram, mesmo os que, ao final, eu tenha jurado que “igual a esse, não quero outro nunca mais!” É que a palavra “nunca” é muito forte em se tratando de amor. Quando a gente vê, já está fazendo o que jurou nunca mais fazer.

Um amor, se nada mudar na nossa vida, não pode ser considerado amor. 



sexta-feira, 22 de junho de 2012

DIZE-ME COM QUEM ANDAS...



Pouco falo de política no meu blog. Não que não goste.  Pelo contrário:  gosto bastante e acompanho. Contudo, como gosto muito mais de falar sobre sentimentos, comportamentos, e coisas da vida, acabo deixando a política de lado.

Mas não tem como não comentar a aliança Lula-Maluf. Como diria o José Simão: “O PT fez uma algema e não uma aliança com o PP.”.

Não sou petista, nunca fui, nunca tive simpatia pelo partido, nem em sonho. Não sou lulista, nunca fui, nunca tive simpatia por ele (até porque sempre trabalhei e muito). Contudo, não tem como dizer que não acompanhei desde o nascimento do PT até a sua chegada ao poder maior, na figura do Lula.

Quando o partido surgiu, os militantes pagavam carnês de contribuição no mesmo banco que eu tinha conta.  Eu morava em Londrina e era uma época em que ficávamos na fila de banco para, desde retirar dinheiro, até pagar uma simples conta de luz. E aí víamos pessoas simples, do povo, com o carnezinho na mão e ajudando o partido a se fortalecer. Acho que daí que veio uma parte do dinheiro pra custear toda a trajetória dos companheiros.

Não vou contar a história do partido, que se confunde com a história do Lula, dos sindicatos, das greves e de toda oposição que ele fazia a qualquer ideia dos outros partidos, fosse boa, fosse ruim. Isso mesmo:  tinha muita oposição por oposição. Sabemos disso só agora, quando vemos o partido e seus representantes tomando decisões que outrora rechaçavam.

Parafraseando o próprio Lula, “nunca na história deste País” imaginaríamos uma aliança dele com o Maluf, um homem conhecido e fichado até pela Interpol. Um homem que celebrizou o “Rouba mas faz.”.

Chego a pensar aonde chega o desespero de um político, a ponto de vender a alma ao diabo. Ou poderíamos usar a frase “cuspir no prato que comeu”? Os petistas e os lulistas sempre posaram de ilibados, de defensores do patrimônio público, dos honestos trabalhadores. Mas que exemplo, heim?

Fico imaginando o que pensou um lulista ao saber que o seu ídolo foi até a casa do Maluf, pra fazer uma proposta de aliança.

Fico imaginando a cena do Lula chegando lá, e sendo recebido pelo Maluf. Isso porque nem quero imaginar o Maluf sendo contatado para receber o Lula em casa. Ele deve ter dado uma risada sarcástica e ainda esfregado uma mão na outra quando desligou o telefone, ou quando recebeu o e-mail, ou quando leu no Facebook que o Lula queria falar com ele, ou sei lá qual foi o meio do convite. (hehe)

Imagina o Maluf, um homem de reputação política abaixo de zero, ser interpelado nada mais nada menos que pelo Lula. Deve ter se sentido o máximo, como nunca se sentira na vida. Deve ter pensado que nem em milhões de encarnações imaginaria aquele cenário todo.

Será que quem começou pagando carnezinho, quem engrossava as greves por melhores condições no trabalho, quem deu seu voto pra que o partido chegasse aonde chegou, imaginou algum dia o Lula na casa do Maluf, pedindo apoio?

É isso aí. O rei está nu!


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terça-feira, 12 de junho de 2012

AOS NAMORADOS


Charge de Walter Martins/UOL, de hoje.

Hoje publico uma música muito bonita, que ouvi agora à tarde, bem pra Dia dos Namorados. Está no player ao lado, é a música número 10: Cheiro de Amor, Maria Bethânia. Coloque pra tocar e comece cantando:

“De repente fico rindo à toa sem saber por que
E vem a vontade de sonhar de novo te encontrar
Foi tudo tão de repente, eu não consigo esquecer
E confesso tive medo, quase disse não
Mas o seu jeito de me olhar, a fala mansa meio rouca
Foi me deixando quase louca já não podia mais pensar
Eu me dei toda para você.”

Namorar é bom demais! Pena que os namorados casam, vão viver juntos, enfim, e passado um tempo se esquecem de como é namorar. E ainda dizem que os casados são “eternos namorados”. Alguns espécimes até são... ainda bem! (hehe)

“De repente fico rindo à toa, sem saber por que”. Pode notar que é exatamente assim nosso comportamento quando a gente está enamorada. E ainda mais no começo!  

Ah, o começo do namoro! Como é bom! Se a gente pudesse gravar cada emoção, cada detalhe, não na cabeça porque essa é traiçoeira (hehe), mas como num filme, pra depois relembrar! Seria o máximo! Acho que riríamos de nos vermos as felizes mais abobadas do planeta. É claro, que quem se desiludiu vai me dizer que nem gostaria de lembrar mais. Mas o que vale, o que vale mesmo, independente se deu certo ou não o relacionamento, é a sensação gostosa do frio na barriga e do pensamento que nos faz rir à toa. É uma sensação de estar viva pra alguém, que não a gente mesma. E, não raras vezes, o mundo pode estar acabando enquanto estivermos rindo à toa. No mínimo, o mundo olhará pra gente e saberá, sem dúvida alguma, que estamos apaixonadas.  (hehe)

“Foi tudo tão de repente, eu não consigo esquecer”. Essa é a frase dos grandes amores, ou dos escritos nas estrelas; todos repentinos, saídos do nada ou oriundos de um reencontro. E ainda há quem jure que, depois da desilusão que sofreu, nunca mais vai se apaixonar por ninguém. Eu tenho pena de quem pensa assim. Quem é que dá conta das coisas do coração? De repente ele bate mais forte que a nossa razão, e não há quem o faça esquecer! É um nocaute do coração sobre a razão. E está aí a música que não me deixa mentir: “e confesso tive medo, quase disse não.”

“Mas o seu jeito de me olhar...” Taí outra coisa que não engana, não falha e fala mais que um milhão de palavras: o olhar. Bastou que ele cruze o nosso e que as nossas energias se afinem, pra que percamos de vez a razão. E esse olhar será conhecido por gerações, pois será o começo da história pra quem quiser ouvir: “ele me olhou, eu olhei pra ele!” 

E há quem diga que não tem tempo pra namorar, que não quer se envolver, que prefere só "ficar", que prefere se relacionar via internet, que acha um monte de empecilhos pra não viver uma das melhores fases da vida de um ser humano. Namorar dá colorido à vida, à pele, ao mundo. Namorar dá um "up" na qualidade de vida. Coloca num gráfico pra ver! (hehe)

Feliz dia dos que gostam de namorar! Que ele se perpetue pelo resto de suas vidas! Esse é o meu sincero desejo. 


                                                               Amorosamente! 


                                                                     Maricota

sexta-feira, 8 de junho de 2012

UM MOTIVO PARA SORRIR


www.jornale.com.br - Ruy Barroso

No ano passado visitei dois lares de idosos, que funcionam um ao lado do outro, aqui em Londrina. Iguais ao que eu fui, há muitos outros espalhados pelas cidades do Brasil e do mundo.

Nesses lares há idosos que não têm família; há os que têm, mas a família não tem disponibilidade de tempo e até mesmo vontade de ficar com eles; há os que resolvem ir por conta própria, por não se darem bem com seus filhos, ou por se sentirem fardos (a mais) para seus próximos mais próximos; há os que nem têm noção de que estão ali, pois estão “em outro mundo” criado e mantido por eles mesmos; há os que têm problemas de locomoção ou são doentes e carecem de cuidado o tempo todo, e que não o teriam em casa; enfim, há pessoas com “n” motivos para estarem ali.

Esta semana, fui a outro, numa cidade vizinha, por conta de um trabalho voluntário que faço.

Sabe, que saí pensativa de lá.

O Lar fica de tal maneira no terreno, que não dá para ver a rua. O terreno é pequeno, mas para chegar até a casa, passamos por um jardim com flores e árvores. Ainda bem! O pessoal que os atende me recebeu com muito calor humano e alegria. 

Mas sabe, saí pesarosa de lá.

Estava chovendo, como hoje, frio, cinza,  tudo muito úmido. Alguns dos idosos estavam sentados na varanda, com olhares tão tristes! Passei por eles, os cumprimentei e a maioria ficou me olhando sem nada dizer. Fico pensando que não deveria haver dias cinzas e chuvosos nos locais onde abrigam velhinhos e velhinhas assim.

Dentro da instituição, as lâmpadas fraquinhas, os idosos na penumbra, sentados em sofás, ou perambulando de um lado a outro.

Enquanto eu conversava com a moça que trabalha na instituição, passa uma senhorinha e diz pra mim: “Estou aqui já faz um tempão. Eu moro aqui, viu.” A moça olhou pra ela, confirmou sorridente, e continuou a me atender com uma atenção de fazer sombra pra muita balconista de loja.

O meu pesar foi por aquelas pessoas, seres humanos, vendo a vida passar, tristes, num lugar úmido e escuro. Coloquei-me no lugar delas, e vi que morreria logo se vivesse assim.  Já não gosto de dias frios, chuvosos e cinzas (não é à toa que me mudei de Curitiba para cá), quanto mais se tivesse que viver em um lugar que não é meu, no qual não posso dizer que sou dona de um simples copo da cozinha, sem pessoas da família por perto, com um tempo enorme pra ficar “ruminando” o passado, e volto a dizer, em um lugar escuro, no fundo de um terreno. E aí, qual o motivo que eles teriam para estarem alegres? Deus meu! O inferno é aqui na Terra mesmo!

É em lugares assim que a ficha da gente cai.

Corremos tanto atrás de poder, de status, de “um lugar ao sol”, e boa parte das vezes chegamos lá, ficamos torrados de sol, mas ainda reclamamos de um monte de coisas. De que a comida não está boa, de que estamos trabalhando demais, de que estamos estressados, de que não podemos sair porque não temos roupa, de que não temos tempo pra nada, de que fulano não colabora, de que não temos sorte só porque uma coisinha de nada não deu certo. Deveríamos sempre visitar abrigos de idosos pra ver o que é sofrimento. Pra ver que a nossa vida é simplesmente maravilhosa, mesmo a comida tendo saído salgada, mesmo o nosso companheiro tendo  discordado da gente, mesmo que estejamos estressados pelo trabalho (ainda bem que temos um!), mesmo quando o que a gente queria tanto não deu certo.

Sabe... li em algum lugar que se a gente quer  comparar a nossa vida com a de outra pessoa, que olhemos para baixo, e não para cima. Seguramente vamos ver a nossa vida com outros olhos: mais receptivos, com menos severidade, com mais complacência. E mais: vamos aprender a ter compaixão pelo outro. E compaixão de qualquer forma, pois muitos idosos vão para esses lares porque uma vida inteira foram algozes de suas famílias, e estão tendo o retorno. Sim, não sou ingênua em colocar toda a culpa nos familiares e na sociedade pela estada desses velhinhos nessas instituições. Cada qual tem o seu quinhão, sua parcela de responsabilidade por suas vidas. E a maior parcela, não nos esqueçamos, é a da gente mesmo. 

Contudo, apesar de ter saído pesarosa do Lar, quando me lembro dele, me vêm à mente as pessoas que se dispõem a cuidar daqueles velhinhos. Se os velhinhos não têm motivos pra sorrir, quem cuida deles tem pelo menos um: a caridade que fazem, embora remunerada. 


quarta-feira, 30 de maio de 2012

UMA BOMBA EM DOSES HOMEOPÁTICAS


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Para mim, um dos piores sentimentos que existe é a inveja. É pior do que a bomba atômica. A bomba acaba de vez com a pessoa; a inveja vai acabando em doses homeopáticas. É claro que não é tão simplista assim. Depende muito da importância que o invejoso dá ao seu sentimento e o invejado também. Depende muito da frequência do pensamento dos dois.

Não raramente a inveja está associada à baixa autoestima do invejoso.  Não raramente a inveja é decorrente de ver luz no outro, em contraponto com a falta da sua. Sabe... penso que a pergunta é: o que eu posso fazer para a minha luz brilhar tanto quanto a do outro? É preferível esse autoquestionamento,  ao sentimento de botar o olho no outro e querer prejudicá-lo de alguma forma.

A inveja existe desde que o mundo é mundo. Dentro de casa, no trabalho, na vida em sociedade, na vida virtual.  E o pior é que não raras vezes apesar de ser algo silencioso, causa uma mudança de comportamento enorme na vida do sujeito. Bem... dos dois envolvidos. O invejoso ou passa a evitar o invejado (mas bastou uma oportunidade quer saber dele), ou gruda nele para viver os seus passos. O invejado, por sua vez, se não notou ainda o sentimento do seu “algoz”, o fica retroalimentando ingenuamente e nada colhe de bom dessa relação. Se notou, acaba se afastando pra justamente não dar “milho aos porcos”.

Pode notar que atrás do sentimento de ódio pode haver um sentimento contrário embutido, ou melhor, enrustido: o do amor. Por detrás de uma inveja tem um reconhecimento da capacidade do outro; o outro ocupa um “trono”.  E o problema é justamente este: o trono está ocupado!

A inveja paralisa a vida do invejoso, na medida em que os pensamentos são tomados por redemoinhos que não saem do lugar. É um tal de maquinar  próximos passos, imaginar o pensamento do outro, jogar verde pra colher maduro, armar pequenos boicotes nas situações mais inusitadas ou inesperadas, quando o invejado sequer tem tempo de armar a guarda.

Quantos amores são enterrados pela inveja; quantas carreiras são interrompidas ou ficam paralisadas pela inveja; quantas amizades bonitas poderiam ter nascido se a inveja não tivesse se instaurado; quantas pessoas sofrem por ondas negativas poderosas, advindas do orgulho e do egoísmo.

Não consigo dissociar a inveja de outros dois sentimentos: o orgulho e o egoísmo. Orgulho por não reconhecer, muitas vezes, que ainda precisa trilhar caminhos que o outro já trilhou; orgulho pela falta de humildade em admitir que talvez não consiga chegar aonde o outro chegou, por qualquer motivo, afinal de contas somos indivíduos, únicos.  No máximo conseguiremos seguir um exemplo, jamais seremos iguais. Ainda bem, pois é exatamente isso que nos faz singulares e espetaculares. Se o invejoso pudesse ter esse discernimento cuidaria mais da sua vida.  Mas não. Egoísta, quer para si o que é do outro, não podendo ter paciência e humildade para fazer do outro um exemplo a ser seguido e não invejado.

Sabe... acho que os anos me ensinaram que ao invés da gente sentir inveja de uma pessoa que está em melhor posição que a gente (segundo nossos critérios, é claro), deveríamos nos associar a essa pessoa e fazer de tudo pra aprender com ela. A gente cresce assim, e mais rápido. Pena que o invejoso ache que no mundo tem lugar só pra ele!

segunda-feira, 28 de maio de 2012

QUERIDAS CARTAS

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Hoje, na academia, conversando com uma amiga, ela me diz que, juntamente com o noivo, marcou a data do casamento:  janeiro vindouro. Acompanhei, nos últimos meses, uma pequena turbulência no namoro dos dois.  Hoje, chegamos à conclusão que o ocorrido acabou fortalecendo a relação, como se precisasse dar uma chacoalhada pra colocar as peças no lugar, ou pra mostrar que não é preciso ter medo da felicidade a dois. Sim, há muito casal que briga por medo (inconsciente) de viver um sentimento tão gostoso, de aceitar a possibilidade de se entregar mais ainda, de tornar a intimidade mais íntima ainda.

Contei a ela que quando lembro do seu noivo, sempre me vêm à mente as postagens de amor que ele fez no Facebook quando estavam estremecidos. Um dia, ela reuniu várias, para saber da minha opinião, e enviou-me por e-mail. Puxa... como é gostoso ler um homem falando de amor, não sendo ele um poeta, nem um escritor; sendo ele um simples mortal. E tinha dias que eu “brigava” com ela, e a alertava de que pensasse bem para não fazer bobagem e jogar pela janela a possibilidade de viver o amor com um homem que, escrevendo, eterniza o seu sentimento.

Falando a ela sobre as postagens do noivo, lembrei que antigamente eram comuns as cartas trocadas de amor. As mulheres, na sua maioria, guardavam-nas. E, geralmente, eram guardadas em maços, ou dentro dos livros, ou em caixas decoradas. Sugeri à minha amiga que imprimisse os escritos (embora uma ação antiecológica), pois daqui a vinte anos ela poderá relê-los, caso não tenha mais o Facebook ou caso ele seja substituído por outra rede, sei lá, a tecnologia anda a jato. (hehe)

Já contei aqui neste blog, que volta e meia acho bilhetinhos de namorados, ou dedicatórias em livros, e que adoro. Não foram escritos para outra pessoa, senão que para mim! Acho que a gente de vez em quando perde essa noção. É a mesma coisa a história do presente. O mais importante não é o produto, mas sim a intenção e toda a trajetória invisível pelo qual ele passou até chegar ao destinatário. O desejo, o pensamento, o  deslocamento até a loja, a escolha, o cuidado em pedir para embrulhar em papel especial, a espera para a entrega, a expectativa na sua abertura, o abraço de agradecimento.

A mesma coisa com as cartas. Não é o papel em si, é o sentimento “plasmado” com tinta o que importa.

Acredito que também possamos estender para os e-mails – as nossas cartas do presente, que acho que já estão indo para o passado, visto que tem muita gente que não os usa mais, por causa das redes sociais. Eu ainda gosto muito. E fico muito feliz ao abri-los quando endereçados somente a mim, a mais ninguém, e ainda com conteúdo para a alma.

Também no dia de hoje, recebi um e-mail de um amigo, que fora endereçado a outras pessoas que não só a mim, e que continha dois pequenos textos de títulos “Você tem a liberdade de escolher novamente.” e “Confie em seu coração. O Amor é o alicerce básico da vida.” E, como gostei muito dos textos, retornei com meus comentários, e recebi de volta com os comentários dele. E, como sempre, desse meu querido amigo, era de se esperar palavras boas, dessas que fazem o dia da gente, principalmente quando o dia está meio cinza. Dessas palavras que parecem que chegam nada ao acaso; que chegam com tudo a ver. Desse mesmo amigo recebi, somente eu, no Dia da Mulher, um e-mail que, como uma carta, vou guardar para sempre, no meio de um livro.

Então, mesmo sem a licença de meu amigo, transcrevo o e-mail que recebi de volta,  em resposta ao meu, pra você, leitor do meu blog, ver como é gostoso trocar “cartas”.

...
Devolvo a boa tarde para você, e concordo em gênero, número e grau com a sua visão sobre o “Eu tenho que”.

Nada de obrigação, é verdade, mas o foco deve ser a transformação interna de cada um, com sua posterior manifestação externa.

Acredito, querida, que o trabalho mais nobre é o da construção do ser humano, descobrindo a interdependência de tudo. Parar, pensar, eventualmente sofrer um pouco. Mas, no final, entender quem somos, o que sentimos, o que estamos fazendo neste mundo.

Um desafio está posto neste momento de mudanças da vibração planetária: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser. De coração a coração.

Também, tal como você, estou dentro quando o assunto for amor e coração. Essa combinação, portanto, muito me agrada.

Uma semana supimpa é o que lhe desejo por ora. Com afeto,...

Sim... seguramente será uma semana supimpa!

quinta-feira, 17 de maio de 2012

MEIA-NOITE EM PARIS



Assisti, nesta semana, ao filme “Meia-noite em Paris” (Midnight in Paris), do Woody Allen, e adorei! Puxa, dá pra tirar um monte de lições dele!

Como o filme mostra, claramente, o quanto é importante estarmos em sintonia com um companheiro! Que ele goste da maioria das coisas que gostamos, que nos admire, que compartilhe dos nossos sonhos, que esteja do nosso lado nas ideias e literalmente. Que tenha  ideais parecidos, que goste de estar na presença da gente.

Você vai dizer: mas isso é normal! Nem tanto! Muitas vezes entramos num relacionamento pensando que a pessoa é de um jeito e depois acabamos (com a convivência) vendo que não é, que foi só um encantamento. Certamente mais pra frente o desencantamento acontecerá. E é engraçado que, boa parte das vezes, o desencantamento vem de fora: encontramos outra pessoa com quem nos afinamos mais, ou que nos mostra um outro lado, mais parecido com o nosso. E não necessariamente precisa resultar em um envolvimento com essa segunda pessoa. Quem sabe a sua função foi cumprida: nos ajudar a fazer a passagem,  a saída do relacionamento que não estava bom?!

No filme, o tempo todo, a noiva do protagonista (ele se chamava Guill) o diminuía. É muito ruim estar com alguém que compete com a gente ou que não acredita no nosso potencial. Alguém que nos trata bem quando quer alguma coisa da gente, por interesse, ou por má-fé. Ou que esteja com a gente porque vê uma possibilidade futura de se “dar bem." No filme, a moça tinha interesse na vida boa que ele poderia lhe proporcionar. E sabe, penso que quem estiver conosco tem que estar por inteiro, íntegro, pelo que a gente é. E o quanto é importante fazermos o exercício de ouvir o outro, principalmente os amigos, quando eles nos dizem, sinceramente e de coração, que fulano não gosta da gente do jeito que mereceríamos ser gostados. O triste é que nem sempre enxergamos isso. (hehe) Quem está de fora enxerga melhor. Sem contar que ora temos uma baixa avaliação da gente, ora temos alta demais. Esses dois extremos são muito perigosos. Se de um lado um deles nos leva a sermos escravizados pelo parceiro, o outro leva a não enxergarmos alguém que pode ser o nosso grande amor, por exatamente nos acharmos merecedores de muito mais. E esse muito mais pode já estar do nosso lado e não o enxergarmos. 

O filme mostrou, também, que não podemos, nunca, desistir de um sonho, em detrimento do que os outros vão pensar. Quantas vezes somos criticados por termos sonhos que não são tão grandes aos olhos financeiros, mas são grandes aos olhos do sentimento, do coração, do nosso desejo e não do outro. Mostrou ainda o quanto é difícil (já falei acima), quando quem está ao nosso lado não entende o nosso sonho, ou o zomba, ou o diminui. E a dureza que acontece exatamente como aconteceu com o Guil: demoramos um pouco pra mandar às favas esse  nosso companheiro. Acabamos por aguentar um tempão (como somos masoquistas mesmo!) até que algo externo nos mostre que estamos com a pessoa errada.

Outra lição que tirei foi que quantas vezes nos refugiamos no passado quando estamos com medo de viver o presente? E como é comum sermos saudosistas, ou começarmos a ler ou escutar tudo que é de outra época, e nos acharmos mais afinados a ela do que à atual! Como uma fuga mesmo. Só que sem se dar conta dela. A gente sempre imagina que outra época foi melhor, quando algo está nos incomodando. E o que na realidade precisamos é descobrir e resolver o que nos incomoda no nosso tempo presente, que é o que realmente temos, agora, na nossa jornada evolutiva. Está aí... talvez isso seja a chave para a felicidade, para a paz. E não tentar viver o que não pode ser vivido mais.

Contudo, vivendo esse passado, Guill nos mostrou, e foi o mais bacana de tudo, o quanto é libertador podermos ser nós mesmos, e podermos conviver com pessoas que gostam da gente do jeito que a gente é! E foi justamente por conviver com seus “pares”, que Guill conseguiu dar “um pé na bunda” da sua noiva. Isso também foi libertador ver no filme. (hehe)

Puxa, teria muito mais coisas a falar, de tanto que gostei! Fica a dica pra quem não o assistiu: aproveite o friozinho, tempo propício pra pipoca, chocolate quente, e um bom filme de iluminar a alma!

quarta-feira, 9 de maio de 2012

DIAS DE "BUSÃO"


Simon - www.pinterest.com

A gente precisa deixar o carro em casa e andar de ônibus, pra ver o mundo. Quem anda direto de ônibus vai dizer que a minha apologia a esse transporte é porque eu não me utilizo dele sempre. E vai me cobrar: "ande de ônibus todos os dias, pra você ver!" É... a qualidade do transporte, no país inteiro, não anda lá essas coisas mesmo. (hehe)

É claro que eu poderia usar de um argumento adicional: o ecologicamente correto que é deixar o carro em casa e usar o transporte coletivo. Mas não é esse o meu objetivo, por agora.

Três dias sem o carro, em manutenção, e lei de Murphy: precisei mais dele do que quando o tinha disponível. Solução: ônibus.

Treinei várias virtudes, dentre elas a paciência, a generosidade, a indulgência, a contemplação. Esperar no ponto, dar lugar para os mais velhos, dividir o espaço apertado depois das 18 horas, prestar atenção à paisagem.

E (re)descobri que a gente conhece a cidade de dentro de um ônibus e não na frente de um volante do carro. Aproveitei para prestar atenção nas casas comerciais e descobri que havia algumas que as imaginava em outro endereço.

Da janela alta do ônibus vi algo extremamente curioso: um pé de manga carregado, no pátio de uma igreja. Tudo bem se fosse época. Mas não é!  As mangueiras começam a florir em novembro e as mangas começam a madurar em dezembro. Agora é época de poncãs, tangerinas, mexericas, todas de início do frio. Manga gosta de calor! Bem... tanta coisa está mudada hoje em dia! Acho que até as mangueiras estão confundindo seu tempo!

Entro no terminal de ônibus urbano, e mais uma vez fico indignada com a administração da cidade. O horror dos horrores: escadas em estado péssimo de conservação, paredes sujas, escuridão nos guichês, gente tentando vender passagem mais barata do lado de fora das catracas. Deus que me livre, mas é o inferno em vida! E o pior é que a gente acaba se acostumando com o cenário. Já falei aqui, neste blog, do quanto é pernicioso a gente olhar uma parede rachada e se acostumar a ela, sem questionamento algum, sem querer saber o porquê da rachadura, sem querer arrumar, sem querer melhorar. Não falo da questão material apenas. Da espiritual também, na medida em que aceitamos, resignados, que o nosso voto não dê em nada. Que aceitamos ser passados pra trás, ou desconsiderados (talvez seja a melhor palavra), mesmo a gente  pagando os impostos em dia, e em tudo o que é coisa. É aceitar viver com  "mais ou menos", quando a gente tem direito a viver com "mais".

E aí entro no ônibus e vejo o cobrador dando conselhos para uma passageira, e conselhos muito bons! De que a vida é cheia de problemas mesmo, mas que a gente nem por isso pode desanimar. Não é isso que Deus espera da gente. Que temos que reagir. A passageira ouve aquele homem, com atenção total. Mas é claro: ele tinha palavras confortadoras pra dizer, coisa que muito douto nas palavras não tem. Logo depois, a passageira desce em um dos pontos, com um agradecimento que me pareceu muito sincero. E lá diz o mesmo cobrador, num papo que engatou com outra passageira: “A vida é uma bola, senhora! Nós chuta pra cima, nós chuta pra baixo. Só Deus na causa!”. Vou descer, e já estava na porta quando o cobrador olha pra mim e me diz: “Vai com Deus!”  E eu que nem tinha conversado com ele, só estava prestando atenção, ainda saí abençoada! (hehe)

Já era passado das 18 horas, estou no ponto de ônibus, aguardando há mais de 20 minutos pelo que passa em frente do meu prédio. O ônibus chega e está simplesmente lotado. Entro, passo a catraca e qual a minha surpresa quando um rapaz se levanta e me cede o lugar. Não havia necessidade, uma vez que eu carregava apenas uma agenda e a bolsa. Mas diante da insistência dele e diante de que ele me justificou que eu estava com uma bolsa grande, e ficaria mais confortável sentada, aceitei. Pra quem estava cansada de ficar em pé no ponto de ônibus, e o destino (teoricamente) seria ficar mais um tempo ainda dentro do ônibus, foi surpreendente e maravilhoso o que aconteceu. Ainda existem cavalheiros! (hehe)

Sem contar o que amo fazer: ouvir estórias. E não há lugar melhor do que dentro de um ônibus. Prestar atenção em gente é algo ímpar. Dá pra fazer uma análise da nossa vida, a partir das estórias que ouvimos! Aliás, falávamos sobre isso, ontem, eu e minha irmã.  A gente precisa olhar para os lados, ouvir os outros, até para valorizar o muito que a gente tem de bom na nossa vida. Sim, porque as estórias que nos trazem lições são as de pessoas que têm menos que a gente, ou que estão passando por problemas maiores que os da gente, ou que se dispõem e se expõem em contar suas mazelas, ou que se abrem sem medo de serem criticadas, ou que são autênticas. E só sabemos disso quando nos dispomos a ouvir, com ouvidos de ouvir.

E nesses três dias de muitos ônibus, relembrei os tempos de faculdade, em que não tinha carro, e morava na capital. Deslocamento demorado, ônibus sempre cheios, mas que foram anos maravilhosos da minha vida. Voltava com a minha turma de amigos, amigos estes que tenho contato até hoje. Fora que me orgulho de poder dizer de onde vim e onde cheguei, andando de ônibus. Sabe, a gente não pode perder nunca de vista o caminho do nosso progresso, material e espiritual. Olhar pra trás e ter a medida do quanto crescemos. De podermos dizer, com orgulho: "hoje posso andar de carro, porém, cheguei aonde cheguei pegando ônibus!"

domingo, 6 de maio de 2012

DEMOROU!


Iris Learning - www.pinterest.com

Volta e meia, nas minhas conversas com os amigos, acabo abrindo minha caderneta de bolsa e anotando frases e expressões idiomáticas, que me chamam atenção pela inventividade e pela criatividade com a nossa língua portuguesa. Inclusive, uma das frases já foi uma postagem deste blog: a vida é muito curta pra ejetar o pendrive com segurança. Há um tempo queria postar mais sobre algumas frases que anotei, e hoje o faço.

Bem... comecei o parágrafo acima com uma expressão - volta e meia - que, já pelo fato de não ter uma explicação ao pé da letra, é idiomática. Dar uma volta e depois meia, pra quê? (hehe)

Boa parte dessas expressões sai da televisão, da música, da internet, de tipos engraçados, ou de personagens que traduzem um pouco (ou muito) o que a gente vive no nosso dia-a-dia. É como se fosse uma resposta coletiva, um chavão, que uma vez dito aqui será entendido em qualquer lugar do país; uma expressão curta que resume uma intenção.

Até hoje uso uma bem antiga: Ninguém merece! Nem me lembro mais sua origem. E gosto muito de uma, que aprendi há anos atrás, com um consultor de sistemas de Blumenau, e que acabo usando bastante também: se jogar nas cordas. Um exemplo de sua utilização: Seja assertivo já no início, porque senão, mais tarde o seu pessoal vai se jogar nas cordas!

De outra consultora, aprendi uma expressão que acho perfeita pra quando a gente precisa dar uma notícia ruim: Sinto muito mas, hoje, serei portadora de pouca luz! Essa mesma consultora usava outra expressão, que é do Luciano Huck, e que confesso que detesto: show de bola. Acho que não gosto, não tanto pelo Luciano, mas pela consultora mesmo, que sempre era mais portadora de pouca luz do que show de bola. (hehe)

Estou caminhando na rua com um amigo, e ele me conta que pintou uma tela, pela primeira vez, e que ficou um filé. Até combinou com o momento, pois acabáramos de sair de um restaurante, onde havíamos almoçado. (hehe)

Estou contando uma história para outro amigo, na realidade contando algo que deu errado, e ao final, para me consolar ele me diz: Pior! (hehe)

Solicito ajuda a um amigo pra vir na minha casa instalar um software, e lhe prometo que faria os sanduíches que fazem parte de uma das receitas deste blog, e que ele mesmo havia comentado sobre a cara boa deles. Assim que fiz o convite, ouço: Demorou! Pena que, realmente, demorou. Não o meu convite, mas o meu amigo mesmo. Ele não pode vir, e eu tive que me virar em instalar sozinha. Ainda bem que nem por isso me sequelei. (hehe)

Estou na sala de aula de um curso, quinta-feira, dia 12, quando o instrutor, limpando o quadro branco, nos diz: A mãe do Jason mandou ele dormir cedo hoje, porque amanhã ele tem que trabalhar.  Foi ótimo, pra uma véspera de sexta-feira 13! Todo mundo olhando pra ele, esperando mais conteúdo do assunto, e vem essa frase. Gosto desse tipo de quebra de seriedade. (hehe)

Estou batendo papo com uma amiga, ela contando do problema da irmã, que leva a vida fora da realidade, e ela me solta essa: Também, ela vive no mundo fantasioso de Barbie! (hehe)

Se você está sem namorado, aproveite o tempo para ficar. O seu ficante pode ser classificado como consumo interno. Uma conhecida reclamou que os tempos andam difíceis: não está conseguindo nem para consumo interno. (hehe)

As Livrarias Curitiba lançaram um concurso de contos, e uma recente amiga, no último dia de inscrição ainda estava em dúvida se mandava ou não o conto que escrevera. Motivo: leu o regulamento e, segundo ela, era tão rígido, como um casamento sem direito a divórcio. Mal eu acabara de rir da frase, ela me solta outra: quase um pacto perpétuo de sangue.

Reunião de amigas, todas arteiras em pintura de tela, o papo sendo os problemas nossos do dia-a-dia, lá pelas tantas a artista plástica do ateliê nos diz: Eu não fico romanceando um sofrimento. Riso geral. Peguei minha caderneta e fui anotar, ao que ela me diz que gosta muito de outra expressão: Por que você não se blinda? Fiquei pensando: puxa, a nossa língua a gente inventa. Até então não havia pensado sobre o uso, nessa forma, do verbo blindar. (hehe)

Até mesmo no centro espírita que frequento saem pérolas. Outro dia marquei o nome que o palestrante deu aos amigos benfeitores que nos acompanham: Engenheiros da Providência. Gostei!

E assim vai. Cada um de nós tem as frases que gosta de usar, expressões que nos diferencia dos demais e que até nos confere identidade. Agora mesmo estou me lembrando que, quando tinha 6 ou 7 anos, uma japonesa vinha vender verduras na porta de casa. Pela dificuldade de falar o português, ao cobrar a sua venda uma de suas palavras nos chamava atenção: "dondinto”. Significava “duzentos”. Eu e minha irmã apelidamos aquela senhora  de “a mulher do dondinto”. Lá vinha ela, e nós gritávamos: “Manhê, a mulher do dondinto está chegando.”  (hehe)

Uma vida inteira vamos inventar e reinventar a nossa língua. Talvez seja uma maneira de lidarmos com sua dificuldade (o português é muito bonito e igualmente difícil), de resumirmos um sentimento, de dizermos alguma coisa quando não sabemos ou não podemos dizer, ou até mesmo de encurtar uma história.

O fato é que tenho certeza que de alguma expressão você deva também ter se lembrado. Se não agora, numa hora oportuna.