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Dez horas da noite. Termino de passar a segunda demão de
tinta no aparador do pequeno hall de entrada do apartamento. Sim, o mesmo
aparador que há “centenas” de postagens atrás, eu disse que comprara para fazer uma pátina.
Só agora “deu tempo”. Melhor: só agora
ele pôde ser o foco, pois tempo a gente sempre arruma, se quiser. Não fiz a
pátina, apenas pintei de branco. Está ficando lindo!
Mês passado passei dias e dias pintando rodapé do
apartamento. Ontem e hoje, o aparador. Amanhã ainda tem o verniz. Todo mundo
deveria se arvorar em pintar alguma coisa, de preferência superfícies grandes,
como paredes. Ou móveis com detalhes, como o meu aparador. Nunca pensei
tanto na vida, enquanto pintava! E olha que sou uma pessoa que já pensa muito,
seja pela profissão, seja por ter já feito análise mesmo. (hehe) Os pintores deveriam ser as pessoas mais bem
resolvidas do planeta. Ou com as quais a gente poderia sempre procurar
desabafar, pois acredito que saibam ouvir muito bem. (hehe)
Quando estava pintando os rodapés (havia uma finalidade pra
isso), contei para um amigo que nas horas que eu pegava firme no ofício, ora eu
escutava música, ora eu escutava DVD, ora eu
ficava um tempão em silêncio, pensando na vida (minha e de outras pessoas), (re)fazendo
projetos, lembrando de alegrias e de tristezas, curtindo saudades. E fiquei
surpresa com o quanto ele prestou atenção quando eu contei no que pensava nas
minhas horas de silêncio. Nunca esperava que ele comentasse que sente
necessidade, muitas vezes, de ficar sozinho assim, e que quando pode, curte
muito, como eu curti. Ele me falou de um jeito que me pareceu ter até “invejado”
e desejado estar no meu lugar. Acho que minha irmã diria que por aí pode se começar uma análise. (hehe) Hoje, enquanto
pintava o aparador, lembrei-me do amigo novamente.
Lembrei-me também de minha avó Malvina, ao sentir o perfume de
alguém que pegou o elevador (estou pintando o aparador bem perto da porta de
entrada do apartamento). Era um perfume gostoso, mas forte; minha avó era vaidosa, e a vaidade que tenho vem dela. Nem tanto de perfume forte, mas de gostar de me arrumar. Lembrei-me da Dona Malvina e me deu uma saudade tão
grande, que me peguei perguntando onde ela estaria uma hora dessas. Em que
plano? Será que estaria me vendo pintar um móvel, resolvendo mais uma coisa por minha conta, ela que era também despachada pra resolver tanta coisa. Ela
que sentada na máquina de costura, sozinha, parava algumas vezes, e olhava ao
longe, os pensamentos indo mais longe do que o olhar. Pensativa, como eu, agora sentada no chão da sala, com as mãos cheias de tinta, e o pensamento distante... como num balão.
Entre uma pincelada e outra lembrei-me (novamente) da música
do Chico Buarque que diz “é desconcertante rever o grande amor”. Havia contado isso para uma amiga, na
academia, hoje pela manhã. Pra mim, nenhum outro compositor traduz tão bem, em
canções, os sentimentos de uma mulher, como Chico Buarque. Assim como nenhum outro
escritor entende tão bem a alma feminina como o Fabrício Carpinejar. Por que
lembrei-me do Chico? Porque foi desconcertante rever, ontem, um não tão “grande
amor”, mas um amor importante, como todos os que passaram na minha vida. Foi um
misto de uma coisa boa, com uma coisa ruim, adicionado à dúvida de como teria
sido, se tivesse sido, se pudesse ter sido. Ajuntei o meu pensamento com uma
das crônicas do último livro do Carpinejar, que terminei de ler. O título da
crônica, por si só, já diz tanta coisa:“O Quase é Tão Cheio de Tudo”! E na qual
ele termina dizendo “Como eu amo quem se importa em amar, apesar de tudo.
Apesar de tudo.”
No meio da pintura resolvo entrar no Messenger, pra dizer a
uma querida amiga o que eu pensei ser melhor pra ela: um blog ou um site? Fora
que me deu uma vontade enorme de conversar novamente com ela, para ver se estava
melhor, desde ontem quando conversamos e que vi que ela precisava falar. E pareceu-me bem
melhor! Já tinha se decidido pelo blog e até começado. Voltei para o aparador
pensando: como é bom quando a gente se abre com alguém e depois vê a vida recomeçar
a andar. Como é bom ter alguém para falar, e como é bom ser o alguém que ouve!
Dias desses numa das palestras do Haroldo Dutra Dias (palestrante espírita),
ele disse mesmo que nas aflições da vida da gente (que não são poucas),
deveríamos olhar para o alto e não para baixo. E eu penso que o “alto” pode ser
tanto Deus, quanto um amigo, quanto um psicólogo, quanto alguém que pode
nos mostrar onde estamos errando ou não falar nada mesmo, mas que tenha misericórdia, que tenha bondade
para ouvir. Quantas vezes é o suficiente!
E pra não esquecer desses momentos de introspecção artística
(ou arteira, porque não sou pintora), estou decidida a pintar as paredes do
apartamento, a partir de janeiro. Um cômodo por mês, calmamente. Gostei de
conversar com as tintas, gostei de ver a limpeza que a gente faz, tanto
material quanto espiritual. (hehe) E quem sabe, será a dois! Dividindo o silêncio,
sendo cúmplices do silêncio, pra contar um para o outro no que ficamos
pensando. Taí um item para a minha lista de ano novo!
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