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Tenho uma amiga que, depois do término do relacionamento, me
diz, pesarosa: “o que eu mais gostaria é de voltar a ser como eu era, antes de
ter conhecido o fulano.” De tudo, de
tudo o que sobrou, esse é o tamanho, o sentido da sua dor, da sua perda, do
seu luto.
Quem já não procurou por si mesmo, depois de um término de
um namoro ou de um casamento, principalmente quando saiu ainda gostando do
outro? Eu já, razão pela qual entendo perfeitamente minha amiga, palavra por palavra.
Como é difícil a gente catar os cacos, pra tentar ajuntar e voltar
a ser o mesmo vaso de antes? Como se a
vida antes do nosso amor fosse melhor. Até poderia ser mesmo! Mas poderia não ser! Mas é a nossa referência
pra tentarmos entrar nos eixos novamente. A ruptura de um relacionamento, de um
encontro que não vingou, de um amor impossível,
de uma união que desejávamos manter e não conseguimos, nos tira do centro, do
prumo, nos perde de nós mesmos, quando não, ainda fica gravada ad-aeternum,
encarnações a fio.
Como é difícil lidar com o
luto amoroso! Talvez mais do que o luto por morte física de um ente
amado. Falo do luto pela perda de alguém que continua vivinho da silva.
Não sou a melhor pessoa pra comparar esses dois tipos de
luto, pois ainda não perdi meus pais, nem irmãos, nem ninguém próximo mais
próximo de mim, por morte física. Dizem que perder um filho é a pior dor que
existe. É a pior saudade que dá na gente. Só que, eu como espírita, penso ser
mais fácil aceitar a morte física, que afinal de contas é somente física mesmo,
porque a pessoa, a sua essência, o seu espírito, só muda de lugar, de plano.
Mas o luto pela perda de alguém que a gente ama, e que não pode mais ficar
junto dela, pelo simples motivo de que ela não nos ama mais, é muito dolorido
por demais. Mistura fracasso, raiva, amor, um monte de questionamentos a nós
mesmos, ao outro, ao mundo! Mistura orgulho ferido, autoestima, desejo de revide,
e até alívio, pois acontecem os momentos em que
nos pegamos aceitando a separação e nos imaginando livres, leves e
soltos, para um novo amor.
Quer pior coisa que andar pela cidade sabendo que o “falecido”
respira o mesmo ar nosso e levanta de manhã sem o nosso bom dia e está tudo bem
(pra ele)? Que está beijando ou vai beijar outra, vai transar com outra, vai
falar palavras carinhosas para outra, vai se importar com outra, vai nos
esquecer ou já nos esqueceu? Quer pior luto que esse? Se estivesse morto,
fisicamente, nosso desejo de posse estaria resolvido: não é nosso, mas não é de
mais ninguém também! Ou vai me dizer que não tem posse no amor? No estágio em que
nos achamos aqui na Terra, ainda vai demorar muito pra amarmos o outro a tal
ponto de não nos importarmos se ele está com outra e não conosco. (hehe)
Já uma vez morto, estamos livres, imediatamente, pra outro
relacionamento. Não tem volta mais. Vai ter o luto, vai! Mas há a certeza
absoluta de que não há volta (pelo menos nesta encarnação). (hehe)
Agora, o luto por um vivo pode durar um tempão! Mente quem
diz que não tem esperança da volta, esperança do fulano repensar e descobrir
que também não está conseguindo ficar longe da gente. Só que isso pode durar
meses, anos, pelo simples fato dele estar vivo, e nós também (e pior que isso, estarmos
esperançosas). A esperança é algo que todos temos que ter, e não temos sequer o
direito de tirá-la de nós, muito menos dos outros. Mas, às vezes, ela é
masoquista, pelo simples fato de imaginarmos a volta de quem não vai voltar
mais! O desejo é outro vilão: faz-nos
felizes, mas também empata-nos a vida, quando ele quer. Daí só mesmo o Analista
pra ajudar a entendê-lo. (hehe)
Não tem como fugir do luto da perda de um vivo; nem o
mortal mais analisado do planeta consegue fugir dele. Mas uma vez cumprido, uma
vez passado por ele, de certa maneira voltamos mesmo a ser o que éramos antes
de ter conhecido o "objeto" do nosso luto. É engraçado, mas parece que a vida
deslancha, voltamos a fazer coisas que havíamos abandonado, como sair com os
amigos, curtir as nossas coisas sem precisar da aprovação dele, nossa
autoestima volta aos níveis normais, as coisas deslancham, os trabalhos fluem,
e nos pegamos até nos perguntando “como que eu fiquei numa nuvem tão negra todo
esse tempo?!”.
É... amar é assim. Um dia estamos vestidas de rosa, outro
dia vestidas de preto. Penso que chegaremos um dia, na nossa evolução, a usar o
preto, mas por pouco tempo. Dizem mesmo que a gente cresce como pessoa na
medida em que conseguimos diminuir nossos momentos de luto. Acabar com eles
será impossível, pois eles têm a sua função e que é muito digna: por vezes
precisamos da dor para aprender. Mas penso que ainda vamos aprender sem
precisar da dor, só do amor.
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