sexta-feira, 20 de abril de 2012

VOCÊ NÃO TEM FACE?


É impressionante como as pessoas se admiram quando digo que não tenho Facebook pessoal. E pior, sendo eu da área tecnológica, a cobrança é maior ainda.  Uns fazem chacotas, outros ficam me olhando por alguns segundos, pensativos, e acho que até  pensam: "Coitada, deve ser muito tímida ou antissocial!" (hehe)

Fico tentando imaginar o que imagina uma pessoa sobre outra que não está no Face. E eu fico imaginando o que seria de muita gente sem o Face.

Tem gente que chega em casa, não conversa com ninguém, mas vai pra frente do computador e fica horas naquele papo com muito “kkkkkkkkkkkkkk”, muita palavra pela metade, muita frase curta, tudo superficial. Às vezes nem sabe o que os pais pensam ou o que fazem os irmãos ou quem são os vizinhos. Ou melhor, podem até saber se todos eles estiverem na rede. (hehe)

Ontem terminei um curso, onde alguns colegas assistiam às aulas ao mesmo tempo em que conversavam no Face. Fico pensando que a mente de uma pessoa assim já deva estar acostumada a ver dois conteúdos diferentes, que requerem atenção, ao mesmo tempo, e assimilá-los de forma igual. Deve conseguir, não é mesmo?

Anos atrás eu dava aulas e não havia redes sociais. Já era difícil pra muita gente assimilar com o foco somente em um assunto. Fico imaginando se fosse agora, como me sentiria, como instrutora, ao estar explicando ao aluno e ele batendo papo na rede? No meu tempo (sou antiga mesmo, admito) isso seria tomado como falta de educação. Não quero voltar a dar aulas mais! (hehe)

É claro que as redes sociais têm o seu lado importante enquanto instrumento de mobilização de massa. Ditadores são derrubados, esquemas são armados, opiniões são divulgadas, empresas se relacionam com seus clientes, tudo através dessa corrente. Mas daí, ser escravo das redes é que fica complicado. Depender delas pra medir a competência em ter “amizades”, em ser sociável, em estar incluída é que fica complicado. Depender dela a ponto de não poder dispensar uma parte do tempo somente a um curso, a uma conversa, a uma reunião! Puxa! Isso deve dar uma ansiedade! (hehe)

Na revista Info deste mês, Dagomir Marquezi, no seu artigo intitulado “O insustentável desejo de ser curtido”, fala que muito usuário tem necessidade de estar nas redes sociais para se sentir aceito, reconhecido, curtido. E mais, é o lugar onde ele fala mal da sua empresa, do seu chefe, de todo mundo, coisa que ele não falaria pessoalmente. 

Bem... hoje até namoros começam pelo Face e terminam por ele. Ficou uma coisa assim meio como um comércio de serviços: “mudei de fornecedor, e por isso, rescindo o meu contrato com você.” Fora o número de amizades e seguidores. Não basta dizer que eu tenho um Face. Preciso dizer que tenho "x" amigos. Acho que se o sujeito tiver uns 10 (e dos bons!), como na vida real, esse cara deve ser visto como um cara muito antissocial. Bom mesmo, ser popular mesmo,  é ter 800 amigos. Como diz o Dagomir, na mesma matéria:

Coloque um post com o título “Descoberta a vacina contra o câncer” e você terá meia dúzia de apoios. Escolha a foto bonitinha de uma lua no horizonte e escreva “boa noite a todos vocês meus queridos” e 1.872 curtirão isso.

Só que pra quem quer fazer carreira, deve tomar cuidado com esses 1.872 curtidores. Eles podem estragar até uma ascensão profissional. Hoje as empresas, antes de entrevistarem o candidato, já entraram no Face e leram tudo sobre ele. Fazem perguntas direcionadas nas entrevistas, e o motivo de muita não contratação é justamente a contradição do sujeito que postou o que nunca deveria ter postado.

A Daniela Braun, comentarista do CBN Tecnologia da Informação, semana passada, em um de seus boletins, contou que uma candidata a um cargo de Executiva de uma grande empresa foi excluída da seleção pelas suas postagens no Face. E uma dessas postagens foi um simples “eu adoro dormir de conchinha”. (hehe)

No mesmo boletim ela disse que nos EUA, sob polêmica, algumas empresas já pedem, na entrevista, o usuário e a senha no Face. Fico imaginando o entrevistador vendo os comentários não só do entrevistado, mas dos amigos dele. Sabe aquele ditado: Dize-me com quem andas, dir-te-ei quem és? Pois no Face funciona direitinho. Da mesma forma, também não adianta o sujeito escrever só coisas decentes, mas os amigos acabarem com a reputação dele, tirando sarro. São os ossos do ofício! (hehe)

É... Mark Zuckerberg pegou o ser humano exatamente como ele foi pego: pelo orgulho ferido.  A sua rede começou por sua carência afetiva e nós, muitas vezes, na dificuldade de externá-la também pessoalmente (no real mesmo), acabamos por externá-la através de uma rede de máquinas, e com uma dimensão depois que não vamos poder dar conta mais.

E aí você me pergunta como eu sei de todas essas coisas se eu não tenho um Face pessoal? 

Recentemente criei um fictício somente pra poder comentar os poemas de um poeta londrinense, que estão na rede, e ele sabe quem eu sou. E não me recrimine se eu lhe contar que  só tenho ele de amigo no Face. (hehe)

Bem... é que prefiro os meus amigos reais, que jamais, nem em 10 encarnações, chegarão a 800. (hehe)

E a todos eles consigo e prefiro me dedicar de corpo e alma!

2 comentários:

  1. huahauhaua...só agora me dei conta que estou lendo seu blog enquanto "teclo" com mais 2 pessoas no Face...rsrsrs!!! Não sei se é impressão minha, mas percebo que o poder de concentração das novas gerações esta muito reduzido...não adianta falar que somos, e que os mais novos que eu são diferentes...cérebro tem capacidade limitada sim...a ciência prova. O que não tem limites é a fé e a ética, pois qualquer ação realizada com fé, e pautada em princípios éticos, pode se tornar grandiosa, muito maior que as nossas expectativas...o problema reside exatamente ai: sem uma convivência com pessoas reais, sem a observação do meio que nos circunda, sem o cuidado com o próximo, como esta nova geração, e mesmo a minha, criará um senso ético? E mais...como terão fé, se o significado desta palavra se resume ao que diz a Wikipedia? Creo que este é o desafio da era das redes sociais e da falta de socialização.

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    1. E nem tudo que está na Wikipedia está certo ou completo. (hehe)

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