Estou quase chegando à conclusão que somos um país surpreendentemente
caridoso e indulgente.
Ontem, saindo da Leroy Merlin, sinaleiro fechado, sou
abordada por um moço, no lado do meu carro. Janelas fechadas, eu o ouvia dizer
que é aidético, levantou a camiseta para mostrar que não é malandro e não estava
armado, que não era um assalto, e que precisava completar um dinheiro para
comprar comida para a filha, que não é soropositiva. Moço, jovem, faltando
dentes. Sem entrar no mérito de qual poderia ser a história de vida dele, foi tocante e chocante. Era muito sincero o
pedido do rapaz, beirava o desespero, pelo menos foi o que me pareceu. Peguei
algumas moedas, nem sei qual a quantia e dei a ele, desejando-lhe sorte.
Sinaleiro abriu e pelo retrovisor o vi abordar outro carro, quando o sinaleiro
fechou novamente.
Logo em seguida, no supermercado Angeloni, na panificadora,
comprei três bolinhos de chuva para comer ali na hora (apenas para enganar o
estômago e não comprar o mercado todo), e o troco era de 66 centavos. Ao que o
caixa da seção me perguntou se não queria transformá-lo em “troco solidário”,
para um lar de vovózinhas. Mal tinha doado umas moedas a um moço jovem, já me
vi diante de uma oferta de outra doação
de moedas, agora para velhinhas. Acabei não doando, porque já faço dois trabalhos
voluntários, um deles enorme, e que acaba beneficiando também o mesmo lar de
vovós.
No carro, volto escutando a CBN (como de eterno hábito), e
sou obrigada novamente a ouvir sobre a posse do Renan Calheiros na presidência
do Senado, mesmo debaixo de denúncias gravíssimas do procurador-geral da
República.
O que tem a ver alhos com bugalhos? O que tem a ver Renan Calheiros com o que
escrevi anteriormente?
Se o que relatei acima tem a ver com caridade, a história do
Renan tem a ver com indulgência, duas virtudes que têm limites e dependem de
merecimento.
Fora do Brasil devem nos achar o povo mais indulgente do
mundo, quando não os mais complacentes e resignados. Os senadores que elegeram
o Renan Calheiros não estão nem aí pra todos nós, que votamos neles. E pior é
que continuaremos, indulgentemente, votando neles. É muita indulgência sem
merecimento!
Some-se a isso, o horror todo de Santa Maria. Iguais àquela
casa de shows há inúmeras outras, chiques ou não, nas mesmas condições ou
piores, ou sem condição alguma. Tudo em nome de ganhar dinheiro de uma forma
fácil e barata. E do nosso lado, clientes, aceitamos pagar por horas de prazer
e divertimento a troco de muito pouco.
Não sou contra as casas de shows; a crítica é à nossa falta de crítica ao que
nos oferecem!
E pode reparar: agora em tudo quanto é cidade as prefeituras
apertaram o cerco com os locais públicos. Acharam até teatros famosos no Rio,
com peças de elenco renomado, que estavam funcionando sem condições. E se não
tivesse havido Santa Maria? Estaria tudo como dantes!
A indulgência insana é tanta que vamos levando a vida assim. Acontece uma tragédia, a gente se comove, começa a ser seletivo nas escolhas de onde se divertir, mas depois caímos no esquecimento. Ganhamos uma banana dos
políticos corruptos e ainda votamos neles nas eleições futuras, pois temos memória
curta. Pedem-nos dinheiro para subsidiar o atendimento de idosos, quando esses
mesmos idosos, muitos deles têm aposentadoria, cujo valor defasou tanto que já
não dá para mais nada (embora tenham pago a vida inteira). Um aidético precisa
pedir dinheiro na rua para sustentar a família, porque coitado, as empresas
ainda são preconceituosas em contratar gente assim. E se há programas do Governo
que fornecem medicação para controlar a doença, falta informação a esse pessoal
mais carente ou sobra ignorância (de ignorar) mesmo. Quando não, falta
medicação nos postos!
E pra completar, subiu a gasolina. Sabe aquela história de
querer ficar bem na fita, mas uma hora a máscara cai? Pois foi assim. Não teve
jeito de o governo segurar o aumento. Há um bom tempo, a Petrobrás estava tendo
prejuízo por arcar com os custos, e não
os repassar, para que o governo pudesse “mostrar” que a economia vai muito bem
obrigada. Não teve jeito mais, e quem tem ações da estatal ainda pagou o pato –
elas caíram. E nós, vamos ver o resultado no supermercado, porque
diferentemente do que o ministro Mantega afirma, vai ter reflexo sim.
Praticamente 90% dos produtos do supermercado são transportados por rodovias. Haja
bolinho de chuva pra não fazer compra com fome e querer levar o mercado todo!
É... já cansamos de ouvir que o Brasil é o país dos
contrastes. Pode ser uma frase batida, mas é isso mesmo! O dia que a Educação (com
E maiúsculo) nos fizer conscientes de nossos direitos e deveres, talvez
possamos viver mesmo a indulgência e a caridade dentro de todos os seus limites
e merecimentos.
Que semana!
Opa,licença para escrever no seu blog!
ResponderExcluirComo havia lhe falado, de vez em quando, escrevo algumas bobagens... essa crônica eu escrevi inspirado em algumas do Arnaldo Jabor.
Crônicas
Vc ainda é apaixonada por aquele traste que vive te esculachando? Que pela suas costas vive dizendo que você é apenas mais uma? Você seria então escrava dos seus caprichos. Ele sempre aparece com aquela roupa cafona, boné, aquela bermuda estrambólica, com aquele papo de aranha, mas que absurdamente lhe fascina, você nem mesmo sabe dizer como ou porque escolheu o dito cujo. Mas ele é viciante assim como ECSTASY. Ele vive duro e você tá sempre pagando as contas dele, ele é meio casanova sem a menor vocação para príncipe ou Lord Inglês e mesmo assim você não consegue ejetar o sujeito de sua vida. E você ama esse cara?
Não me pergunte. Uma mulher inteligente que gosta de poesias de Pablo Neruda, Drumond e Vinicius. Mas claro, como dizia o Cazuza: “ A poesia que a gente não vive” os amores perdidos, as decepções, dor de cotovelo... Ruim com ele pior sem ele ! E a sua auto-estima ficou mais uma vez para as cenas dos próximos capítulos! Mas nada como um shopping, uma vitrine de sapatos, uma bolsa nova , um par de silicones, tá aí, uma funilaria completa nas partes baixas! Uma verdadeira revolução estética “peitos roliços, bundas exorbitantes”. Mas espere aí...ainda falta alguma coisa... ainda sinto um vazio dentro de mim! O que será? Ahhh claro, eu preciso renovar meu guarda roupas, afinal preciso de algo novo para chamar atenção. Mas, chamar atenção de quem afinal do seu amado ou da torcida do Flamengo?
Luciano Amarilla
Luciano
ResponderExcluirBacana o seu texto. E pior que tem "amor" assim, com almas muito pequenas, que tentam "transformar o tédio em melodia", como continua a belíssima música do Cazuza.
Bacana você gostar também do Cazuza!
Obrigada!
Legal que você curiu, vou preparar mais umas crônicas pra postar! Aguarde...
ResponderExcluirEm homenagem as mulheres...
ResponderExcluirSe o Amor Quiser Voltar
Se o amor quiser voltar
Que terei pra lhe contar
A tristeza das noites perdidas
Do tempo vivido em silêncio
Qualquer olhar lhe vai dizer
Que o adeus me faz morrer
E eu morri tantas vezes na vida
Mas se ele insistir
Mas se ele voltar
Aqui estou sempre a esperar...
Vinicius de Moraes
Muito feliz a sua escolha pelo Vinícius de Moraes. Seu comentário ganhou um post no blog!
ExcluirObrigada!
Óia!!
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