quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

TENHO OU NÃO TENHO QUE?

Monumento no centro de Jandaia do Sul - PR - artista E. Porttalha


Passei um bom tempo da minha vida, vivendo e usando nos meus discursos, as palavras “tenho que”.

Todos os “tenho que” vêm da educação de meus pais, que como a maioria dos outros pais, projetam suas vidas na dos filhos, ou acabam repetindo os pais deles.

Com meus pais aprendi que tenho que ser uma boa filha, tenho que respeitar a professora, tenho que comer direito, tenho que fazer o dever de casa, tenho que fazer as contas, tenho que deixar tudo limpo, tenho que um monte de coisas. Como diria a música que a Elis canta: “Ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais.” 

Só que eu acrescento: até que a gente vá pra um analista, pra tentar saber quem somos, o que nós desejamos, e o que realmente queremos “ter que”.

É muito louvável quando os “tenho que” são de cunho moral: tenho que respeitar os outros, respeitar as leis, ser paciente, ser benevolente, ser indulgente, ser educada.

Mas, e quando o “tenho que” é para despender a nossa vida só para o trabalho?

Sou de uma geração que primou por fazer carreira, mas que ela podia acontecer a passos não tão rápidos como são exigidos hoje. Mas tínhamos muito que... Hoje, ninguém tem tempo mais pra nada, só para trabalhar! Só para ter que. O trabalho virou uma devoção.

Você vai me dizer: mas eu preciso pagar o colégio, a prestação do carro, da casa, pagar um PGBL, guardar pra faculdade do Júnior, mas não é disso que estou falando. Estou falando do tempo que a gente teria depois do trabalho e que não aproveita. Trabalho é obrigação. O “tenho que”  significa uma obrigação. E depois do expediente, não é obrigação (pelo menos não deveria)!

Levamos o “tenho que” (obrigação) do trabalho pra dentro de casa. Tenho que jogar videogame com o meu filho, tenho que ajudar colocar o jantar, tenho que ter uma noite de amor com o meu companheiro, tenho que... E na realidade, não deveria ser assim. Chegar em casa não é uma tarefa a cumprir, não é um dever como é o do trabalho.  Depois do expediente é leveza, é desligar do mundo lá fora e se ligar no mundo particular da gente. Não é um “tenho que”, é um “eu quero”.  Está havendo uma mistura do profissional com o pessoal. O que não é trabalho está sendo tratado como se fosse, e aí por obrigação a gente não faz nada com prazer.

E olha que estou sendo otimista, não contando com os que chegam em casa tão cansados que não tem mais pique pra fazer nada. Nem para se desestressar com a família, nem para uma noite de prazer com a mulher/marido, nem pra saber o que aconteceu no dia de cada um dos seus afetos. Por isso até que tem casamento que acaba.

Não sei se me expliquei bem, mas eu digo por mim: cansei do “tenho que”.

Hoje me pergunto: por que tenho que? Analiso bem, e se não tenho uma resposta convincente pra mim mesma, se ela é baseada no que os outros vão pensar, abandono o "tenho que".... "não tenho que".

Sabe... é um exercício e tanto, que só pode ser feito pela gente. Se deixarmos para o outro, ele certamente vai achar um “você tem que” pra gente. 

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