sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

SONHOS


No que pode dar uma reunião de mulheres, amigas, numa tarde chuvosa, ao redor de uma mesa retangular com duas travessas enormes de sonhos quentinhos, fritos na hora e envoltos em açúcar,  na frente delas? E a bacia de sonhos em cima do fogão, esperando para o reabastecimento? E ainda mais: pão-de-queijo, salgadinhos, torradas, patê, refrigerante e café fresco. E uma chuva ralinha lá fora?

Pois foi assim nosso final de quarta-feira, 11 mulheres, todas inteligentes (sem falsa modéstia), bem arrumadas, bem humoradas, desbocadas, de bem com a vida, sem medo de contar qualquer coisa e parecerem ridículas ou inoportunas, todas com muuuuiita história pra contar.  E, principalmente para rir!

Fico imaginando se os homens conseguem imaginar o que sai dessas reuniões? Acho que ficariam corados (hehe).

É... somos mulheres do nosso tempo mesmo! Graças a Deus!

Fico imaginando minha mãe, na sua época de solteira (ou mesmo agora), com suas amigas, do que falariam numa reunião dessas?

Por exemplo: falariam abertamente  sobre seus relacionamentos e sobretudo sobre sexo? Que se casaram e odiaram a primeira vez? Sim, porque muitas das mulheres da geração da minha mãe só tinham intimidade  com um homem (ou o seu homem) depois do casamento. E se foi muito bom, será que falariam? Acho que sim, porque o que é bom a gente tem a coragem de falar. Qual o destino dessas mulheres trocando confidências sobre sexo?  Acho que elas seriam excomungadas, deserdadas, colocadas para fora de casa,  e ainda chamadas de “biscates” (adjetivo que minha avó usava).

Os sonhos que comemos na quarta foi uma das amigas quem fez, aproveitando que está de férias.  De goiabada e doce de leite. Deliciosos. Mas dali da mesa, acredito que só ela mesma para fazer um prato “difícil”, como uma massa de sonhos. Se minha avó estivesse viva e ouvisse isso, me diria que sou preguiçosa e que homem me quereria como esposa?  Tempos outros, vó! E não quero um homem para eu ser “esposa”, mas sim “mulher”.

Quando minha avó materna “arregimentou” os maridos para suas filhas (ela fez pressão psicológica enorme), ela pensou alguma vez se deu ou daria química entre as filhas e os candidatos? Sim, porque tem que ter química – de pele, de sentimento, de coisas em comum. Acho que não, pelas histórias da maioria delas. Com exceção de uma tia que era “avant” para o seu tempo, tanto que na época que as mulheres começaram a usar calças compridas (uma vergonha ainda), ela ousou ter o prazer de usá-las, morando numa cidade minúscula e provinciana.

Fico pensando como evoluímos. Falamos de sexo abertamente com nossas amigas, do enésimo casamento em que estamos, em que o que nos separa do companheiro “é apenas um portão” (palavras de uma das amigas), queremos ter prazer e mostrar ao nosso companheiro “o como”, e até decidimos a cor do carro que o nosso companheiro vai “escolher” (sim, o carro, algo tão antes ligado ao masculino).  

Fico pensando que os homens estão assustados mesmo conosco. Não faz tanto tempo assim que seus pais tinham um comportamento compatível com a época de suas mães, e isso era modelo para eles. Nós não somos mais como suas mães. Deve ser difícil acompanhar a evolução feminina, mas uma coisa eu digo a eles: continuamos a ser mulheres e esperamos que eles sejam homens. Só isso.

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