domingo, 4 de março de 2012

O QUE TEMOS PARA AMANHÃ?

Estrada Curitiba - Norte do Paraná - Fevereiro/2012

Dias atrás, um colega, mesmo sendo espírita de anos, questionou o conteúdo e o direcionamento da palestra feita por um orador, no centro que frequento. A palestra foi sobre a morte. Segundo a opinião desse colega, o orador foi muito duro ao dizer que todos nós que estávamos ali não poderíamos ter a certeza de que voltaríamos para casa, terminada a palestra. O orador foi claro em  nos questionar se será que iríamos almoçar com a família, dali uma hora? 

Pois olha, pode parecer chocante, como pareceu ao colega que o criticou, mas é a verdade! É uma das maiores verdades da vida, e que deve ser aceita. É difícil de digerir, mas precisa ser digerida. É preciso aceitar que um dia estaremos fora de cena. Que dificuldade que temos em lidar com a única certeza que temos nesta vida na Terra: de que a deixaremos um dia. E esse “dia” pode ser daqui a 5 minutos!

Ontem, andando na rua com um amigo, nos questionamos, um ao outro, se deixaríamos alguma pendência com alguém, e em específico com relação ao perdão, se morrêssemos agora. Foi ótimo conversar isso com ele, como se perguntássemos um ao outro sobre qualquer outro assunto. É sinal de que evoluímos um pouco, e já estamos nos acostumando com o fato da morte ser pertinente à vida, e que deve ser encarada porque se trata da vida da gente. Cada um de nós vai ter a “nossa hora”, só nossa! Certeira e individual!

Falo por mim, esqueço-me dela, mas sou lembrada principalmente quando perco algum ente querido, seja ele da família ou do meu círculo de amigos idos e presentes.

Pertenço a um grupo no Yahoo, composto por boa parte da nossa turma de Computação. E até hoje acabamos sabendo uns dos outros, não muito, mas sabemos, pelos aniversários que ocorrem durante o ano. O Yahoo envia um e-mail automático, nos avisando que dia tal é aniversário de tal colega do grupo. E assim nos cumprimentamos e perguntamos uns pelos outros.

Na sexta-feira recebemos um e-mail de um dos colegas contando da morte de outro colega do grupo – o Ângelo. Li e reli várias vezes. Não queria acreditar, até porque tinha uma ligação mais forte tanto com o que comunicou a morte quanto com o que morreu: voltávamos da PUC, de ônibus, todos os dias, o curso todo. Fazíamos trabalhos juntos. Comemoramos aniversário de 10 anos do grupo na chácara do Ângelo. Lembranças muito boas me assaltaram. Muitas pessoas se tornam “boas” aos olhos dos outros, depois que morrem, e necessariamente não o foram em vida. Mas, esse meu colega foi realmente um homem bom em vida e se foi muito novo.

O passar dos anos e a chegada de notícias como estas, me fazem dar mais valor ainda ao presente. É só o que temos. É a fração de segundo o que temos, porque o próximo segundo já é futuro. O que temos para amanhã? No máximo, expectativas. No mínimo a nossa partida.

Quando se é muito jovem o futuro tem muito mais importância que o presente. Pelo menos é assim com a maioria de nós. Fico feliz quando vejo alguém jovem valorizando o sol que está lá fora, o presente, o agora. Quando vejo um jovem não só se preocupando com o material, mas também com as coisas da alma, que é o que a gente vai, efetivamente, levar como bagagem para o lado de lá, e ainda não sabendo quando.

Não que o futuro não tenha importância. Tem, sim, senão não teríamos, cada um de nós, uma missão aqui neste plano. Planejarmos nossa carreira profissional, escolhermos nossos parceiros de vida e caminhada, formarmos famílias, acrescentarmos coisas boas no mundo, tudo isso tem sentido sim.  Só que, invariavelmente, vivemos com o pensamento lá na frente, muitas das vezes “perdendo” o que de melhor acontece no momento.

Parece coisa de mensagem de PowerPoint, dessas que a gente recebe pela internet, o que eu vou dizer, mas vou dizer: o mais importante não é o topo da montanha, mas a subida até lá. É piegas até, mas é real: será que só vamos ser felizes quando chegarmos ao topo da montanha? E o que a gente faz com tudo o que a gente vai encontrando no caminho? Tem um monte de coisas lindas no meio do caminho. Por que será que a gente vai querendo garantias de tudo, se nem sabemos se teremos o topo da montanha?

A partida do Ângelo fez-me pensar (como se eu já não pensasse tanto!) sobre a importância de vivermos o único momento que realmente temos: o presente. Que na realidade, nem é nosso. É uma benesse de Deus, pra nos melhorarmos e pra nos reformarmos. E o que fazemos com ele? Brigamos à toa por coisas tão pequenas. Envolvemo-nos com tantas futilidades. Dizemos que perdoamos, mas não conseguimos muitas das vezes nem nos perdoarmos. Pensamos tanto no que os outros vão pensar, e deixamos de viver as nossas reais vontades. Escolhemos tanto o que dizer para depois não dizer. Ou dizer tudo às avessas. Deixamos tanto pra outro dia, e no outro para o outro, para o outro... A gente deixa pra depois nos encontrarmos, pra depois nos conhecermos, pra depois falarmos da importância do outro na caminhada com a gente. Será que vai dar tempo? Por que deixar pra depois?  

Será que é preciso uma chacoalhada pela morte de alguém pra gente parar um pouco e pensar mais sobre a vida da gente?

Não. É preciso pensar de qualquer forma. Notícias com essas só nos reforçam da necessidade de estarmos preparados para viver da melhor forma possível, cada minuto precioso que temos aqui e agora.

O que temos de certo para amanhã? Somente a morte. Nada mais.

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