Hibisco do meu "quintal" |
Reparei que nossos finais de dia, embora ainda quentes, já estão com um ar mais fresquinho. Idem para as manhãs. Prenúncio de outono.
E ontem, de manhãzinha, ao sair de casa, esse mesmo ar fresquinho trouxe-me lembranças muito boas. É incrível como que em segundos, por algum cheiro, por algum vento, por alguma palavra ouvida, por alguma razão, a memória nos transporta, naquele ínfimo espaço de tempo, de volta ao passado. E nessas horas tenho costume de dizer, em voz alta, o que a memória não esquece. E falei: Ah! Apucarana!
Um dos poemas da Adélia Prado diz: “O que a memória ama, fica eterno." E é bem isso mesmo!
Dessa mesma forma, no domingo, acompanhando a mãe de uma amiga preparar o almoço, e ouvindo atentamente a sua história de vida, e principalmente do seu grande amor (adoro ouvir histórias de amor), falamos das reuniões de família de antigamente. E acabei lembrando, e contando também, de quando menina passávamos férias na casa de minha avó materna, e lá tinha um dia que a minha mãe e minha avó faziam fornadas de broas doces. O ano inteiro o forno ficava cheio de entulhos de coisas do quintal. Quando chegávamos, minha mãe e minha avó limpavam-no, faziam brasa e nele assavam as broas. Todas em cima da mesa recebiam um melado por cima, e ficavam brilhosas. Os parentes, quando chegavam, um a um, levavam ou comiam as broas. Até hoje sinto o cheiro e o gosto daqueles pães doces trançados e enormes.
Assim como consigo sentir a diferença de cheiro do ar de Londrina (e do Norte do Paraná, terra vermelha) do de Curitiba. São diferentes. O Norte do Paraná tem cheiro de raízes, de origem, de terra-natal. E como a região é agrícola, volta e meia na estrada, ou mesmo ao redor da cidade, quando são feitas queimadas, o cheiro é de infância. Cresci com o quintal sendo varrido, as folhas amontoadas, e ateado fogo naquele monte. Amo o cheiro dessa fumaça!
Há muitos anos não tenho mais o costume de jantar, assim, arroz, feijão e “mistura” como chamamos os complementos aqui no Norte do Paraná. Faço um lanche apenas, ou no máximo uma salada ou uma sopa. Coisas leves, pra ter a digestão rápida e um sono leve. Mas, invariavelmente, enquanto como esse meu “jantar”, vem o cheiro de um apartamento vizinho, de arroz feito na hora, de feijão temperado, de bife acebolado e batatinha frita, e me pergunto se não deveria voltar a jantar? A gente acaba fazendo escolhas em nome da saúde e em detrimento do prazer! (hehe)
Hoje, no retorno da caminhada, olhando o pé de hibisco do pátio do meu condomínio, lembrei-me de quando fui a Maceió. No Hotel em que ficamos em Pajuçara, na sala de espera do hall de entrada, uma das mesas de apoio tinha um vaso enorme de vidro, parecendo uma bacia, com água e com hibiscos boiando sobre essa água. Eram trocados todos os dias. Tão simples a ideia, com um efeito tão maravilhoso. E acabei pegando um hibisco, do meu “quintal”, e colocando-o também em um pequeno vaso (até porque não tenho um como o do hotel) e valeu não só pelo efeito, mas muito pela lembrança. Ah! Maceió!
O cheiro de um amor é outra coisa que a gente não esquece, se ele realmente foi importante. Aliás, não tem como dar certo um relacionamento quando não há química, e nessa química entenda-se também o cheiro da pele. Como ficar quietinhos, abraçadinhos, com o pescoço enrolado um no outro, sem gostar do cheiro do nosso amado? Eu não fico! E é assim, que tem horas, conforme a direção do vento, esse cheiro vem à lembrança. Daí fica a cargo de cada um lidar com ele da melhor forma possível. Se estamos ainda com esse amor, ótimo. Se não, e for muito recente a separação, quem sabe é um estímulo para tentar de novo, ou pra chorar, se não há chance da volta.
“E um cheiro de amor
Empestado no ar a me entorpecer
Quisera viesse do mar e não de você.” (Djavan)*
E o cheiro da nossa casa, que de tão acostumados que estamos, talvez nem percebamos, mas o temos? Ele é muito claro pra mim quando viajo, fico muitos dias fora e retorno. Ao abrir a porta do apartamento, sempre repito: Como é bom voltar! O cheiro do nosso travesseiro, do nosso banheiro, das nossas paredes, das nossas roupas no guarda-roupa, das roupas do nosso companheiro, das coisas nossas e das coisas dele. Acho que é isso que nos faz voltar pra casa!
E por fim, daqui a pouco vai passar o “Paraná TV – Segunda Edição”; e cada vez que ouço o jingle do programa, eu acabo me lembrando de Curitiba. Se estiver frio e cinza, então, aí é que lembro mais ainda. Não adianta estar em Londrina, que acabo me transportando pra lá. Ainda bem que o jingle me traz lembranças boas. E as ruins que tenho de Curitiba acabam acontecendo como comecei contando no início desta postagem: reduzem-se a apenas um transporte, em ínfimo espaço de tempo, ao passado. Só isso!
_______________________________
(*) "A Ilha" - Djavan (nascido em Maceió):
Em tempo, tem página nova no blog: Hora do Vídeo. Confira!
Nenhum comentário:
Postar um comentário