quinta-feira, 15 de março de 2012

LEMBRANÇAS

Hibisco do meu "quintal"

Reparei que nossos finais de dia, embora ainda quentes, já estão com um ar mais fresquinho. Idem para as manhãs. Prenúncio de outono.

E ontem, de manhãzinha, ao sair de casa, esse mesmo ar fresquinho trouxe-me lembranças muito boas.  É incrível como que em segundos, por algum cheiro, por algum vento, por alguma palavra ouvida, por alguma razão, a memória nos transporta, naquele ínfimo espaço de tempo, de volta ao passado. E nessas horas tenho costume de dizer, em voz alta, o que a memória não esquece. E falei: Ah! Apucarana!

Um dos poemas da Adélia Prado diz: “O que a memória ama, fica eterno." E é bem isso mesmo!

Dessa mesma forma, no domingo, acompanhando a mãe de uma amiga preparar o almoço, e  ouvindo atentamente a sua história de vida, e principalmente do seu grande amor (adoro ouvir histórias de amor), falamos das reuniões de família de antigamente. E acabei lembrando, e contando também, de quando menina passávamos férias na casa de minha avó materna, e lá tinha um dia que a minha mãe e  minha avó faziam fornadas de broas doces. O ano inteiro o forno ficava cheio de entulhos de coisas do quintal. Quando chegávamos, minha mãe e minha avó limpavam-no, faziam brasa e nele assavam as broas. Todas em cima da mesa recebiam um melado por cima, e ficavam brilhosas. Os parentes, quando chegavam, um a um, levavam ou comiam as broas. Até hoje sinto o cheiro e o gosto daqueles pães doces trançados e enormes.

Assim como consigo sentir a diferença de cheiro do ar de Londrina (e do Norte do Paraná, terra vermelha) do de Curitiba. São diferentes. O Norte do Paraná tem cheiro de raízes, de origem, de terra-natal.  E como a região é agrícola, volta e meia na estrada, ou mesmo ao redor da cidade, quando são feitas queimadas, o cheiro é de infância. Cresci com o quintal sendo varrido, as folhas amontoadas, e ateado fogo naquele monte. Amo o cheiro dessa fumaça!

Há muitos anos não tenho mais o costume de jantar, assim, arroz, feijão e “mistura” como chamamos os complementos aqui no Norte do Paraná. Faço um lanche apenas, ou no máximo uma salada ou uma sopa. Coisas leves, pra ter a digestão rápida e um sono leve. Mas, invariavelmente, enquanto como esse meu “jantar”, vem o cheiro de um apartamento vizinho, de arroz feito na hora, de feijão temperado, de bife acebolado  e batatinha frita, e me pergunto se não deveria voltar a jantar? A gente acaba fazendo escolhas em nome da saúde e em detrimento do prazer! (hehe)

Hoje, no retorno da caminhada, olhando o pé de hibisco do pátio do meu condomínio, lembrei-me de quando fui a Maceió. No Hotel em que ficamos em Pajuçara, na sala de espera do hall de entrada, uma das mesas de apoio tinha um vaso enorme de vidro, parecendo uma bacia, com água e com hibiscos boiando sobre essa água. Eram trocados todos os dias. Tão simples a ideia, com um efeito tão maravilhoso. E acabei pegando um hibisco, do meu “quintal”, e colocando-o também em um pequeno vaso (até porque não tenho um como o do hotel) e valeu não só pelo efeito, mas muito pela lembrança. Ah! Maceió!

O cheiro de um amor é outra coisa que a gente não esquece, se ele realmente foi importante. Aliás, não tem como dar certo um relacionamento quando não há química, e nessa química entenda-se também o cheiro da pele. Como ficar quietinhos, abraçadinhos, com o pescoço enrolado um no outro, sem gostar do cheiro do nosso amado? Eu não fico! E é assim, que tem horas, conforme a direção do vento, esse cheiro vem à lembrança. Daí fica a cargo de cada um lidar com ele da melhor forma possível. Se estamos ainda com esse amor, ótimo. Se não, e for muito recente a separação, quem sabe é um estímulo para tentar de novo, ou pra chorar, se não há chance da volta.  

E um cheiro de amor
Empestado no ar a me entorpecer
Quisera viesse do mar e não de você.” (Djavan)*


E o cheiro da nossa casa, que de tão acostumados que estamos, talvez nem percebamos, mas o temos? Ele é muito claro pra mim quando viajo, fico muitos dias fora e retorno. Ao abrir a porta do apartamento, sempre repito: Como é bom voltar!  O cheiro do nosso travesseiro, do nosso banheiro, das nossas paredes, das nossas roupas no guarda-roupa, das roupas do nosso companheiro, das coisas nossas e das coisas dele.  Acho que é isso que nos faz voltar pra casa!

E por fim, daqui a pouco vai passar o “Paraná TV – Segunda Edição”; e cada vez que ouço o jingle do programa, eu acabo me lembrando de Curitiba. Se estiver frio e cinza, então, aí é que lembro mais ainda. Não adianta estar em Londrina, que acabo me transportando pra lá. Ainda bem que o jingle me traz lembranças boas. E as ruins que tenho de Curitiba acabam acontecendo como comecei contando no início desta postagem: reduzem-se a apenas um transporte, em ínfimo espaço de tempo, ao passado. Só isso!
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(*) "A Ilha" - Djavan (nascido em Maceió):





Em tempo, tem página nova no blog: Hora do Vídeo. Confira! 

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