quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

O QUE É SER FELIZ?

Pátio do Museu Histórico de Londrina -  Pe. Carlos Weiss

Não gosto de livros de autoajuda, com receitas prontas, tais como “10 Atitudes para Ser Feliz”, “20 Passos para Conquistar o Amado”, “Quem Comeu o Meu Pedaço de Bolo?”, e assim vai.

É um “não-gosto” meu e você não tem que concordar.

Não posso negar que já li alguns desses livros. Até para poder falar sobre. Seria injusto eu falar de algo que não li.

Já li Paulo Coelho e  Roberto Shinyashiki, por exemplo, e confesso que enquanto lia, até ficava animada. Passado um dia, já não me cabiam mais as receitas deles para encontrar a paz, ou para ser feliz. Invariavelmente não seguia as sugestões. Não se encaixavam na minha vida. Nem um vestido do meu número necessariamente me cai bem.

Ficava pensando que caminho eu podia fazer para “me encontrar”, se não podia fazer o caminho de Santiago de Compostela?

Como driblar a minha consciência para ser racional na hora do emocional? Como seguir, por exemplo, a orientação do Shinyashiki para termos só amigos vencedores? O que é um amigo vencedor? É tão subjetivo! O que é um amigo vencedor pra mim, pode, para os olhos dos outros que não o conhecem, não sabem da sua história de vida, ser um perdedor. 

Essas soluções prontas deixam o indivíduo numa neura. Algumas podem até ser boas, quando baseadas em valores morais. Mas daí o indivíduo estar preparado para, ou estar evoluído para realizá-las, é outra história.

Dias atrás terminei de ler o último livro da Martha Medeiros, “Feliz Por Nada”, e o que me havia chamado a atenção, além de gostar muito da escritora, foi exatamente o título. E na sua crônica de mesmo nome, ela diz exatamente isso: que a sociedade espera que estejamos felizes por causa de alguma coisa. E na realidade deveríamos estar felizes por nós mesmos. E ainda mais: que a tristeza cabe na felicidade.

Em um trecho de sua crônica ela diz:

"Particularmente, gosto de quem tem compromisso com a alegria, que procura relativizar as chatices diárias e se concentrar no que importa pra valer, e assim alivia o seu cotidiano e não atormenta o dos outros. Mas não estando alegre, é possível ser feliz também. Não estando “realizado”, também. Estando triste, felicíssimo igual. Porque felicidade é calma. Consciência. É ter talento para aturar o inevitável, é tirar algum proveito do imprevisto, é ficar debochadamente assombrado consigo próprio: como é que eu me meti nessa, como é que foi acontecer comigo?
Pois é, são os efeitos colaterais de se estar vivo."

Da mesma forma gostei muito de uma frase que ouvi da Psicóloga Renata Borja, no “Caminhos Alternativos” da CBN:

"A gente se liberta quando aceita a vulnerabilidade."

Dias atrás uma conhecida me perguntou, ou melhor, me afirmou, que eu era feliz porque sou alegre. Que achava que tudo o que eu faço dá certo porque sou otimista. Que achava que não tinha lugar pra tristeza na minha vida, porque sou feliz. Uma coisa assim pronta, entende?

Bem.... olhei pra ela e contei que sou otimista, mas que nem tudo dá certo. Tem dias que choro porque queria de uma forma e foi de outra. Queria, por exemplo, ter sido olhada de modo diferente por quem eu olho com olhar diferente, e isso não aconteceu! Só que não foi o fim do mundo, ou melhor, foi o fim do mundo, mas eu sobrevivi (hehe). Nada que minhas lágrimas ou olhar pro lado e ver que tem coisas boas acontecendo, que não resolvesse. E vou sobreviver a cada coisa que der errada, porque a vida anda, nada fica no lugar. De um luto aqui, outro ali, não tem como escapar.  A gente mesmo “cava” boa parte deles. Tem é que saber lidar da melhor forma.

Se ser feliz, por exemplo, for ser honesta comigo e com os outros; não desejar aos outros o que não quero pra mim; poder olhar olhos nos olhos; saber dos meus limites; aceitar as minhas tristezas; não ter vergonha de chorar, nem de contar que chorei;  saber dizer “não” e saber pedir ajuda; por a cabeça no travesseiro e ter para quem fazer uma prece; ter vontade de falar (e falar!) que gosto de alguém; ter coragem de me entregar pra quem merece a minha intimidade; não gastar mais do que eu ganho; como diz a Martha – rir das vezes que sou ridícula;  me  sentir culpada por ter magoado alguém e não ter pedido desculpas; e, acima de tudo, gostar de mim mesma, ter autoestima, então eu sou feliz. E essa receita é só minha. É a minha medida pra ter paz.

Em suma, ser feliz, pra mim, é curtir o que dá certo e aceitar o que eu tento e que dá errado! No máximo tentar entender o porquê, pra não incorrer de novo no mesmo erro, mas não fazer disso o mote pra obscurecer as coisas boas que me acontecem.  

É difícil mesmo definir o que é ser feliz, ou responder se a gente é feliz.

Contudo, a gente não precisa de bula. E quando precisar, penso que a gente deva buscar um Analista, pra ter uma dose individualizada. A nossa dose, extraída da vida da gente mesmo. Ninguém é igual ao outro. No máximo, afim.

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