segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

AMIZADE, ALTERIDADE E ASSERTIVIDADE

Entrada da chácara de minha amiga Celina - Apucarana - PR


Há duas palavras que não consigo dissociar da amizade, e que não por acaso rimam com ela: assertividade e alteridade.

Não que esses dois qualificativos sejam somente ligados ao amigo, mas devem ser elementos essenciais para que possamos colocar uma pessoa na posição de. E é a falta de zelo para com esses dois adjetivos que acabam retirando um amigo da posição de.

O princípio da alteridade é levar em conta o outro. É reconhecer a sua existência, os seus direitos, seus valores, sentimentos e expectativas. É levar em conta a nossa necessidade do outro, até para aprendermos sobre nós mesmos.

E quase sempre a visão moral que temos da gente é que faz com que saibamos ou não reconhecer o outro.

Ter assertividade é ser assertivo: dizer “sim” quando se tem que dizer “sim” e “não” quando tem que se dizer “não”. Mas, dizer! Não é pressupor que o outro tenha que adivinhar. Ser assertivo chega a ser uma virtude, uma vez que o sujeito que exerce a assertividade diz a que veio, e geralmente valoriza a alteridade. Sabe exercê-la sabendo de seus limites e dos limites do outro.

A assertividade é muito fácil de entender no meio profissional. É um requisito muito valorizado, principalmente nos líderes. Quem não é assertivo, não constrói carreira sólida, não consegue respostas de seus liderados, não consegue simplesmente. E ainda tem gente que espera que um curso de liderança vá ensiná-lo a liderar. Até pode, mas se o profissional não for assertivo, não se cria. Não é à toa que vemos tantas empresas falindo. Vai ver, lá no fundo faltou assertividade no dono ou nos ocupantes de cargos de liderança.

Quando falamos de amizade, falamos de uma via de mão dupla. O amigo é o outro que eu elegi dentre tantos outros, para partilhar da minha vida. E, ele também me elegeu. E é exatamente por essa característica da amizade – uma eleição mútua – que essas duas qualidades, a alteridade e a assertividade, devem estar presentes.

Contudo, quando as amizades murcham a gente vai ver que faltou um dos dois ingredientes ou os dois. Volta e meia a gente se depara com situações assim, não é mesmo?

Parecem tão simples esses conceitos, mas não são.  Dão-nos a impressão de que bastaria, por exemplo, o sujeito ter uma religião, ou ser espiritualizado, para ser imbuído do reconhecimento do outro. Nunca vou me cansar de contar de um colega de profissão, que se declarava abertamente ateu, mas que pelas atitudes, era mais cristão do que muitos que frequentavam as igrejas. Ser cristão é seguir o Cristo, e principalmente a maior de suas máximas: amai ao próximo como a ti mesmo. O que é isso senão a alteridade – o reconhecimento do outro?

Fico pensando que por essas e por outras que nossos amigos dão para contar nos dedos. Os meus dão. Hoje, não me cabe mais manter amizade com quem desconsidere o outro. Pode passar uma vez, no máximo outra, por sermos humanos e falíveis, mas não mais que isso.

Depois tem gente que reclama da vida, que se posiciona como vítima, diz que não consegue fazer amigos, que é brigado com o mundo, quando o que lhes faltou foi viver com assertividade, e mais que tudo, com alteridade. E depois quer que a vida  lhe seja generosa!

A vida gosta de quem gosta dela.”*  E não tem como gostar da vida sem incluir o outro. Não tem como gostar da vida sem ter assertividade para com ela.



(*) Frase do personagem Noel, do filme A Suprema Felicidade, de Arnaldo Jabor.

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