domingo, 26 de fevereiro de 2012

MEU OSCAR VAI PARA OS SENTIMENTOS

Entrada do Restaurante Velho Madalosso - Santa Felicidade - Curitiba - PR -  25/02/2012

Hoje tem entrega de Oscar. Antigamente, assistia antecipadamente a maioria dos filmes e ficava acordada até tarde da noite pra assistir à cerimônia. E me cobrava por não ter assistido um filme ou outro. Queria ter assistido pelo menos aos filmes que concorriam na categoria Melhor Filme.  

Tempos de cinema de rua, no centro da cidade, coisa que hoje nem existe mais, nem em cidade pequena. Tempos em que fazíamos fila do lado de fora, na calçada, ao ar livre, numa boa. Tempos em que eu ia tanto ao cinema, que um dia cheguei a levar um livro pra ler, de tão cedo que cheguei à sessão. E ainda ia sozinha, quando não tinha companhia. E tudo bem.

E passaram-se os anos, os cinemas de rua foram ficando pra trás, mudei-me do centro da cidade para um bairro, os cinemas de rua fecharam e foram substituídos pelas salas de cinemas dos shoppings, os filmes em DVDs ficaram extremamente acessíveis, primeiro pelas locadoras, depois pela pirataria, e de tanta oferta, acabei não valorizando mais o glamour de me arrumar para ir especificamente ao cinema. De tanta oferta, acabava deixando pra assistir ao filme em casa... colocá-lo em cartaz dependeria apenas de mim. E o que a gente tem sobrando acaba não valorizando.

Fora que com a tecnologia o tempo ficou escasso. Isso mesmo. O tempo que iria sobrar com o trabalho automatizado (era o que esperávamos com os computadores), assistiríamos a mais filmes, teríamos mais tempo de lazer. Que nada! Falo por mim: arrumei mais trabalho ainda, no tempo que “sobrava”.

E pode notar: a gente mede o tempo do dia pelo trabalho e não pelo lazer. A gente diz assim: ” - Nossa, como rendeu o meu dia hoje!”. Estamos dizendo do dia de trabalho; raramente dizemos essa frase em um final de semana!

Só que agora os meus tempos mudaram. Tenho contado o rendimento dos meus dias pelas coisas prazerosas que estou conseguindo reincluir neles. E hoje, estarei ligada à cerimônia do Oscar, pois consegui assistir dois filmes que estão na lista dos concorrentes a Melhor Filme: A Árvore da Vida e Os Descendentes. É muito pouco, mas depois de não sei quantos mil anos, isso é uma vitória!

E estou torcendo por Os Descendentes, pela estória tocante e pelo George Clooney (impecável e lindo!).

Adorei o filme por mostrar muito bem a culpa quando misturada à dor da perda: o sentimento de culpa por não ter sido presente na vida de quem está partindo. E o que fazer com ele, quando não é o único sentimento que se está experimentando?

Por mostrar que pode não haver amanhã para o que não deu tempo de viver hoje, em nome do trabalho e de ajuntar ou cuidar do dinheiro.

Por mostrar o quão difícil é tentar conhecer e entender alguém quando este alguém está indo, irremediavelmente, embora da vida da gente. Partindo de qualquer forma, não só pela morte. E que, qualquer que seja o motivo da partida, a gente deve, sim, tentar entender o porquê de termos “falhado” no relacionamento, pra não repetir mais ou pra tentar salvar o que restou, que no caso do filme foram os descendentes.

E mais, adorei  por ter mostrado o valor do perdão, ao longo do filme todo, de vários ângulos – perdão do Matt (Clooney) para com a mulher, para com as filhas, das filhas para com ele, dele para com os sogros, dele para com o amante da mulher, e dele para com o amigo “esquisito” da filha.  Todos os perdões em situações extremamente doloridas e difíceis. E acima de tudo: por ter mostrado o valor do autoperdão. Sem ele, não tem como perdoar o outro e vice-versa.

O filme mostra o tempo todo uma mistura de outros tantos sentimentos humanos tão verdadeiros, como o egoísmo, o orgulho, a cobrança, a avareza, a incerteza, o desleixo, a perseverança, e a vontade de dar a volta por cima e refazer a vida quando não se tem mais como voltar atrás. A gente se enxerga nesses sentimentos, de alguma forma, de qualquer forma.

É... na vida, na maioria das vezes, não tem como a gente voltar atrás, não é mesmo? Mas com diria Chico Xavier, temos chance de fazer um novo começo. Mesmo depois de uma tragédia, onde o coração está em frangalhos e a realidade nos cobra a razão. E o filme mostra isso. É maravilhoso!

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