domingo, 6 de maio de 2012

DEMOROU!


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Volta e meia, nas minhas conversas com os amigos, acabo abrindo minha caderneta de bolsa e anotando frases e expressões idiomáticas, que me chamam atenção pela inventividade e pela criatividade com a nossa língua portuguesa. Inclusive, uma das frases já foi uma postagem deste blog: a vida é muito curta pra ejetar o pendrive com segurança. Há um tempo queria postar mais sobre algumas frases que anotei, e hoje o faço.

Bem... comecei o parágrafo acima com uma expressão - volta e meia - que, já pelo fato de não ter uma explicação ao pé da letra, é idiomática. Dar uma volta e depois meia, pra quê? (hehe)

Boa parte dessas expressões sai da televisão, da música, da internet, de tipos engraçados, ou de personagens que traduzem um pouco (ou muito) o que a gente vive no nosso dia-a-dia. É como se fosse uma resposta coletiva, um chavão, que uma vez dito aqui será entendido em qualquer lugar do país; uma expressão curta que resume uma intenção.

Até hoje uso uma bem antiga: Ninguém merece! Nem me lembro mais sua origem. E gosto muito de uma, que aprendi há anos atrás, com um consultor de sistemas de Blumenau, e que acabo usando bastante também: se jogar nas cordas. Um exemplo de sua utilização: Seja assertivo já no início, porque senão, mais tarde o seu pessoal vai se jogar nas cordas!

De outra consultora, aprendi uma expressão que acho perfeita pra quando a gente precisa dar uma notícia ruim: Sinto muito mas, hoje, serei portadora de pouca luz! Essa mesma consultora usava outra expressão, que é do Luciano Huck, e que confesso que detesto: show de bola. Acho que não gosto, não tanto pelo Luciano, mas pela consultora mesmo, que sempre era mais portadora de pouca luz do que show de bola. (hehe)

Estou caminhando na rua com um amigo, e ele me conta que pintou uma tela, pela primeira vez, e que ficou um filé. Até combinou com o momento, pois acabáramos de sair de um restaurante, onde havíamos almoçado. (hehe)

Estou contando uma história para outro amigo, na realidade contando algo que deu errado, e ao final, para me consolar ele me diz: Pior! (hehe)

Solicito ajuda a um amigo pra vir na minha casa instalar um software, e lhe prometo que faria os sanduíches que fazem parte de uma das receitas deste blog, e que ele mesmo havia comentado sobre a cara boa deles. Assim que fiz o convite, ouço: Demorou! Pena que, realmente, demorou. Não o meu convite, mas o meu amigo mesmo. Ele não pode vir, e eu tive que me virar em instalar sozinha. Ainda bem que nem por isso me sequelei. (hehe)

Estou na sala de aula de um curso, quinta-feira, dia 12, quando o instrutor, limpando o quadro branco, nos diz: A mãe do Jason mandou ele dormir cedo hoje, porque amanhã ele tem que trabalhar.  Foi ótimo, pra uma véspera de sexta-feira 13! Todo mundo olhando pra ele, esperando mais conteúdo do assunto, e vem essa frase. Gosto desse tipo de quebra de seriedade. (hehe)

Estou batendo papo com uma amiga, ela contando do problema da irmã, que leva a vida fora da realidade, e ela me solta essa: Também, ela vive no mundo fantasioso de Barbie! (hehe)

Se você está sem namorado, aproveite o tempo para ficar. O seu ficante pode ser classificado como consumo interno. Uma conhecida reclamou que os tempos andam difíceis: não está conseguindo nem para consumo interno. (hehe)

As Livrarias Curitiba lançaram um concurso de contos, e uma recente amiga, no último dia de inscrição ainda estava em dúvida se mandava ou não o conto que escrevera. Motivo: leu o regulamento e, segundo ela, era tão rígido, como um casamento sem direito a divórcio. Mal eu acabara de rir da frase, ela me solta outra: quase um pacto perpétuo de sangue.

Reunião de amigas, todas arteiras em pintura de tela, o papo sendo os problemas nossos do dia-a-dia, lá pelas tantas a artista plástica do ateliê nos diz: Eu não fico romanceando um sofrimento. Riso geral. Peguei minha caderneta e fui anotar, ao que ela me diz que gosta muito de outra expressão: Por que você não se blinda? Fiquei pensando: puxa, a nossa língua a gente inventa. Até então não havia pensado sobre o uso, nessa forma, do verbo blindar. (hehe)

Até mesmo no centro espírita que frequento saem pérolas. Outro dia marquei o nome que o palestrante deu aos amigos benfeitores que nos acompanham: Engenheiros da Providência. Gostei!

E assim vai. Cada um de nós tem as frases que gosta de usar, expressões que nos diferencia dos demais e que até nos confere identidade. Agora mesmo estou me lembrando que, quando tinha 6 ou 7 anos, uma japonesa vinha vender verduras na porta de casa. Pela dificuldade de falar o português, ao cobrar a sua venda uma de suas palavras nos chamava atenção: "dondinto”. Significava “duzentos”. Eu e minha irmã apelidamos aquela senhora  de “a mulher do dondinto”. Lá vinha ela, e nós gritávamos: “Manhê, a mulher do dondinto está chegando.”  (hehe)

Uma vida inteira vamos inventar e reinventar a nossa língua. Talvez seja uma maneira de lidarmos com sua dificuldade (o português é muito bonito e igualmente difícil), de resumirmos um sentimento, de dizermos alguma coisa quando não sabemos ou não podemos dizer, ou até mesmo de encurtar uma história.

O fato é que tenho certeza que de alguma expressão você deva também ter se lembrado. Se não agora, numa hora oportuna.

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