Exposição "Paulo Leminski", Museu Oscar Niemeyer, Curitiba-PR, junho/2013 |
O que faz um tombo, com direito a pontos na cabeça?
Sempre achei que, em geral, vamos levando a vida como se tivéssemos
um tempão pela frente! Como se
tivéssemos controle sobre o que vamos fazer amanhã, por exemplo, no almoço do
domingo. Como se tivéssemos certeza de que estaremos vivos e que aquela
maionese que gostamos tanto de fazer aos domingos, estará na mesa.
Adiamos tanta coisa em nome de que “- Tem tempo!”. Dizer que gostamos muito do outro, vai ficando pra depois.
Dizer que ficamos magoados ou que estamos muito felizes por estarmos juntos, também
vai ficando pra depois. Vamos economizando nos sentimentos bons, ao passo que
pra gastar tempo com sentimentos ruins, todo tempo é tempo. (hehe)
Vamos deixando, pra uma hora melhor, pra mudar de vida, mesmo
que o aparato todo para a mudança já esteja em nossas mãos: dinheiro,
oportunidade, vitalidade, e tudo o que demanda esforços em qualquer
mudança. Imbuímo-nos de uma certeza de
que haverá amanhã. Talvez seja porque
estejamos bem de saúde, bem de cabeça, bem de grana, ou de bem com a vida. Ou
porque não estamos com nada disso, e achamos que até pra conseguir isso “- Ah! Tem
tempo!”.
Vamos guardando as roupas pra uma ocasião mais chique; vamos
comprando sapato, achando que ainda não temos aquela cor; vamos ajuntando
tralhas que achamos um dia precisar; vamos achando que ainda não temos o
suficiente pra ser feliz.
“- Depois eu vejo isso” é uma frase que todo mundo, todo
mundo, diz, em algum momento. A gente foge das coisas, na nossa vã ilusão de que temos
total controle sobre tudo o que diz respeito ao nosso tempo. Pensamos que somos
donos e senhores dele, mas não é bem assim. (hehe)
Aquelas frases prontas de que “o tempo cura tudo”, ou “o tempo
é o senhor da razão”, ou “eu quero dar um tempo”, são maneiras de não dizer o
que se devia, ou não fazer o que se deveria fazer. A gente deveria assumir a
vida e não deixar ao tempo a incumbência
de assumi-la.
Acidentei-me, na segunda-feira, de manhãzinha, dentro do
apartamento. Bati a cabeça na quina da parede e ganhei dois pontos na fronte. Foi o suficiente pra modificar
os planos e a rotina da semana. Contudo, o acidente me fez pensar pelos
próximos anos.
Por um triz não me mudei para o plano espiritual. É que não era a hora mesmo. Minha avó materna,
se estivesse viva, diria: “Você nasceu de novo”. Minha irmã foi realista e
direta, dois dias depois: “- Nossa! Você poderia ter morrido esvaída em sangue.”
E é verdade! (hehe)
O meu tempo aqui na Terra ainda não findou; o meu anjo da
guarda estava a postos; e aliado a ele,
meu querido amigo Matheus, pôde me levar ao hospital. Não fui eu quem disse: “- Não é a
hora.”! O tempo não é meu. Mesmo eu estando
otimista, tendo estancado o sangue na cabeça, não tinha garantia de que
sobreviveria. Pelo menos até ser atendida.
Se já presto atenção na vida, há uma semana que presto mais
ainda. Revi planos e até me ensimesmei. (hehe).
Ao que de bom eu já
prestava atenção, os meus sentidos dobraram. Se eu prestava atenção às pessoas
que me são caras, redobrei. Se alguns sentimentos ruins que trago comigo, e que
já me incomodavam, agora que quero corrigi-los. Se já não compactuava com tudo
o que é enrolado, agora que não quero me enredar mais. Aquela correria pra
chegar a lugar algum, não quero mais saber. Se eu já valorizava o material que
amealhei com os anos de muito trabalho, vejo que o que tenho já está de bom
tamanho, precisando apenas de manutenção. Se eu valorizava o espiritual que
amealhei, vejo que ainda tem espaço pra mais. Se eu pensava em simplificar
minha vida, como venho tentando simplificar há um bom tempo, agora que quero
simplificar mais.
Quando a gente se dá conta, realmente, de que o tempo que há
pela frente não é mensurável, apenas estimável com as variáveis que temos – a medicina,
a ciência, a qualidade de vida, e de cuca, e que algo inesperado pode de uma
hora pra outra mudar o curso da história, a gente passa a ter a real noção de
que a hora é agora, se a oportunidade e a vida nos apresentar.
E a gente busca tanta garantia nesta vida, tanto “só faço
isso, se aquilo”, e a única garantia mesmo que existe é a morte! Ter a noção de
que, por um triz chegamos perto dela, dá uma chacoalhada e tanto na vida da
gente!
Bem... como diria Paulo Leminski:
“Pelos caminhos que ando
Um dia vai ser
Só não sei quando.”
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