terça-feira, 8 de janeiro de 2013

A PIMENTA DA PACIÊNCIA



Meia-noite.

Desligo o notebook, vou pra a cozinha pegar o iogurte da noite e aproveitar para regar as plantas do parapeito da janela da área de serviço. Hoje, apenas pés de pimenta Dedo-de-Moça. Até ontem havia manjericões. Hoje, espaços aguardando os que estão em um vaso, enfeitando a cozinha, criando raízes. Sim, até os manjericões para serem felizes em um lugar, primeiro precisam criar raízes, feito gente! Aprendi isso, depois de cuidar de quatro gerações de uma muda que ganhei de um amigo, no ano passado.

Paciência é uma virtude que a gente aprende, e de diversas formas. Uma delas, é cultivando plantas, seja um jardim, seja uma horta. Já diz isso o livro do Pe. Fábio de Melo – “Tempo de Esperas”. Não sou fã dele, mas adorei o livro. Como é  bom a gente ler de tudo um pouco! (hehe)

Acho que tenho paciência, às vezes até de mais, embora muitas de menos. (hehe) Mas, no afã de ter uma horta, a qualquer custo, aprendi a esperar as plantinhas crescerem em vasos pequenos, embora desejassem viver em quintais (elas e eu). Já testei cebolinha, salsinha, manjericão, amor-perfeito, hortelã, e colhi sucessos e fracassos. As cebolinhas e salsinhas ficaram “inhas”, de tão fininhas e pequenininhas. O amor-perfeito não amou o local, a hortelã não foi pra frente nem sei porquê, algumas flores adoraram, e outras, como eram de jardins, se recusaram a viver.

Mas os manjericões, por exemplo, foram fiéis ao meu desejo de que durassem até estarem prontos a me fornecer mudas e complementarem molhos, pizzas, pastéis, sopas e tudo o que eu achava que eles dariam um toque e um tom,  e realmente deram. Foram eternos enquanto duraram, e ainda deixaram herdeiros.

Com o sucesso dos manjericões, animei-me a comprar no supermercado um saquinho de sementes de pimenta Dedo-de-Moça. Amo pimenta e molho de pimenta. A minha geladeira pode não ter nada, mas tem pelo menos meia dúzia de molhos, comprados e presenteados por amigos. O saquinho valeu-me três pés, em três vasos diferentes.

Que experiência: o pé que mais cresceu tem um vaso todo para ele. Apenas dividiu um mísero espaço com um pé de cebolinha (isso mesmo: um). O segundo, ocupando um vasinho pequeno, cresce na mesma proporção. Já o terceiro, como dividia espaço com o manjericão, cresceu timidamente e também não deixou crescer o manjericão, como ele gostaria. Ou seja, parece que as pimentas são espaçosas e gostam de viver isoladas (hehe).

Mas voltando ao início desta postagem, que eu conto que fui à cozinha para, também, regar as plantas, qual não foi a minha surpresa ao enxergar, no meio dos galhos, uma pimenta madura, vermelhinha! A minha primeira pimenta! Cultivada pacientemente, cuidadosamente, carinhosamente, amorosa e fielmente! E surpresa maior ainda: a mesma pimenta que resistiu, mesmo estando em um galho quebrado.  Quando ela já estava formada, ao abaixar o varal de roupas, ele enroscou na planta e acabei quebrando justo o galho da pimenta. Só que ainda acreditei nela e resolvi esperar, pacientemente. A natureza é surpreendente mesmo: deu um jeito. Mesmo em um galho quebrado, a pimenta continuou crescendo e amadureceu! O galho acabou se fundindo novamente, e permitiu que ela crescesse. Que bom se a gente fosse também assim: numa adversidade, numa quebra de algum sentimento, a gente ainda tentasse colar os pedacinhos, pra dar chance de amadurecermos, de crescermos. Sempre há uma chance se a gente tem paciência: com a gente e com o outro.

Tirei fotos e fotos da pimenta, de tão feliz que fiquei. Me deu ainda um misto de dúvida do que fazer com ela: deixo, colho, qual prato merece ser presenteado com o seu sabor, como eternizá-la? Mas, como em tudo na vida, a gente tem que curtir o máximo enquanto pode. Não dá para eternizar, a não ser a lembrança, a lição, e a virtude de plantar e esperar, qualquer coisa, desde uma planta até um sentimento.

Há meses vejo o pé crescer, depois florir e brotar a primeira pimenta. Ao longo da espera, nem me dei conta de quantas outras pimentas, verdinhas, estão no pé. E é aí que mora a paciência: de esperar, mesmo não sabendo se vai vingar ou não; mesmo sabendo que embora com rega feita, não há promessa de retorno. Aliás, do que e de quem a gente pode ter garantia de retorno, não é mesmo?

Viver é assim também. Ter paciência de cultivar amizades, empreender um trabalho, esperar um amor, sempre regando e tendo fé que desta vez dará certo. Os meus pés de pimenta me mostraram essa possibilidade no sucesso. Os meus pés de cebolinha me mostraram a possibilidade da paciência mesmo no fracasso. E que com paciência a gente consegue sair de um fracasso e encontrar o sucesso; experimentar um fracasso e não perder a esperança.

Nenhum comentário:

Postar um comentário